Microplásticos e o consumo humano; saiba como ajudar o Oceano
Nas últimas semanas você foi apresentado aos microplásticos. Entendeu de onde eles vêm e como chegam ao Oceano, e os inúmeros impactos para os organismos marinhos e para nossa saúde. Hoje, queremos apresentar iniciativas nacionais e internacionais de combate a esse tipo de poluição e de que maneira nós, como indivíduos, podemos contribuir para melhorar a saúde do oceano. Microplásticos e o consumo humano; saiba como ajudar o Oceano, artigo de professores da Universidade Federal do Paraná.
O primeiro passo: entender o problema
O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14 da Organização das Nações Unidas requer que a comunidade mundial tome medidas para prevenir e reduzir a poluição marinha de todos os tipos até 2025.
Um dos indicadores para acompanhar seu progresso é a densidade de detritos plásticos flutuantes. Nesse sentido, o conhecimento de fontes potenciais e dos mecanismos de dispersão dos microplásticos nos ambientes costeiros e marinhos é essencial para identificá-los e reduzi-los, além de determinar locais mais suscetíveis a seu acúmulo e onde os esforços precisam se voltar para melhor proteger o oceano desse tipo de poluição.
O Brasil é um dos países da América Latina com mais publicações científicas sobre microplásticos no meio ambiente. A maioria dos trabalhos se concentra nas regiões Nordeste e Sudeste do país, e identificam a presença de microplásticos no litoral brasileiro, desde praias populosas, como Santos (SP) e Baía de Guanabara (RJ), até em locais mais isolados e distantes da costa, como a Ilha de Fernando de Noronha.
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Estamos coletando amostras, identificando e quantificando os microplásticos; também estamos avaliando como as condições meteorológicas influenciam a distribuição e o acúmulo de microplástico nas praias do Paraná. E, ainda, aplicando ferramentas digitais, como modelos numéricos, para calcular a trajetória e a dispersão de microplásticos dentro do Complexo Estuarino de Paranaguá, como você pode conferir.
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As etapas de amostragem: o sedimento (areia das praias) é coletado (a), armazenado (b) e peneirado (c); e são encontrados os microplásticos. Fonte: Os autores.
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A poluição por plástico no oceano e em outros ambientes é uma preocupação crescente, pois ameaça a sustentabilidade do nosso planeta. Hoje, existem diferentes ações para combater esse tipo de poluição; a maioria trabalha com temáticas sobre a reciclagem, reaproveitamento, e ou ações de limpeza de praia.
Entretanto, tais ações visam apenas um espectro de tamanho do lixo plástico – o macro (> 5mm), deixando o combate à poluição por microplásticos ainda em aberto. Mas, não desanimem, o combate é possível e aqui vamos apresentar algumas iniciativas que podem te inspirar.
Iniciativas voltadas à conscientização
As crianças são o futuro da humanidade e nada melhor do que aplicar toda sua criatividade no auxílio ao combate à poluição. O projeto O Mar Começa Aqui é uma iniciativa portuguesa que promove concursos de pinturas de bueiros.
O objetivo é conscientizar as crianças e a população sobre o descarte inadequado de lixo na rua, que acabam nos bueiros. Relembrando a todos que o oceano e o continente estão conectados de forma mais direta do que imaginamos. (Vale lembrar, que os microplásticos também podem ser resultado da fragmentação de macro plásticos).
Microplásticos e o consumo humano: a conexão entre os efluentes urbanos e residenciais
Ainda nessa pegada de conexão entre os efluentes urbanos e residenciais e o oceano, a campanha Beat the Microbeads (Vença as microesferas) foi lançada em 2012, por uma parceria entre a Plastic Soup Foundation e a North Sea Foundation.
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A campanha tem como objetivo o combate das microesferas plásticas presentes em cosméticos e que podem chegar ao oceano por meio das águas residuais.
A ideia é que consumidores informados são consumidores conscientes e podem reduzir o uso de produtos cosméticos que possuem microplásticos em sua composição.
A proposta também pede o fim da produção, venda, consumo e banimento de produtos que contenham as microesferas. Aqui você pode checar alguns desses produtos.
Iniciativas voltadas à redução e remoção dos microplásticos no meio ambiente
Os processos de tratamento de esgoto atuais não são capazes de remover microplásticos das águas residuais. A solução para esse problema pode estar no biofiltro desenvolvido pelo projeto Nygone.
O biofiltro utiliza a bactéria Escherichia coli de duas formas: primeiro para criar um biofilme que aumenta as concentrações da própria bactéria na superfície do filtro, e segundo para secretar uma enzima degradante de Nylon capaz de degradar os microplásticos, evitando que os microplásticos sejam introduzidos no meio ambiente.
Se é difícil para nós enxergarmos as partículas de microplástico, é muito mais difícil para mãos e olhos humanos limpar o ambiente delas. Pensando nisso, foi desenvolvido o Enviro-Buggy, um aspirador motorizado de microplásticos.
Ele surgiu da parceria do Grupo Sea the Bigger Picture com engenheiros, para ser possível coletar os pequenos plásticos em seus eventos de limpeza de praias.
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Ele pode, na verdade, capturar vários tipos e tamanhos de lixo marinho, através de um aspirador, com diversas peneiras que deixam passar a areia de volta para as praias. Além disso, possui painéis solares para alimentar os motores.
Uma possível solução brasileira para a ameaça dos microplásticos nas nossas torneiras
Em busca de uma solução para barrar a contaminação por microplásticos que chega junto com a água nas torneiras das nossas casas, um grupo de estudantes brasileiros do Cefet/RJ (Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro) e da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) criou um filtro capaz de reter os microplásticos e com o custo acessível de US$ 15 (R$ 80) e de US$ 30 (R$ 160).
O grupo ganhou o prêmio Invent for The Planet 2020, ao desenvolver um protótipo do filtro, utilizando composto de óxido de ferro ou magnetita, materiais capazes de atrair os microplásticos.
Microplásticos e o consumo humano: o terceiro passo: Agir!
O conhecimento científico aliado a diferentes iniciativas coletivas de combate à poluição por microplásticos no oceano são importantes, mas a atitude coletiva é um grande campo de ação.
A ação fundamental para o combate efetivo desse problema está em cada um de nós. É necessário diminuirmos nossa contribuição para a produção de microplásticos e sua emissão para o ambiente. Mas como podemos fazer isso?
O consumo consciente e os 5 Rs
Você já deve ter ouvido falar dos 5 Rs – Repensar, Recusar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar, certo? Colocá-los em prática, no nosso dia a dia, é mais fácil do que imaginamos, e o planeta, o oceano e nós mesmos ganhamos muito.
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Microplásticos em cosméticos
Aqui vai uma confissão dos autores: antes de começar a estudar os microplásticos nós não nos preocupávamos com eles no dia a dia. Cada um de nós aplicava os 5 Rs, mas com os esforços voltados para o lixo de tamanho maior.
E tomamos um susto quando olhamos mais de perto para os produtos cosméticos que estavam em uso em nossas casas. Foi um verdadeiro choque, mas o mais importante é que não deixamos isso nos paralisar, resolvemos agir e colocar em prática os 5 Rs, pensando no micro também.
Deixamos de comprar aquela pasta de dente ou aquele esfoliante facial com as tais das microesferas e buscamos produtos alternativos, facilmente encontrados nas estantes do mercado, e que são melhores não apenas para a saúde do oceano, mas para a nossa também.
Nunca é tarde para colocar os 5 Rs em prática e você pode começar pequeno, não precisa fazer tudo de uma vez. Uma dica efetiva de ação ao combate aos microplásticos é iniciar pelo seu banheiro.
Saber quais produtos contêm microplásticos, desde cremes dentais, cremes e sabonetes, entre outros, e repensar o quanto você realmente precisa usá-los. Você pode recusar o uso de produtos que possuem microplásticos ou substituí-los por produtos semelhantes, mas que não contenham essas partículas.
Como reduzir a entrada de microplásticos que são produzidos quando lavamos roupas?
Quando lavamos roupas e materiais que são feitos de tecidos sintéticos (como poliéster, acrílico, náilon etc), microfibras sintéticas se soltam dos tecidos e, por não serem filtradas, acabam nos rios e consequentemente, no oceano.
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A lavagem de roupas é responsável por mais de um terço dos microplásticos que acabam no oceano. Um trabalho recente apontou que a cada quilo de roupa sintética lavada são liberadas entre 124 a 308 mg de microfibras, isso corresponde a um número de microfibras que varia de 640.000 a 1.500.000.
Além da solução ideal, que seria não utilizar mais roupas de tecidos sintéticos, você pode também tomar alguns cuidados ou buscar produtos que ajudam a reduzir a quantidade de microfibras que a sua roupa solta durante a lavagem.
Uso e descarte do lixo de forma consciente
O lixo plástico descartado de forma inadequada nas ruas, esgotos, rios e inclusive aqueles que chegam ao lixão acabam se fracionando, produzindo e liberando microplásticos para o ambiente.
A reutilização de garrafas, potes e outros itens feitos de plásticos podem ajudar a reduzir a quantidade de plástico presente no oceano. Mas se não for possível reutilizar, que tal reciclar? No Brasil, somente 13% dos resíduos urbanos são reciclados, e nós podemos mudar isso.
Separar o lixo orgânico e inorgânico já é um início, verifique se a sua cidade possui coleta seletiva ou busque cooperativas de reciclagem para destinar de forma correta o lixo que é reciclável.
Se você quer fazer ainda mais, o movimento Sou Resíduo Zero traz ideias de como as pessoas podem mudar o modelo atual do fluxo de gerenciamento de resíduos.
Microplásticos e o consumo humano: vamos registrar microplásticos nas praias brasileiras?
Nós queremos saber se você, leitor, encontra ou já encontrou microplásticos na praia que frequenta. Se sim, te convidamos a olhar a areia da praia de perto e fazer um registro fotográfico.
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Basta tirar uma foto dos microplásticos que encontrar, utilizando algum objeto (na própria foto) para marcar o tamanho (vale moeda, caneta, óculos ou chaves, por exemplo), e postar no Instagram ou Facebook com a #microplasticospraiasbrasil, marcando a localização da foto.
Mas antes de correr para praia e fazer o registro, lembre-se de que apesar de o coronavírus não ser transmitido pela água do mar, estamos em pandemia, e é preciso seguir as orientações de segurança para prevenção do Covid-19 como: usar a máscara, realizar o distanciamento social e lavar as mãos constantemente. Ainda preste atenção aos decretos municipais de acesso às praias e orlas, e evite qualquer tipo de aglomeração.
Microplásticos e o consumo humano, os autores
Prof.ª Renata Hanae Nagai: Oceanógrafa, Mestre e Doutora em Oceanografia pela Universidade de São Paulo. Desde 2015 atua como docente do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná, coordenando o Laboratório de Paleoceanografia e Paleoclimatologia.
Mateus Farias Mengatto: Oceanógrafo, Mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Sistemas Costeiros e Oceânicos da UFPR. Investiga fontes, distribuição e comportamento de microplásticos em sedimentos de ambientes costeiros, trabalhando com a modelagem numérica da trajetória de partículas.
Yan Weber Mesquita: Oceanógrafo formado no Centro de Estudos do Mar da UFPR, atualmente é mestrando em Sistemas Costeiros e Oceânicos também da UFPR. Pesquisa como é a distribuição e dinâmica de microplásticos em praias, e como ela pode mudar com a passagem de sistemas atmosféricos.