Para a UNESCO os oceanos são os maiores aliados contra alterações do clima ‘mas estão em apuros’
“Os oceanos produzem 50% do oxigênio que precisamos, absorvem 30% do CO2 e captam 90% do calor extra. Eles são os ‘pulmões do planeta’ e o maior ‘sumidouro de carbono’, essenciais contra mudanças climáticas. Além disso, estabilizam o clima no planeta. No entanto, enfrentam problemas”, diz Francesca Santoro, da UNESCO. Ela está em Dubai, Emirados Árabes Unidos, na COP28. No Pavilhão do Oceano, Francesca busca destacar novamente os oceanos, tema esquecido na última cúpula em Sharm el-Sheikh, Egito.
Mudar o ‘discurso’ sobre os Oceanos na COP28
Sem pensar em fazer uma comparação, mas apenas demonstrar a comunhão de percepção, saiba que este site nasceu em 2005 com o mesmo objetivo: chamar a atenção da mídia e dos formadores de opinião sobre a zona costeira e os oceanos. Cerca de vinte anos atrás era extremamente raro a grande mídia dar espaço aos oceanos. Eu tinha uma frase feita para abrir as palestras que fazia: “Para dez matérias sobre as questões ambientais na grande mídia, nove são sobre problemas continentais; uma, às vezes, sobre os oceanos.”
De lá para cá, a situação mudou bastante. Hoje, a mídia aborda frequentemente as questões que impactam o ‘maior ecossistema do planeta sem o qual não haveria vida’, outra de minhas frases repetidas em palestras.
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Contudo, a percepção que tenho dos formadores de opinião, ou de nossas elites, é que ainda estão longe de se preocuparem com o que acontece em nossos mares e zona costeira. E penso que ainda levará muito tempo até que acordem.
O cenário ambientalista no Brasil reflete essa negligência. Existem poucas ONGs focadas especificamente na proteção e promoção dos oceanos. Mesmo ONGs renomadas por seus trabalhos em questões terrestres às vezes negligenciam os oceanos. Isso foi discutido no post “Oceanos semi-esquecidos pelo Observatório do Clima“, de maio de 2022.
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A mesma tendência se observa no poder público. Historicamente, há uma omissão em relação ao tema. Por exemplo, até 2016, quando Michel Temer assumiu o governo, cerca de 18% do território brasileiro estava protegido por unidades de conservação (UCs), totalizando aproximadamente 1,6 milhão de km², segundo o WWF. No entanto, na Amazônia Azul, nossa Zona Econômica Exclusiva, apenas 1,5% estava protegido com unidades de conservação. Isso indica uma desproporção significativa na proteção ambiental entre áreas terrestres e marinhas.
Michel Temer, primeiro presidente a olhar para o mar
Globalmente, a situação era semelhante. Devido a mitos como a infinitude dos oceanos, que cobrem 70% da Terra, e o fato de pertencerem a todos os países, os mares foram negligenciados na maioria das vezes. Governos ao redor do mundo criaram várias áreas protegidas nos continentes, enquanto os oceanos eram esquecidos. Essa tendência só começou a mudar nos últimos 20 anos. Por isso, os oceanos às vezes são eclipsados em cúpulas mundiais, o que leva à necessidade de esforços como o de Francesca Santoro da UNESCO em Dubai.
Essa negligência também levou a Assembleia Geral das Nações Unidas a criar, em 2017, a Década das Nações Unidas da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030), conhecida como “a Década dos Oceanos“. Este movimento visa aumentar a consciência e a ação em prol dos oceanos.
O carbono azul no discurso de Francesca Santoro na COP28
Aproveito para destacar outra coincidência. Em setembro de 2023 publicamos o post Manguezais e restingas: uma omissão do MMA, que também ressalta essas qualidades e critica a falta de atenção da política ambiental, especificamente de Marina Silva, para com esses ecossistemas.
Francesca também chama atenção para os “sinais preocupantes” das mudanças climáticas nos oceanos, como a acidificação causada pelo excesso de CO2. “É uma das coisas que está provocando impacto em toda a estrutura dos ecossistemas marinhos”, apontando também o aumento da temperatura da água, particularmente lesiva para os recifes de coral e um dos motivos para o número cada vez maior de espécies invasoras, com impacto na pesca e nas economias locais.
Ao mesmo tempo em que destaca os serviços ecossistêmicos dos oceanos, Francesca comenta sobre a omissão generalizada: “Não é uma preocupação para a população e, normalmente, os políticos ouvem as preocupações da população”, sustentou, apesar de reconhecer que o percurso, nos últimos anos, melhorou.