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ONU pede emergência climática e neutralidade

ONU pede emergência climática em razão do aquecimento

Em dezembro de 2020 aconteceu a Cúpula de Ambição Climática para celebrar os cinco anos do Acordo de Paris promovida pela ONU. O Brasil foi vetado do evento que teve a presença (virtual) de 75 chefes de Estado. Na reunião, o Secretário-Geral da ONU Antonio Guterres pediu a ‘líderes de todo o mundo que declarem emergência climática em seus países até que alcancemos a neutralidade em carbono’. E esta é uma notícia mais que bem-vinda.

O que pode ser mais eloquente que a injusta divisão de renda no século da tecnologia?

Aquecimento global, ONU pede emergência climática em reunião a que o Brasil não foi convidado

O Brasil foi deixado de lado, como um país café com leite, apesar dos esforços de última hora do governo. Melhor assim. Teríamos passado um vexame ao contrariar os participantes.

As metas brasileiras como sempre estão na contramão. Segundo a Folha de S. Paulo, ‘a Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura, movimento formado por mais de 260 representantes do agronegócio, sociedade civil, setor financeiro e academia, disse que o Brasil mudou parâmetros relevantes que levantam dúvidas sobre o seu nível de ambição e capacidade de planejamento.

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o Observatório do Clima considerou a revisão brasileira imoral,  porque oferece um esforço adicional de apenas 6% em relação à meta de cinco anos atrás.

Já a Folha, diz que “A ausência de diálogo no processo de revisão da NDC também preocupa a Coalizão Brasil. A sociedade brasileira foi fundamental para que o país apresentasse uma meta ambiciosa na Conferência do Clima (COP) 21, em 2015, que teve como resultado a assinatura do Acordo de Paris. Na revisão, a tradição de diálogo e escuta com a sociedade não foi respeitada.”

O texto assinado pela coalizão, inclui empresas como Bradesco, Cargill, Natura, Klabin, Natura, Itaú, entre outras.

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Aquecimento global, ONU pede emergência climática e carbono neutro

Até agora 38 países já declararam a emergência climática. ‘Conclamamos todos a fazerem o mesmo’, disse Guterres.

O Secretário-Geral listou os níveis recordes de C02 na atmosfera, e lembrou que o mundo está com a temperatura 1.2ºC mais quente que antes da revolução industrial enquanto a meta acertada no Acordo de Paris é manter o aumento da temperatura o mais próxima possível de 1,5ºC.

Estamos, ainda, longe de alcançá-la. Mas próximos de ultrapassá-la.

Destruição nas Bahamas resultado da passagem do furacão Doria, cada vez mais frequentes e destruidores conforme alertas da ciência. Imagem, ONU/Mark Garten.

Era preciso um chacoalhão. Foi o que fez Guterres que atingiu seu objetivo, a repercussão mundial foi imensa.

Finalmente! Já não era sem tempo. A bem da verdade, Antonio Guterres tem sido insistente com a questão que até bem pouco não era levada a sério como agora parece ser. A pandemia e seu show de horrores teve papel nesta aparente mudança.

A zoonose que matou milhões, e segue firme e forte, também foi consequência de maus tratos ambientais como este site tem lembrado desde o início.

E além disso os efeitos nefastos da covid-19 não pouparam nenhum país a despeito da região geográfica ou condição econômica. Ficou claro que os problemas mundiais só podem ser resolvidos se todos fizerem sua parte.

Não por acaso, menos de um ano depois do início da pandemia, diversos laboratórios mundo afora anunciaram resultados positivos de suas vacinas. Nunca, em tempos recentes, o mundo tinha assistido tamanha mobilização da ciência.

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Momento propício

O momento é propício não só pelas dramáticas consequências sociais, econômicas e de saúde pública como, especialmente, pela saída de cena de um dos mais notórios negacionistas, o populista presidente da maior economia do planeta.

Imagem, valor Econômico.

Com peso descomunal nas emissões, os EUA são o segundo maior emissor, o esforço mundial não teria as condições que agora tem caso persistisse a sabotagem aos esforços da comunidade mundial.

Segundo os analistas, Trump perdeu as eleições em razão do péssimo exemplo que seguidamente deu durante a maior pandemia do século, negando a ciência neste caso; do mesmo modo que a nega no do aquecimento.

Não fosse o erro político, talvez tivéssemos que aturá-lo por mais quatro anos.

Os negacionistas finalmente estão em baixa. Não por acaso, dois dos países que enfrentam os maiores índices de mortes pela covid-19 são, ou foram, chefiados por eles: Donald Trump e Jair Bolsonaro.

Enquanto a Inglaterra inicia a vacinação de sua população, os Estados Unidos enterram cerca de 3 mil cidadãos por dia. Os norte-americanos, em razão do negacionismo do líder que perdeu as eleições, vivem os piores dias em número de casos e de mortes pelo novo coronavírus.

No Brasil, nem é bom falar. Aqui persiste o pandemônio. Ainda não temos um plano oficial de vacinação, segue a politização de um assunto que nada tem a ver com política.

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2021, Coalização Global para a Neutralidade de carbono até 2050

“Pode alguém ainda negar que estamos enfrentando uma dramática emergência”, perguntou Guterres. (Pode. Infelizmente, sim, ainda que hoje seu peso seja menor. Nosso ‘ministro’ é um dos poucos exemplos que ainda resistem negando o aquecimento).

“Se não mudarmos o curso, podemos estar caminhando para um aumento catastrófico de temperatura de mais de 3ºC neste século”, reiterou. “É por isso que hoje peço a líderes de todo o mundo que declarem estado de emergência climática em seus países…Não estamos fadados ao fracasso…temos a oportunidade de colocar as economias na rota verde e em linha com os compromissos da Agenda 2030, dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis.”

Imagem, ONU.

Eis aí a grande oportunidade do Brasil. Já comentamos algumas de nossas vantagens no post Eleições nos Estados Unidos, quando lembramos as decisões da Comunidade Europeia, Japão, Coreia e Estados Unidos de Joe Biden, de alcançarem a neutralidade em 2050. Até a China seguiu o exemplo e prometeu o mesmo para 2060.

Biden declarou que o meio ambiente terá prioridade em seu governo, e que apresentará um plano climático de nada menos que US$ 2 trilhões ao Congresso.

Estes países terão um desafio muito maior que o Brasil, onde matriz energética é a mais  limpa da Terra com cerca de 37% produzida por por  hidrelétricas, biomassa e outras, enquanto no mundo a porcentagem mal chega aos 20%.

E apesar da crise econômica mundial, nunca houve tanta disposição dos agentes econômicos assustados com a crise climática em investirem em práticas de Boa Governança Ambiental Social, ou ESG ou Environmental, Social and Governance.

Aquecimento global, ONU pede emergência climática e avanços da Agenda Verde

Poucos dias antes do anuncio de Guterres este site publicou o post Agenda Verde Avança onde comentávamos a ação de vários países e agentes econômicos que se anteciparam ao pronunciamento do Secretário-Geral da ONU.

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A organização sugere o óbvio, plantar, mitigar a natural a destruição. Imagem, ONU.

Entre as ações, destacamos que vários países vêm anunciando prazos para o fim das vendas de veículos novos movidos a combustível fóssil, e empresas mais focadas em ‘energia limpa’ ganham espaço nas bolsas. Japão, Inglaterra, alguns estados norte-americanos, foram alguns deles.

Mas não é o suficiente. Segundo o pronunciamento de Antonio Guterres, “os membros do G 20 estão gastando 50% mais em seus pacotes de estímulos em setores ligados à produção e consumo de combustíveis fósseis do que em energias de baixo-carbono, isso é inacaceitável.”

Novos empregos podem ser criados

Repete-se lá uma dose de cinismo típica daqui, e o repeteco da fábula do pessimista e do otimista frente a uma taça de vinho pela metade. Para o pessimista a taça está ‘meio vazia’, o otimista a considera ‘meio cheia’.

Acontece que não temos mais tempo para digressões. Há anos os cientistas alertam para o problema. O Ártico derrete ao dobro da taxa média do resto do planeta, e ninguém da ciência foi capaz de contestar esta recente afirmação.

Preservar recifes de corais é outra sugestão. Simplesmente porque é o mais importante berçário. Imagem ONU.

No outro extremo do hemisfério, a Antártica registrou as temperaturas mais quentes já vistas na história, no início deste ano. E mais uma vez, não houve contestação.

Fez bem Guterres em dar um ‘puxão de orelha’ na comunidade mundial. Resta ao Brasil fazer a sua parte e mais que isso, tirar vantagem de uma situação claramente favorável que a dos países que ainda dependem do carvão, entre outras fontes de energia suja.

Energias limpas cada vez mais baratas

Guterres lembrou que as energias limpas estão cada vez mais baratas e que ação para a neutralidade pode gerar milhões de novos empregos enquanto a saúde pública mundial tende a gastar menos pelos inúmeros problemas gerados pela poluição que diminuirão à medida que a neutralidade se aproximar.

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Em junho de 2019 Guterres disse a mesma coisa em outras palavras,  durante a reunião sobre o clima que aconteceu em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, sublinhando que “a mudança climática avança mais rápido do que nós”.

O apelo foi dirigido a todos os líderes, de governos e do setor privado, para que “apresentem planos para reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 45% até 2030”.

Verde. Sempre verde, nem que seja em cima do concreto. É mais uma sugestão da ONU.

Três meses depois, em Biarritz, França, na reunião anual do G7, foi incisivo outra vez: “o mundo está enfrentando uma dramática emergência climática”.

Finalmente, ao que parece seus apelos foram ouvidos. O Brasil tem apenas uma chance, pegar, ou largar. Em outras palavras, se alinhar aos esforços mundiais ou chafurdar e surpreender o mundo mais uma vez.

Assista ao vídeo divulgado pela ONU na ocasião em que pediu emergência  climática

Imagem de abertura: ONU

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