Esta manhã o “plano B”, ou o ás de copas, que comandante tirou da manga ontem foi posto em prática. E deu certo.
Todas as faixas já estão instaladas, desta vez pelas vigias, em vez de passadas por baixo do casco como previa o plano inicial.
O dia amanheceu lindo: sol, céu azul, e sem vento. Prenúncio de que as coisas iriam correr bem. É fundamental ter tempo bom para os mergulhos renderem o máximo.
Antes das dez da manhã já estávamos na barcaça russa.
A faixa da proa, que atravessa a cabine dos marinheiros, foi fácil de colocar. Mas, quando tentaram entrar em minha cabine, para abrirem as vigias centrais, houve dificuldades. A porta estava emperrada. Foram vários mergulhos, e diversas tentativas, até que por fim conseguiram.
À medida que entravam nas dependências internas do barco vários objetos vieram à tona. Um pé de tênis, tubos plásticos de detergentes, destes usados na cozinha, pedaços de isopor, etc.
Como a barreira de contenção de petróleo está instalada, nenhum deles saiu para mar aberto. Ficaram retidos, e recolhidos ao final.
A água é tão clara que, mesmo de cima da barcaça, é possível ver os contornos do Mar Sem Fim.
Durante o tempo destes mergulhos um Hercules da FAB simulava pousos na pista de Rei George. O avião veio ontem, de Punta Arenas, trazendo uma nova equipe de marinheiros para o Ary Rongel. Hoje fez treinamento de pilotos enquanto aconteciam os mergulhos da manhã.
Às 13 horas voltamos ao Felinto Perry para almoçar. No momento, 14hs2O, don Francisco descansa deitado na cama ao meu lado.
A faina é pesada até para os marinheiros do Felinto Perry. Imaginem para ele, que tem 79 anos…
Neste momento os mergulhadores também estão descansando em suas cabines.
Daqui a pouco, por volta das 15 horas, saímos para os mergulhos da tarde. O plano é colocar barras de ferro, nos dois lados do Mar Sem Fim, atadas às extremidades das faixas. Em seguida colocam as bóias, presas nas barras. E deixam tudo pronto para amanhã fazermos a primeira tentativa de inflar e trazer o Mar Sem Fim à tona.
Aproveito para contar outra tradição da Marinha do Brasil. De acordo com o Comandante Luiz Felipe, depois de um navio ser oficialmente batizado, sua primeira tripulação costuma colocar um apelido no barco. Assim, o Ary Rongel é conhecido como “O Gigante Vermelho”. O Comandante Maximiano, como “ Tio Max”.
E o Felinto Perry é o “Ás de Copas”.
17hs45
Escrevo depois da reunião que aconteceu em terra entre o Comandante Luiz Felipe, don Francisco Ayarza, eu, e o chefe da base russa, Oleg. Viemos decidir onde encalhar o Mar Sem Fim, amanhã, tão logo ele venha à tona.
A ideia é “docá-lo” na praia e, em seguida, iniciar o processo de retirar toda água de dentro usando bombas especiais.
Em seguida o Marzão será preparado para o reboque.
Por fim, dentro de uma semana, talvez, o rebocador estará aqui, em Rei George, para levá-lo de volta até Punta Arenas.
Como hoje é sábado, dia de descanso, os russos faziam um churrasco na praia com muita vodka e vinho.
O “antártico”, língua franca daqui, correu solto. Nos entendemos perfeitamente bem.
Meu amigo Ruslan fez questão de me dar um pedaço de carne, e alguns tragos de vodka. Não adiantou eu dizer que acabara de almoçar a bordo do Felinto Perry. Ele simplesmente fez questão que eu aceitasse.
Ruslan insistiu que eu nadasse com ele. Não acreditei. Nadar aqui??? Esta é uma tradição russa, explicou. Com jeito, agradeci o convite, mas declinei. Tenho horror a água fria. Não daria certo.
Ao nos despedirmos ele tirou a roupa e, junto com uma das pesquisadoras russas- de biquíni- correu em direção a água e se atirou ao mar.
Amanha, se tudo der certo, o Marzão vem à tona.
Peço a sua torcida.
PS
Vi agora – domingo,O9hs43- dezenas de correios desejando sucesso, mandando boas energias, torcendo. Obrigado, pessoal, de coração, agradeço. Infelizmente não dá pra responder cada um. Levaria horas. Assim que voltarmos para Punta Arenas – ainda não se sabe quando- responderei todas com prazer. Beijos e abraços.