Energia da biomassa, conheça o potencial no Brasil
A energia de biomassa é limpa e renovável. Se você ainda não ouviu falar, prepare-se. Mas, antes, o que é mesmo biomassa? Basicamente é todo recurso renovável oriundo de matéria orgânica, animal ou vegetal, usada como fonte de energia. As vantagens do uso da biomassa são o baixo custo, o reaproveitamento de resíduos que de outra forma seriam descartados, e ser muito menos poluente que os combustíveis fósseis.
Energia da biomassa, conheça o potencial no Brasil
A biomassa já faz bonito no País. É a terceira fonte mais usada depois da hidráulica, e da energia eólica.
Segundo especialistas, a energia da biomassa tem capacidade para suprir quase um terço do consumo de energia no Brasil.
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De acordo com o site canalbioenergia, ‘Com 14,6 mil MW da potência instalada da matriz elétrica do Brasil, a participação da biomassa é pouco mais de 9% do total de 161 mil MW do sistema’.
‘Somente a biomassa de cana-de-açúcar contribui com 11 mil MW. As demais fontes são compostas por insumos florestais, principalmente a lenha de eucalipto, resíduos sólidos urbanos e restos vegetais’.
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Igual a duas usinas de Itaipu
Segundo Zilmar José de Souza, gerente de bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), ‘o potencial técnico da biomassa da cana pode ir além e alcançar quase duas usinas do porte de Itaipu, com geração de 165 TWh até 2024.’
A deficiência: exportação do excedente produzido
Segundo o professor, sócio-fundador e Diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires, a biomassa tem como foco a produção de energia elétrica para autoconsumo, mas a exportação do excedente produzido é dificultada pela ausência de condições que facilitem a conexão dessas usinas à rede para comercializar energia.
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Conheça o novo navio de carga híbridoBrasil pega fogo, espanta o mundo, e Lula confessa: ‘não estamos preparados’Como anda a discussão sobre geoengenharia na mídia do exterior?Adriano Pires falou ao canalbioenergia: “As usinas de açúcar e etanol estão dispersas geograficamente, sendo por vezes distantes de subestações capazes de escoar a energia produzida. Com isto, o aceso à rede acaba constituindo-se em uma barreira para a incorporação de novos empreendimentos de geração movidos a biomassa.”
Dependência da energia hidráulica
Como se pode ver pelo gráfico acima, ainda somos muito dependentes da energia hidráulica. Isso não é nada bom. É preciso dizer que as usinas hidrelétricas são prejudiciais aos rios, e à fauna aquática em geral. Muitas impedem a piracema (subida do peixe, em tupi), por exemplo, quando várias espécies sobem os rios para a desova e alimentação.
Outra situação comum acontece quando o peixe é sugado pelo duto que leva até a turbina de uma usina hidrelétrica, e destrocado pela diferença de pressão.
Matéria da Folha de S. Paulo, ‘Hidrelétricas matam toneladas de peixes e ameaçam espécies nos rios brasileiros’, informa que ‘o biólogo e ecólogo Andrey Leonardo Fagundes de Castro, professor da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ) e um grupo de pesquisadores da UFSJ, do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, e da Universidade Southampton, na Grã-Bretanha, reuniram todas as notificações de cardumes mortos nos últimos dez anos no Brasil em decorrência de operações de usinas hidrelétricas’.
‘Eles compilaram um total de 128 mil quilos de peixes mortos, com ocorrências em praticamente todas as bacias hidrográficas do país’. Mas o número pode ser muito maior já que a ‘amostragem compreende menos de 1% das usinas do país’.
Já um relatório da ONU diz que ‘as barragens construídas para aumentar a potência da energia hidráulica afeta 2/3 dos rios do mundo’. É demais!
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As hidrelétricas da Amazônia ainda produzem ‘feridas’ na floresta, e em seus enormes reservatórios a decomposição da vegetação dá origem a gases como o metano, o gás carbônico, e o óxido nitroso, todos gases de efeito estufa. Sem falar no deslocamento de populações, e outros impactos. Apesar disso, ainda a consideram ‘energia limpa’.
A dependência, e um governo perdido no espaço
A dependência de uma fonte, como é o caso das hidrelétricas, fica ainda mais perigosa quando temos um governo que se nega a governar.
Nega a ciência, nega a pandemia que tratou como ‘gripezinha’, nega o apagão que está em nossas portas devido à seca agravada pelo aquecimento global que, até bem pouco tempo, também era negado até mesmo pelo ‘ministro’ do Meio Ambiente.
Apesar da dramática situação, da possibilidade de apagão, e dos avisos dos meteorologistas de que as perspectivas são pífias para a temporada de chuvas que começa entre o fim de setembro e início de outubro, o governo, que optou pelo conflito, prefere negar as evidências.
Enquanto isso o beócio do Palácio do Planalto declarava que “Tem que todo mundo comprar um fuzil, pô. Povo armado jamais será escravizado.”
O ministro da Economia, o tal posto Ipiranga, teve o desplante de declarar: “Qual o problema agora que a energia vai ficar um pouco mais cara porque choveu menos?”
Este é mais um motivo para…
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Diversificar é a ordem do dia
Com a luta pela mitigação do aquecimento global na pauta mundial, o melhor que o País tem a fazer é diversificar ainda mais sua matriz elétrica.
A energia eólica deve crescer muito depois que for publicado o marco regulatório para exploração offshore, que acontecerá em breve.
E o mar ainda nos dará fontes limpas e renováveis com usinas de ondas e de marés, ainda em estado experimental no Brasil.
A biomassa da cana-de-açúcar
Os especialistas dizem ser esta a mais promissora fonte de energia de biomassa. Inicialmente a biomassa de cana era usada para o atendimento das necessidades da própria usina de açúcar e álcool.
Com a procura da sustentabilidade, e a descarbonização das economias, novas oportunidades surgiram a partir de inovações tecnológicas, como explica Sérgio Alves Torquato, no trabalho publicado pela Embrapa, Potencial da bioeletricidade no Brasil: uso da biomassa de cana-de-açúcar como energia alternativa e complementar.
De acordo com o Balanço Energético Nacional 2019, o País tem uma oferta de energia de 289 milhões de toneladas equivalentes de petróleo – tep, medida que equivale a 7 barris de petróleo, distribuídas em 45,25% de ofertas de renováveis e os 54,8% em não renováveis. Entre as renováveis, a biomassa corresponde a 17,5% da oferta disponível.
Enquanto isso, o Plano Nacional de Energia 2050, que traça estratégias de longo prazo, mostra o enorme potencial da biomassa.
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Para o ano de 2050, a biomassa apresenta um potencial energético de 530 milhões de tep, mais que o dobro do consumo energético total atual, consideradas todas as fontes de energia.
Como se vê, se tivermos um mínimo de direção a transição no Brasil pode gerar muitos novos empregos, e trazer muito investimento de fora. Mas, para isso, é preciso um mandatário que não tenha optado pelo conflito, a paranoia, ou a negação, como é o caso brasileiro.
Imagem de abertura: Google
Fontes: https://www.canalbioenergia.com.br/energia-proveniente-da-biomassa-pode-abastecer-quase-13-do-consumo-no-brasil/; https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/156320/1/2016AA50.pdf; https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2021/04/hidreletricas-matam-toneladas-de-peixes-e-ameacam-especies-nos-rios-brasileiros-aponta-estudo.shtml?fbclid=IwAR3LR3ibfWyo3Mk2V3FfSHBaa3tlV5z2QwVpN1iOujnIWB3wxFpVNk5oR1U.