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Canoa indígena dos séculos 13 e 14 é a mais antiga do Brasil

Canoa indígena feita entre 1290 e 1320  é a mais antiga do Brasil

Este escriba é  um apaixonado pelas embarcações tradicionais brasileiras. Publiquei um livro sobre elas e sempre divulgo o tema neste site. O IPHAN reconhece essas embarcações como bens do patrimônio cultural. Mesmo assim, poucos no Brasil as conhecem ou valorizam apesar de que, no exterior, fóruns especializados as admiram. Sem querer, encontrei uma notícia importante do final dos anos 90. Ela merece mais divulgação. Por isso escrevi este post. Em 1997,  Pedro Luiz da Silva saiu para pescar na Lagoa de Extremoz, no Rio Grande do Norte, como sempre fazia. Sem saber, descobriu um dos artefatos náuticos mais antigos das Américas. Batizaram a canoa indígena de Extremoz 04 e a dataram, por Carbono 14, entre 1290 e 1320. É a embarcação mais antiga já encontrada no Brasil. Suas características mostram que servia para levar poucas pessoas e carga leve em águas calmas.

A canoa Extremoz 04

Só mesmo em um País que mal conhece suas virtudes culturais para uma notícia destas estar perdida, quase sem destaque, na internet. Tudo começou quando o pescador Pedro Luiz da Silva iniciava mais um dia de trabalho na Lagoa Extremoz, que fica no município de mesmo nome, no Rio Grande do Norte. Naquele ano, devido a uma forte seca, as águas da lagoa estavam mais baixas que de costume. Isso permitiu que Pedro Luiz ficasse intrigado com um estranho objeto de madeira, semienterrado.

O arqueólogo Moysés M. de Siqueira Neto conta que, curioso, ‘Pedro Luiz chamou o filho para ajudá-lo a desenterrar e retirar o objeto com a ajuda de um barco maior. O objeto identificado como “canoa indígena” ganhou fama na localidade e chegou até a ser furtada e devolvida após queixa à polícia feita pelo pescador’.

‘A notícia da canoa, bem conhecida como canoa-de-um-pau-só ou canoa de índio, correu solta até encontrar Oscar Nascimento, assistente do Museu Câmara Cascudo da UFRN. Ele avisou sua equipe de trabalho, coordenada por Vicente Tassone. A imagem abaixo registra o momento do encontro em dezembro de 1997, acompanhado de perto pela comunidade, quando o arqueólogo ressaltou para imprensa a importância do achado que, correlacionado com cerâmicas tupinambás datadas, poderia ter com cerca 700 anos’.

A canoa indígena Extremoz 04.

Outras canoas encontradas pelo pescador Pedro Luiz da Silva

Pedro Luiz da Silva merecia ser muito mais conhecido, ele não só encontrou a canoa mais antiga do Brasil, mas outras duas em 2013, uma delas ainda presa a uma corrente. A  maior  mede mais de dois metros de comprimento.

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Segundo o trabalho Canoas Monóxilas da Lagoa de Extremoz, de Marcelo Lins e Carlos Rios, pesquisadores retiraram as canoas do fundo lamoso da lagoa e as levaram para a Fundação de Cultura Aldeia do Guajiru.

Como definição canoa monóxila é uma embarcação tradicional feita com um único tronco de árvore, escavado e esculpido, até tomar a forma de um barco, com capacidade de flutuar e se deslocar.

As outras canoas descobertas na Lagoa de Extremoz, segundo as datações obtidas pelo método C14, são do período colonial. Extremoz 01 idade calibrada 1645-1665; Extremoz 02 idade calibrada 1665-1685 e 1730-1805 DC.

Cano indígena Extremoz 01, em destaque, no jardim da Fundação Guajirú, município de Extremoz, RN.

O comprimento do casco da Extremoz 01, da proa à popa, é de 5,41 m, próximo ao tamanho da canoa pré-histórica Extremoz 04, com seus 5,36 m.

Duas canoas apodreceram e a mais importante foi para um museu

Apesar da importância destas duas canoas elas acabaram se desintegrando por ficarem constantemente ao ar livre, por anos seguidos, como consta na imagem, o que mostra uma vez mais o descaso com que são tratados certos bens culturais.

Segundo Moysés M. de Siqueira Neto, ‘o Museu Câmara Cascudo ficou com a canoa Extremoz 04, e o pescador com uma promessa (não paga) de ganhar uma placa com seu nome. Em dezembro de 1997, o jornal Diário de Natal registrou o momento da chegada da canoa no museu e a mensagem de que Pedro Silva ficou “tranquilo com o destino dado à embarcação indígena encontrada por ele em meio à lama da Lagoa de Extremoz’.

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