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Dez lendas do litoral do Brasil; venha conhecê-las

Dez lendas do litoral do Brasil; venha conhecê-las

As lendas são um patrimônio cultural valioso, trazendo benefícios educacionais, culturais e sociais. As lendas, incluindo aquelas do litoral brasileiro, são valiosas por várias razões: Elas refletem a rica tapeçaria cultural do Brasil, ajudando a preservar a identidade regional e nacional. Além disso, muitas lendas contêm lições morais ou educacionais, ensinando sobre respeito à natureza, ética e comportamento social. São histórias que foram transmitidas oralmente ao longo das gerações, sem que se saiba, necessariamente, quem as criou. Contudo, muitas abordam fenômenos da natureza. E, de uma coisa estamos certos, elas fazem parte de nosso patrimônio cultural. Por estes motivos, selecionamos hoje dez lendas do litoral brasileiro.

No Paraná, “Brejo que canta”

A Gazeta do Povo reportou a lenda do “Brejo que Canta”. José Maria Faria de Freitas, do Instituto Histórico Geográfico de Paranaguá, forneceu as informações.

A lenda está ligada ao fandango, uma combinação de dança, música e prosa reconhecida pelo IPHAN como patrimônio imaterial. O fandango é popular nos municípios de Iguape, Cananéia, Guaraqueçaba, Paranaguá e Morretes no litoral de São Paulo e Paraná, além de alguns municípios vizinhos. A lenda surgiu quando um grupo formado por marinheiros e prostitutas resolveu cantar fandango durante a Semana Santa, resultando no desabamento da casa, como um alerta para respeitar o período religioso.

O MITO DO IPUPIARA

Esta história descobrimos no site www.bioicos.org.br, cujo objetivo é analisar os mitos indígenas e sua relação com a biologia. Posto isto, vamos conhecer o mito que é considerado como a primeira lenda do Brasil

O mito do Ipupiara é um dos mais conhecidos, proveniente dos Tupis. Este monstro habitava a cidade de São Vicente, SP, no séc. XVI, e de acordo com os indígenas, ele atacava pessoas e animais, matando-os e levando-os para o fundo do mar. Isto tornava-o conhecido como o demônio colecionador de almas, posto que as almas dessas pessoas ficavam presas nas profundezas do oceano.

Lendas do litoral, o IPUPIARA.

Estudiosos acreditam que o Ipupiara é na verdade um lobo marinho que chegava ao litoral de São Paulo. A aparência do Ipupiara lembra esses animais. Sua descrição o pinta como um monstro de mais de 3,5 metros, com pelos e cerdas no focinho. Lobos-marinhos têm quase 3 metros, corpo adaptado ao mar com nadadeiras e pelos. Eles vão à praia por alimento e podem ser agressivos com humanos, pois não estão acostumados conosco.

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Lenda do Milagre – Ilhabela e  São Sebastião

Recolhemos esta preciosidade do estudo A lenda no litoral paulista, contada por Manuel do Rego Hipolito, e publicado pelo Jornal da USP.

Durante a era dos piratas, a Vila de São Sebastião, rica e próspera, atraiu a cobiça dos piratas. Um deles planejou um ataque, enviando um espião disfarçado de náufrago para colher informações sobre a vila. O espião descobriu quando a vila ficava vulnerável, com apenas idosos, mulheres e crianças presentes.

O espião, tocado pela hospitalidade dos moradores, acabou traído pela própria consciência e denunciou o plano dos piratas. Enquanto os habitantes se organizavam para defender a vila, o velho vigário e os não combatentes oraram na igreja, pedindo um milagre ao Padroeiro São Sebastião.

Durante a oração, um milagre ocorreu: a imagem de São Sebastião desapareceu do altar e, ao mesmo tempo, os piratas, aterrorizados, avistaram um exército fantasma liderado por um jovem general, que não era outro senão o próprio São Sebastião. Os piratas fugiram e, desde então, a procissão de São Sebastião em 20 de janeiro é um momento de emoção e sentimento de proteção divina para os moradores.

O sebastianismo persiste da ilha dos Lençóis, Maranhão

Na minha primeira viagem pela costa brasileira, fiquei surpreso ao descobrir que os moradores da Ilha dos Lençóis, norte do Maranhão, ainda seguem o sebastianismo. Uma crença do século 16 de Portugal, viva no Brasil?

O sebastianismo começou em Portugal no final do século 16. Surgiu como reação ao desaparecimento do rei D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir em 1578, que provocou uma crise de sucessão no país. Como o rei não deixou herdeiros,  a instabilidade abriu espaço para Filipe II de Espanha governar. Dá para entender o sebastianismo em Portugal daquela época.

D. Sebastião. Imagem, Domínio Público.

Contudo, até hoje essa crença persiste na Ilha dos Lençóis, um lugar formado por dunas e lagos. A ilha, conhecida por ter a maior população de albinos do mundo desde um censo de 1970, fica na baía dos Lençóis, parte do arquipélago do Maiaú. Acredita-se que a alta taxa de albinismo se deve a casamentos entre parentes.

Os habitantes acreditam que D. Sebastião, sob um encanto, vive por lá. Contam que em noites de lua cheia, ele se transforma em touro ou cavalo e vagueia pelas dunas.

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Pontal da Cruz, uma paixão entre uma moça de São Sebastião e um caiçara de Ilhabela

Encontramos esta lenda no www.cidadeecultura.com que faz uma bela síntese da importância das lendas: ‘O registro dessas histórias fantásticas é de extrema importância para que não percamos a essência e o espírito caiçara. Em locais isolados e com poucas opções de lazer, a oralidade era um recurso de aproximação social dos moradores. Por meio da arte de transmissão dessas histórias, podemos, hoje, conhecer seus hábitos e crenças’.

Uma moça de São Sebastião se apaixonou por um caiçara de Ilhabela, com encontros diários em um rochedo. Um triângulo amoroso se formou quando outro homem se apaixonou por ela. Consumido por ciúmes e pensando que ela escolhera o outro, o caiçara remou para o mar durante uma tempestade e morreu. Dois dias depois, encontraram seu corpo no rochedo. Abalada, a moça também morreu de desgosto. Ergueram uma cruz no local e dois abricoeiros entrelaçados cresceram, simbolizando seu amor eterno. Anos depois, em 1992, um abricoeiro foi danificado, mas entre 2004 e 2005 plantaram uma nova muda. A lenda sugere que casais que comem as frutas dessas árvores manterão seu amor eterno.

A IA criou esta imagem para ilustrar a lenda.

Jericoacoara, Ceará: Uma cidade encantada e próspera, onde vivia uma bela princesa

A lenda da princesa-cobra de Jericoacoara é outra fascinante história do folclore brasileiro, rica em elementos místicos e simbolismo. Segundo essa lenda, em Jericoacoara, no Ceará, havia uma cidade encantada e próspera, onde vivia uma bela princesa. Por uma maldição ou feitiçaria, a princesa foi transformada em uma criatura híbrida, mantendo a cabeça e os pés de mulher, mas com o corpo de uma cobra e escamas douradas; nós a encontramos no www.todamateria.com.br.

Representação da lenda de Jericoacoara pela Inteligência Artificial.

A lenda conta que quebrar o encantamento e ressuscitar a antiga cidade requer um sacrifício humano, com o sangue de uma pessoa sendo essencial para desfazer o feitiço. Contudo, até hoje ninguém realizou tal sacrifício para salvar a princesa, o que a mantém em sua forma de cobra e deixa a cidade encantada ainda perdida.

Essa lenda abraça temas comuns em várias culturas, como transformações mágicas, sacrifícios e a busca pela redenção ou restauração de um estado anterior de glória. Ela ecoa o tema universal de um paraíso perdido ou uma era de ouro esquecida ou oculta devido a tragédias.

Iemanjá, a Rainha do Mar

Até o insuperável Dorival Caymmi prestou homenagem à Rainha do Mar cuja letra diz: Minha sereia é rainha do mar/O canto dela faz admirar/Minha sereia é a moça bonita/Nas ondas do mar aonde ela habita. Mas, e a lenda?

A lenda de Iemanjá, a Rainha do Mar, é um dos mitos mais ricos e simbólicos do panteão Yorubá, repleto de elementos de magia, amor, desilusão e emancipação. Filha do soberano dos mares, Olokum, Iemanjá recebeu na infância uma poção mágica para protegê-la de perigos. Conhecida por seus seios grandes e fartos, fruto da amamentação de seus dez filhos, Iemanjá sentia vergonha dessa característica.

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Representação de Iemanjá pela IA.

Cansada do casamento com Oduduá, ela decidiu buscar sua própria felicidade, deixando seu marido. Mais tarde, Iemanjá se apaixonou por Okerê, mas viveu uma relação infeliz. Um dia, após Okerê insultar seus seios, Iemanjá, desiludida, fugiu. Para escapar de sua perseguição, ela usou a poção mágica de seu pai e se transformou em um rio que flui para o mar.

Okerê, na tentativa de recuperar Iemanjá, transformou-se em uma montanha para obstruir seu caminho. No entanto, com a ajuda de Xangô, um de seus filhos, que abriu passagem entre os vales criados por Okerê, Iemanjá conseguiu chegar ao mar, onde se tornou a Rainha do Mar.

Segundo Gisela Baracat Vianna, ‘O sincretismo de Iemanjá com Nossa Senhora dos Navegantes teve sua origem no século XVIII. Resultado de um conflito ocorrido pelo choque entre as religiões africanas com o catolicismo europeu já instituído no Brasil’.

Neguinho d’água no Vale do Ribeira

Resgatamos esta lenda do site www.eldorado.sp.gov.br. A água inspira mitos em todas as culturas. No Brasil, europeus, africanos e indígenas combinaram suas crenças e mitos aquáticos, criando uma rica mitologia das águas. Os portugueses, experientes marinheiros, trouxeram lendas de tritões, sereias e criaturas míticas. Pescadores ribeirinhos acreditam que as carrancas protegem contra o caboclo d’água, uma entidade mítica que vive nos rios, especialmente no Ribeira. Essa criatura é descrita como toda preta, com cabeça pelada e mãos e pés de pato, e é conhecida por virar canoas.

No Vale do Ribeira, relatos dos negros d’água têm características similares às de outras regiões do Brasil. Esses mitos, elaborados pelas comunidades negras locais, refletem suas matrizes culturais. O Negro D’água, ou Nego D’água, vive em vários rios, é preto, careca, com mãos e pés de pato, e vira canoas de pescadores que se recusam a dar-lhe um peixe. Em Eldorado, pescadores ainda jogam uma garrafa de cachaça no rio para evitar que suas embarcações sejam viradas por ele.

Lenda caiçara “A noiva do mar”

Encerramos a décima lenda, com informações do site www.baixadadefato.com.br. Silvia Restani contou esta lenda após uma água-viva a queimar em Mongaguá durante sua infância, há muitos anos. Um caiçara sugeriu vinagre para tratar a ferida, dizendo que a “Noiva do Mar” a atacou. A noiva, filha de um mercador náutico português, tinha um casamento marcado com um homem de Mongaguá. Planejaram um grande casamento, mas uma tempestade afundou seu navio na costa brasileira, matando a prometida. Seu noivo, indiferente à morte, comemorou com vinho.

O espírito da noiva, vendo a indiferença, pediu a São Erasmo, o santo dos marinheiros, para se vingar. O santo transformou o vinho em vinagre e a noiva em várias águas-vivas, que atacaram o pretendente, causando graves queimaduras. Apesar de São Erasmo pedir que ela parasse, a noiva continuou até matar o futuro cônjuge. Como punição, o santo a deixou na forma de água-viva para sempre.

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O caiçara explicou que o vinagre lembra a Noiva do Mar de sua vingança, fazendo com que o veneno perca o efeito. O vinagre curou a menina, pois neutraliza a substância alcalina da água-viva. Silvia Restani nunca soube que espécie de água-viva a queimou, mas a lesão demorou a cicatrizar e deixou marcas na pele.

Recomendação médica para casos de queimadura por água-viva

Antes de encerrar, saiba que o site saude.rs.gov.br aconselha: Em caso de queimaduras por águas-vivas, o melhor remédio é o vinagre. Jamais utilize água da torneira ou mineral no local, é o que alerta a bióloga do Centro de Informação Toxicológica (CIT), Kátia Moura. Ela explica que, para limpar a ferida, usa-se a própria água do mar e, para aliviar a dor, o vinagre.

E se você conhece outras lendas sobre o mar ou o litoral do Brasil, mande pra gente. Quem sabe podemos fazer uma continuação deste post só com lendas sugeridas.

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