Países ricos gastam mais com petróleo que energias limpas, alerta a ONU
Matéria do jornal The Guardian, de 11 de junho, pouco antes da reunião do G7 o grupo dos países mais ricos do mundo, trazia um alerta do secretário-geral da ONU, António Guterres: “estamos chegando a um ponto de não retorno, disse ele. Guterres disse estar preocupado com o fato de as nações mais ricas terem injetado bilhões a mais em combustíveis fósseis, petróleo e carvão, do que em energia limpa desde a pandemia.
Países gastam mais com petróleo que energias limpa
Os alertas estão ficando cada dia mais frequentes, e o tempo cada vez mais curto para que consigamos mitigar os efeitos do aquecimento do planeta. Ainda em dezembro de 2020 A ONU pediu que os países declarassem emergência climática e neutralidade, ou descarbonização das economias.
Agora aconteceu nova cobrança. Antes de se encontrar com os líderes das principais potências econômicas mundiais na cúpula do G7 no Reino Unido, António Guterres disse estar preocupado com o fato de as nações mais ricas terem injetado bilhões de dólares a mais em combustíveis fósseis do que em energia limpa desde a pandemia, apesar de suas promessas de uma recuperação verde.
“Estou mais do que desapontado, estou preocupado com as consequências”, disse Guterres ao Guardian na sede da ONU em Nova York. “Precisamos ter certeza de inverter as tendências, não manter as tendências. Agora está claro que estamos chegando a um ponto sem volta.”
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US$ 40 bilhões a mais do que o direcionado para as energias renováveis
Segundo o Guardian, uma análise recente mostrou que os países do G7 – Reino Unido, EUA, Canadá, Itália, França, Alemanha e Japão – comprometeram US$ 189 bilhões para apoiar petróleo, carvão e gás, bem como oferecer linhas de vida financeiras para os setores de aviação e automotivo, desde o surto do coronavirus. Isso representa US$ 40 bilhões a mais do que o direcionado para as energias renováveis.
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Embora os países do G7 tenham concordado em interromper o financiamento internacional do carvão, as nações mais ricas do mundo estão despejando bilhões de dólares no desenvolvimento de gás, outro combustível fóssil, a uma taxa quatro vezes maior do que o financiamento de projetos eólicos ou solares.
Com as economias começando a reabrir, as emissões para o aquecimento do planeta devem saltar para o segundo maior aumento anual da história em 2021, de acordo com a Agência Internacional de Energia. Em maio, por exemplo, foi registrada a maior concentração de dióxido de carbono na atmosfera.
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Tundra do Ártico emite mais carbono do que absorveVanuatu leva falha global em emissões à HaiaCafeína, analgésicos e cocaína no mar de UbatubaGuterres disse que saudou o compromisso do G7, já que “muitos países ainda são viciados em carvão”, mas que muito mais precisava ser feito no que ele chamou de um “ano de sucesso ou fracasso”, que será encerrado por negociações climáticas cruciais da ONU na Escócia em novembro.
Pressionar os países ricos
Uma das principais prioridades do secretário-geral da ONU na cúpula do G7 foi pressionar os líderes sobre a contenciosa questão do financiamento do clima. Como parte do marco do acordo climático de Paris em 2015, os países ricos concordaram em fornecer US$ 100 bilhões por ano aos países em desenvolvimento para ajudá-los a se adaptarem às inundações, secas, ondas de calor e outros impactos da crise climática.
Esse dinheiro nunca foi entregue integralmente, no entanto, e Guterres disse que será “impossível” lidar efetivamente com a crise climática sem assistência aos países mais pobres. Ele disse que o G7 precisará entregar o dinheiro para “reconstruir a confiança” com as nações em desenvolvimento.
Esforços de Joe Biden inúteis até agora
Num ponto, porém, há concordância. Felizmente, a nação mais poderosa do mundo se livrou de um negacionista que fez o mundo perder quatro anos na luta contra o aquecimento. Mais que depressa, Joe Biden reconduziu o país ao Acordo de Paris, e desde então tem procurado liderar a luta para mitigar o aquecimento.
Mas a primeira reunião que ele comandou, convocando 40 líderes mundiais para reverem suas promessas no acordo do clima não deram resultados até o momento.
Ainda nesta semana o embaixador e ex-ministro do Meio Ambiente, Rubens Ricupero, em um webinar promovido pelo Instituto Semeia, foi bastante realista ao lembrar que depois da reunião os compromissos foram quantificados por uma agência da ONU sobre meio ambiente com sede em Nairóbi, Quênia, e atingem quase 4ºC acima dos níveis pré-industriais ‘o que nos levaria a um terreno jamais percorrido na história do planeta’.
Para Rubens Ricupero, mesmo que o aumento de temperatura seja de ‘apenas’ 2ºC, a quantidade de espécies em extinção seria demais, mas se atingirmos 4ºC isso seria ‘um desafio para a manutenção da civilização humana’.
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É este o ponto em que estamos hoje. Como disse o secretário-geral da ONU, um ponto de não retorno. O mais impressionante é que o tema parece que nada tem a ver com o Brasil e sua população. A mídia não abre o espaço que deveria, as redes sociais passam batido, nossos gestores políticos não tomam providências. Até quando vamos ignorar o aquecimento e suas terríveis consequências?
Imagem de abertura: https://www.suno.com.br/
Fonte: https://www.theguardian.com/environment/2021/jun/11/antonio-guterres-interview-climate-crisis-pandemic-g7?fbclid=IwAR18PA-274de3E1qrT9yPFl3BpTRND29qLdCNkGRcD3m9WJEsBJxsLl7dBw.