Desmatamento e consequências, Brasil é o quinto país em emissões em 2019
A conta pode demorar mas ela chega, é questão de tempo. As emissões do País em 2019 registraram o maior aumento desde 2003, revelou o Observatório do Clima em relatório publicado em novembro. Como as queimadas foram muito maiores em 2020 mesmo com a economia mundial semi-paralisada e, em consequência, as emissões mundiais diminuindo, o Brasil deve aumentar as suas emissões também neste ano. Desmatamento e consequências, Brasil é o quinto em emissões.
Desmatamento e consequências, Brasil emite quase 10% a mais em 2019
Até 2018, pela ordem, a lista dos cinco maiores emissores era encabeçada pela China, depois Estados Unidos, Índia, Rússia e Japão. Mas o ranking mudou.
Segundo o Observatório do Clima, “as emissões brasileiras de gases de efeito estufa subiram 9,6% em 2019, o primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro. O dado é do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa).”
2019 versus 2018 no Brasil
Em 2019 “o país lançou na atmosfera 2,17 bilhões de toneladas brutas de dióxido de carbono equivalente (tCO2e), contra 1,98 bilhão em 2018.”
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O aumento das emissões em 2019 já era esperado. Faltava apenas a consolidação que aconteceu agora. A preocupação é com os dados de 2020, o ano em que a pandemia fez a economia mundial parar.
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Mesmo assim, no Brasil as emissões vão aumentar pelo simples fato que o desmatamento também aumentou. Como sugeriu o relatório do OC, “as emissões no Brasil, diferentemente das da maioria das outras grandes economias, estão descoladas da geração de riqueza.”
Para 2020 o Observatório do Clima prevê um aumento de cerca de 20% sobre os dados de 2019.”A depender do que acontecer com o desmatamento da Amazônia, as emissões em 2020 podem ser da ordem de 2,1 bilhão a 2,3 bilhões de toneladas brutas.”
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Desmatamento e consequências: dados ruins para a comunidade internacional
Este será mais um motivo para o Brasil ser pressionado no momento em que Joe Biden venceu as eleições norte-americanas prometendo, em suas primeiras medidas após assumir, trazer de volta o país do Tio Sam para o Acordo de Paris.
O tratado balançava desde que Trump foi eleito e retirou o país do acordo. Mas a pandemia trouxe em seu bojo este lado positivo. A sustentabilidade deixou de ser apenas um conceito, e as maiores economias mundiais reagiram ainda enquanto limpavam as feridas da covid-19.
De acordo com a CNN, “A política climática do presidente eleito inclui um investimento de US$ 1,7 trilhão em energia limpa e empregos verdes, e pede o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis e a proibição de novas licenças de petróleo e gás em terras públicas.”
Reação da União Europeia e Japão
Como comentamos recentemente, a União Europeia lançou a meta para a Europa se tornar o primeiro continente neutro em termos de carbono até 2050, com o chamado Green New Deal, ou Pacto Verde. Pouco depois, o Japão também anunciou seu plano para ser neutro em carbono até 2050.
Reação da China ainda antes da pandemia
Até a China reagiu. Ainda antes da pandemia, e depois de muitos maus tratos ambientais, o plano quinquenal lançado pelo país para 2016-2020 foi totalmente voltado para a questão ambiental.
Isso, longe de ser ruim, é bom para o Brasil. Temos a matriz energética mais limpa do mundo. Para atingirmos nossas metas basta frear o desmatamento. A despeito disso, e mesmo com forte reação interna, não havia no horizonte uma mudança do atual governo. Agora, ou o Brasil muda sua política ambiental ou ficará isolado no concerto das nações.
Mangues e restingas também ganham
Em 28 de setembro o conselho do Conama, hoje nas mãos do governo, aprovou a extinção de duas resoluções que criaram as áreas de proteção permanente (APPs) de manguezais e de restingas.
A sua proteção também ganha com as informações agora divulgadas. Recentemente publicamos o post Carbono azul, manguezais, e as mudanças do clima, onde mostrávamos o reconhecimento dos manguezais mundo afora como um dos mais importantes sumidouros de carbono da atmosfera.
Embora atualmente estes ecossistemas cubram menos de 2% da área total do oceano, eles respondem por quase 50% do carbono total armazenado nos sedimentos oceânicos.
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O caso dos mangues e restingas hoje está no STF, à espera de uma decisão do plenário. E os dados das emissões brasileiras reforçarão a sua importância. Se antes deles a tendência era de vitória no STF, agora é quase uma certeza que os mangues voltarão a ter sua proteção garantida.
Para além disso, a política ambiental atual também terá que ser revista. Para aqueles que acreditam que a proteção ambiental não é impeditivo ao progresso, esta é uma boa notícia.
Imagem de abertura: Victor Moriyama / AFP-Getty Images
Fontes: http://www.observatoriodoclima.eco.br/emissoes-brasil-sobem-10-no-1o-ano-de-bolsonaro/; http://www.observatoriodoclima.eco.br/wp-content/uploads/2020/11/OC_RelatorioSEEG2020_final.pdf; https://www.ucsusa.org/resources/each-countrys-share-co2-emissions; https://edition.cnn.com/2020/11/09/politics/biden-climate-plan-election-intl-hnk/index.html?fbclid=IwAR0hGCP4r2u2_70KSoKMFRmaGnBejZUjkFppT8O_GgWTLIcEeCeBLzOD-JA.