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Erosão no litoral de Sergipe por construções em dunas e restingas

Erosão no litoral de Sergipe por construções em dunas e restingas

Como todos os 17 Estados costeiros, Sergipe também está passando pelo problema da erosão. Segundo o geocientista e pesquisador do Laboratório Progeologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Júlio César Vieira, ‘Sergipe entrou em um momento de fenômenos de erosão costeira de forma crônica’. Ainda recentemente publicamos matéria mostrando que a Praia do Viral, litoral sul do Estado, está condenada e tende a desaparecer. Agora, a erosão no litoral de Sergipe atinge a Ponta do Saco, às margens do rio Sergipe. E, mesmo com muro de contenção e quebra-mar, muita gente já foi embora.

A erosão costeira provocada pelo ser humano

A ocupação inadequada do litoral, muitas vezes próxima demais ao mar, compromete a faixa de transição entre a areia e o interior, onde dunas e restingas desempenham um papel vital. Essas áreas repõem a areia tragada pelas ressacas e garantem a integridade das praias. Quando o balanço de sedimentos das praias se torna negativo, isto é, quando perdem mais areia do que ganham, a erosão se intensifica, consequência direta das casas-pé-na-areia, um equívoco comum no Brasil. Além disso, a urbanização costeira avança sobre dunas, restingas e mangues, eliminando a mobilidade natural do espaço e agravando ainda mais o problema.

As praias estão em constante movimento, ‘equilíbrio dinâmico’ como chamam os especialistas, devido a fatores como ventos, marés, ondas e chuvas. Quando esse equilíbrio não é perturbado, a areia retirada pelas ressacas é naturalmente reposta pelos ventos e rios, permitindo a regeneração das praias. Dunas e a vegetação de restinga atuam como barreiras naturais, protegendo a linha costeira e mantendo a integridade das praias, enquanto os manguezais reforçam essa defesa contra os impactos ambientais dos eventos extremos, e da subida do nível do mar.

Construímos no litoral onde não deveríamos

Estamos construindo em áreas protegidas do litoral, como dunas, restingas e manguezais, consideradas Áreas de Proteção Permanente por sua importância ambiental. Apesar disso, a fiscalização é praticamente inexistente, e as leis não são cumpridas há décadas. O crescimento desordenado de muitas cidades costeiras avança sobre esses ecossistemas, impulsionado pela ignorância de gestores e a omissão das autoridades. O resultado é alarmante: a erosão já afeta 60% da costa brasileira, como exemplificado na Ponta do Saco, no sul do Estado.

Erosão em Pontal do Saco por ocupação errada

Segundo a Agência Brasil, um estudo do laboratório de Progeologia da Universidade Federal de Sergipe revelou um aumento da erosão costeira na Praia do Saco, localizada no município de Estância, no litoral sul de Sergipe. Segundo o levantamento, as águas do rio Piauí avançaram 130 metros sobre a própria margem nos últimos 10 anos. É o que explica o pesquisador Júlio César Vieira.

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Ponta do Saco, a nova vítima das construções ‘pé na areia’.

A história deste caso prova o que dissemos acima: ‘O levantamento aponta ainda que dos 147 quilômetros do litoral de Sergipe, cerca de 68 apresentam erosão intensa ou moderada. O dano mais recente provocado pelo avanço d’água foi o desmoronamento de uma residência construída na Foz do Rio Piauí. Atualmente, apenas uma estrada de chão batido divide a casa de praia destruída de uma área de preservação permanente. A ocupação imobiliária no local começou há cerca de 50 anos e, com isso, a construção de imóveis ocupou a barra arenosa que separava a Foz do Rio de um manguezal’.

E mostra ainda outro erro corriqueiro, em outras palavras, obras de contenção sem qualquer esteio na ciência, mas ‘ao gosto’ do freguês, o que acirra ainda mais o problema: ‘O uso inadequado de pedras para impedir o avanço do mar na faixa de areia também acelerou o processo de erosão. Isso porque o quebra-mar acaba empurrando a energia das ondas do mar para a foz do rio’.

Os pesquisadores estão realizando ainda a batimetria da foz do rio Piauí. O objetivo é verificar se o quebra-mar também está provocando o aprofundamento do canal do rio. Como explica Júlio César Vieira.

“Se a gente tiver uma situação aqui de canal muito profundo, muito próximo a essas casas, a gente tem uma situação de risco muito grave.”

Será que um dia vamos aprender antes que a especulação imobiliária acabe com tudo?

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