Devemos, ou não, explorar petróleo na Margem Equatorial?
Conforme nos aproximamos de novembro a grande mídia abre cada vez mais espaço para a COP30, em Belém. Enquanto isso, o público interessado acompanha os passos da Petrobras e do Ibama na polêmica sobre a Margem Equatorial. A extração de petróleo é um dos temas quentes do momento. Por outro lado, o debate sobre até quando vamos queimar petróleo como principal fonte de energia recebe menos atenção. A transição é uma obra gigantesca. Não acontece do dia para a noite. Ainda vamos conviver algum tempo com os combustíveis fósseis, mas até quando? Para entender melhor esse cenário, o Mar Sem Fim fez uma curadoria na rede mundial. Fomos atrás da resposta. E você, o que acha: devemos, ou não, explorar petróleo na margem Equatorial?

Reservas de petróleo no mundo chegam até 2063
Segundo o WorldOmeter, em 2016 havia 1,65 trilhão de barris de reservas comprovadas de petróleo no mundo, ou 46,6 vezes os seus níveis de consumo anual. Isso significa que teremos cerca de 47 anos de óleo restantes (em níveis atuais de consumo e excluindo reservas não comprovadas). Ou, em outras palavras, sem novas descobertas – que já aconteceram aqui mesmo no Brasil -, não faltaria petróleo até 2063.
Demanda deve crescer na década de 2030?
‘Embora alguns analistas proeminentes tenham previsto que a demanda por petróleo atingirá o pico até 2030, nós, pesquisadores da Goldman Sachs Research, esperamos que o uso do petróleo aumente até 2034′.
‘As vendas fracas de veículos elétricos e o aumento da renda em todo o mundo estão aumentando a demanda por fontes de energia, que será atendida principalmente por mais combustíveis fósseis’.
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Perspectiva Global de Energia, 2024
Para a Mckinsey ‘o aumento da demanda de energia e o papel contínuo dos combustíveis fósseis no sistema de energia significam que as emissões podem continuar aumentando até 2025-35. As emissões globais de CO2 dos processos de combustão e industrial devem aumentar até 2025 em todos os nossos cenários de baixo para cima. Os cenários começam a divergir em 2030, com todos mostrando um declínio até 2050. Apesar disso, as emissões de 2050 ainda estão significativamente acima das metas líquidas zero em todos os cenários’.
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‘Projeta-se que combustíveis fósseis, incluindo petróleo, gás natural e carvão, continuam a desempenhar um papel, embora moderado, no sistema energético global até 2050, atendendo entre 40 e 60% da demanda global de energia em 2050, dependendo do cenário, abaixo dos 78% em 2023.
“Vamos perfurar, baby, perfurar”
O problema de muitas previsões sobre o fim da era do petróleo é que não consideraram o fator Trump. A maioria foi feita antes de sua eleição.
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Tratados climáticos, energia eólica e carros elétricos não entram nessa agenda. Trump assinou ordens para abandonar ou bloquear tudo isso.
Estados Unidos quebram recorde de produção
Dados divulgados pela Administração de Informações sobre Energia (EIA) mostram que os EUA voltaram a quebrar seu recorde de produção com a marca de 13,46 milhões de barris por dia em outubro de 2024. Com esse resultado, o país mais que dobrou sua produção de petróleo em 20 anos.
‘Demanda global por petróleo crescerá em seu ritmo mais lento em cinco anos em 2025
Análise mais recente da Agência Internacional de Energia (EIA), publicada depois das tarifas de Trump, indica que ‘o aumento da produção nos EUA também diminuirá, devido às tarifas impostas por Trump aos parceiros comerciais e às medidas retaliatórias desses países’, revela a Reuters.
‘As tarifas impostas por Trump, juntamente com o aumento da oferta pelos produtores da OPEP+, provocaram uma queda acentuada nos preços do petróleo neste mês, reduzindo a receita dos produtores. A indústria petrolífera dos EUA, apesar dos apelos de Trump para “perfurar, perfurar”, pode na verdade desacelerar suas atividades, disse a AIE’.
‘Demanda mundial por petróleo em 2025 aumentará em 730.000 barris por dia’
Entretanto, através de um relatório mensal divulgado em 12 de agosto a EIA revelou que a demanda mundial por petróleo neste ano aumentará em 730.000 barris por dia, uma redução acentuada em relação aos 1,03 milhão de bpd previstos no mês passado.
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Um crescimento de 730.000 bpd seria o menor desde 2020, quando a demanda se contraiu devido à pandemia da COVID-19. Excluindo a pandemia, seria o menor desde 2019, quando o crescimento foi de 540.000 bpd, disse a IEA em resposta a uma pergunta da Reuters.
“A queda significativa nos preços do petróleo abalou o setor de xisto dos EUA”, disse a IEA. “Novas tarifas também podem tornar mais caro a compra de aço e equipamentos, desestimulando ainda mais a perfuração.”
Por fim, a matéria mostra que estamos num impasse sobre as previsões do futuro da exploração de petróleo. Para a IEA, a exploração diminui nos EUA mas segue crescendo no mundo embora em menor escala e, possivelmente, atingindo o pico até 2030; mas não há previsões de que a OPEP+ explore menos petróleo até 2050.
‘A visão da OPEP sobre a demanda por petróleo está na faixa mais alta das previsões do setor e espera que o uso de petróleo continue aumentando por anos, ao contrário da IEA, que vê a demanda atingindo seu pico nesta década, à medida que o mundo muda para combustíveis mais limpos’.
E, então, exploramos ou não a Margem Equatorial?
Este post traz mais alguns números importantes. O objetivo é ajudar o cidadão comum a formar opinião sobre a exploração de petróleo na Margem Equatorial. Do ponto de vista ambiental, o ideal seria zerar as emissões o quanto antes. Mas isso não vai acontecer. Os dados variam nos detalhes, mas há consenso no geral: o petróleo continuará valendo muito até pelo menos 2050 — talvez por várias décadas além disso.
Entre os dez maiores produtores de petróleo, só um deve reduzir a produção: eventualmente, os Estados Unidos. Os demais continuarão a abastecer o mercado até 2050 ou além disso. As emissões devem cair, mas não o suficiente para manter a meta do Acordo de Paris. O limite de 1,5 °C até o fim do século não será alcançado nesse ritmo. Em outras palavras, o aquecimento global deve continuar sem freios. E isso acontecerá independentemente da decisão do Brasil.
Os ganhos, as perdas, e o histórico da Petrobras
A exploração de petróleo na Margem Equatorial tem potencial para agregar 1,1 milhão de barris por dia (bpd) na curva de produção nacional a partir de 2029. Esse volume seria o equivalente a 1/3 da produção atual total do país, segundo análise do CBIE, Centro Brasileiro de Infraestrutura .
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E, de acordo com a CNN, o secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, Pietro Mendes, apresentou um estudo que prevê a geração de US$ 56 bilhões em investimentos, uma arrecadação governamental de US$ 200 bilhões e mais de 300 mil empregos com a liberação da exploração na Margem Equatorial brasileira.
No Brasil oficial a política energética é de responsabilidade do CNPE, que é composto pelos ministros de Minas e Energia, Meio Ambiente, Fazenda e Planejamento, entre outros. Por outro lado, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, diz com razão que ‘sem exploração não há futuro para a petroleira’.
Os acidentes, a distância da costa, e os valores em jogo
O Mar Sem fim já emitiu opinião favorável à exploração do petróleo pela Petrobras porque, mesmo que aconteça um acidente, fato raro mas possível – a Petrobras já explorou quase 3.000 poços sem acidentes graves -, o óleo jamais atingirá a nossa costa em razão da distância do local onde será perfurado e em ‘plena avenida’ da Corrente Norte do Brasil. Esta corrente transporta águas tropicais do hemisfério sul para o hemisfério norte, atravessando o Equador.
Nós entrevistamos dois oceanógrafos que confirmaram a mesma opinião: se por acaso houver vazamento, ele não atingirá a costa brasileira. Por isso, e por saber que com ou sem o Brasil o petróleo continuará valendo muito e sendo comercializado da mesma forma, é que somos favoráveis. Um País com as carências sociais que tem o nosso, e com uma das piores divisões de renda do planeta, não pode abrir mão de R$ 270 bilhões de reais só em impostos, federais, estaduais ou municipais. Foi este o valor que a companhia pagou a suas acionistas em 2024.
O maior problema segue sendo a polarização
Para este site, o maior problema segue sendo a polarização. Essa divisão extrema entre brasileiros apenas atrapalha, prejudica o país. Enquanto isso, poucos veículos da imprensa ou perfis nas redes sociais mencionam a importância da Corrente Norte do Brasil.
Questionada pelo Valor sobre possíveis acidentes envolvendo a Petrobras Magda Chambriard, a presidente, se diz “confortável” com o que considera ser “o maior plano de emergência individual já visto” para exploração de petróleo em águas profundas e ultraprofundas.
A presidente da Petrobras se ressente da desinformação e relembra: A área onde pretendemos perfurar fica a 540 quilômetros da Ilha de Marajó, que fica na foz do Rio Amazonas. Isso é o dobro da distância do pré-sal até a Praia de Copacabana. E se confiamos na Petrobras para perfurar no pré-sal, em frente a Angra dos Reis e à Praia de Copacabana, por que não confiar nela para perfurar no Amapá?
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Ainda deve ser levado em conta que ‘o petróleo é atualmente a principal exportação do Brasil. Em 2024, pagamos R$ 270 bilhões em impostos, sejam federais, estaduais ou municipais’, relembra Magda Chambriard.
Para saber mais assista ao vídeo
Imagem abertura: EBC – @Cezar Fernandes
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