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Outra vez tempo ruim. 29/1/13.

 

Ontem não tivemos tempo suficiente para levantar o Mar Sem Fim. Mas a equipe de don Francisco deixou tudo pronto para hoje.

Dá um trabalhão danado instalar as enormes boias nas laterais e popa do barco. Se elas não estiverem perfeitamente ajustadas não funcionam, ou sua eficácia é menor.

Don Francisco preferiu colocar cuidadosamente quatro, das cinco boias que serão usadas. Cada uma tem capacidade de levantar dez toneladas. Hoje pela manhã eles põem  a última.

De tarde, depois do almoço, vamos para a primeira, e espero, definitiva tentativa de trazer o barco à tona.

É bom que seja assim porque, entre outros pepinos, está prevista a chegada de outra frente esta noite.

O dia de ontem serviu também para os mergulhadores da Marinha do Brasil acharem um caminho seguro, livre de pedras, para que o barco seja empurrado por botes até a praia.

A rota do Mar Sem Fim foi demarcada com boias, o que vai facilitar quando chegar a hora de encalhar o barco.

Enquanto eles se ocupavam desta faina nossa equipe desceu em terra mais uma vez. Eu tinha marcado uma entrevista com cientistas espanhóis que freqüentam a Antártica há 13 anos, pesquisando os efeitos do aquecimento global sobre as geleiras.

A forma de trabalharem é original: o principal parâmetro que medem é a descarga líquida dos glaciares, em outras palavras, a quantidade de gelo que se funde, em razão do aquecimento, tornando-se água e escorrendo para o mar.

Os pesquisadores têm oito estações de medição espalhadas entre a Antártica e o Ártico. Quatro para cada polo.

E, claro, os resultados não são animadores. Aqui, na Antártica, a quantidade da descarga dobrou nos últimos 13 anos.

Adolfo e Carmenka não desanimam. Com a crise na Europa o governo espanhol cortou os subsídios da pesquisa. Mesmo assim os dois continuam, arcando sozinhos com o custo da operação.

Depois da entrevista atravessamos Rei George, até o lado do Drake, para gravarmos imagens de uma colônia de elefantes marinhos.

No fim do dia, semi-congelados, voltamos para bordo do Felinto Perry.

Acaba de tocar  apito do almoço. Vou parar para comer. Depois vamos todos para a barcaça russa, registrar o momento tão esperado.

12hs4O

Voltei do almoço preocupado. A frente desta noite vem com 6O nós de vento.

Me pergunto em que fase da operação estaremos quando despencar este exagero.

O dia está feio. Cinzento, com chuvas. E gelado.

Mudando de assunto: anda acontecendo uma coisa legal. Alguns parentes de tripulantes do Felinto Perry descobriram o Blog do Mar. Passaram a acompanha-lo à procura de notícias. O pessoal de bordo também consulta o site.

É comum eu receber mensagens da esposa de um Sargento, ou da namorada de um Tenente, desejando sucesso, e mandando votos de uma viagem tranqüila para todos nós. De repente meu site se tornou um espécie de ponte, ou canal, através do qual parentes e amigos matam as saudades do pessoal de bordo.

Às vezes eu topo com um tripulante e ouço coisas do tipo: “senhor João Lara” – aqui é assim: senhor pra cá e pra lá- “ficou bacana fechar o blog de ontem com a bunda do russo!”

O pessoal do navio é de primeira linha: são cordiais e simpáticos ao extremo. Mas existe esta hierarquia, algo  militar, “do senhor”.

Bom, agora me perdoem.

Vou descansar um pouco antes de enfrentar o frio lá de fora, e o banho de mar que levamos nos deslocamentos de bote. Volto com novidades assim que puder.

16hs4O

Acordo assustado. Olho o relógio e percebo que perdi a hora. Saio voando da cama, então, noto don Francisco dormindo tranquilamente.

O tempo fechou. Começou a ventar mais forte, surgiram ondas. A operação foi adiada.

Não teremos controle do barco, cheio d’água, nesta situação.

Vamos, mais uma vez, entrar no estranho por excelência. O ritmo, quem dá agora é o tempo.

É preciso ter paciência e esperar que melhore.

Assim que descer em terra mando fotos.

(foto do destaque:diariodetunbingen.wordpress.com)

 

 

 

 

 

 

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