‘Bombas de carbono’ podem acirrar o aquecimento
O jornal que mais espaço dedica ao aquecimento global, The Guardian, publicou matéria de autoria de Damian Carrington e Matthew Taylor. São revelações aterradoras. O Mar Sem Fim fez um resumo. Para começar, o termo ‘bomba de carbono, amplamente utilizado nos círculos climáticos na última década, é usado para descrever grandes projetos de combustíveis fósseis ou outras grandes fontes de carbono. Para não aborrecer, não usaremos aspas. Abaixo, trechos da matéria ”Bombas de carbono’ podem acirrar o aquecimento’.
As ‘Bombas de carbono’ podem acirrar o aquecimento
Para começar, os planos de expansão de curto prazo da indústria de combustíveis fósseis envolvem o início de projetos de petróleo e gás que produzirão gases de efeito estufa equivalentes a uma década de emissões de CO 2 da China, o maior emissor mundial.
Antes de tudo, os planos incluem 195 bombas de carbono, projetos gigantescos de petróleo e gás. Se forem em frente, resultariam cada um em pelo menos um bilhão de toneladas de emissões de CO 2 ao longo de suas vidas, no total equivalente a cerca de 18 anos das atuais emissões globais de CO 2 . Cerca de 60% destes já começaram a ‘bombear’.
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De antemão, as doze maiores companhias de petróleo estão a caminho de gastar US$ 103 milhões por dia pelo resto da década explorando novos campos de petróleo e gás, contudo, elas não deveriam seguir se o aquecimento for limitado a menos de 2°C.
Atualmente, o Oriente Médio e Rússia costumam atrair mais atenção em relação à produção futura de petróleo e gás, mas, EUA, Canadá e Austrália estão entre os países com os maiores planos de expansão, consequentemente, o maior número de bombas de carbono. Analogamente, os EUA, Canadá e Austrália também dão alguns dos maiores subsídios para combustíveis fósseis per capita.
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Mas, não houve menção a petróleo e gás no acordo final da Cop26, apesar da responsabilidade por quase 60% das emissões.
EUA dominam a diplomacia climática internacional
Além disso, muitos dos países ricos, como os EUA que, consequentemente, dominam a diplomacia climática internacional e atuam como líderes climáticos na conferência são, frequentemente, grandes atores dos novos projetos.
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Aquecimento atual significa ‘código vermelho para a humanidade’
Enquanto isso, em agosto, Guterres (secretário-geral da ONU) reagiu fortemente a um relatório contundente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, a maior autoridade mundial nesta ciência. Acima de tudo, “[Este relatório] é um código vermelho para a humanidade”.
Já, o IPCC afirma que as emissões de carbono devem cair pela metade até 2030 para, assim, preservar a chance de um futuro habitável.
Posteriormente, em maio de 2021 um relatório da Agência Internacional de Energia, anteriormente vista como um órgão conservador, concluiu que não poderia haver novos campos de petróleo, gás ou minas de carvão, se o mundo chegasse a zero líquido até 2050.
Da mesma forma, a reação à guerra da Rússia na Ucrânia elevou ainda mais os preços dos combustíveis fósseis , dessa forma, incentivando as apostas em novos campos e infraestrutura que durariam décadas.
Petróleo e gás: Informação pública é escassa e difícil
Hoje, avaliar os desenvolvimentos futuros de petróleo e gás é um desafio: para começar, o setor é complexo e, muitas vezes, secreto. A informação pública é escassa, difícil de encontrar e avaliar.
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Mas, uma equipe global de repórteres ambientais trabalhou com os principais thinktanks, analistas e acadêmicos em todo o mundo, nos últimos cinco meses, agora podemos responder a uma série de perguntas que revelam a escala dos planos do setor.
Contudo, as respostas a essas perguntas-chave levam a uma conclusão inescapável: se forem adiante, acabarão com o limite mundial de emissões que deve ser mantido para permitir um futuro habitável – conhecido como orçamento de carbono.
Petrolíferas continuam comprometidas com seu negócio principal
Apesar das promessas feitas por muitas empresas petrolíferas, os dados mostram que, na verdade, continuam comprometidas com seu negócio principal.
Em consequência, os planos de expansão de curto prazo de empresas como, ExxonMobil e Gazprom são colossais.
A investigação descobriu que nos próximos sete anos, provavelmente, começarão a produzir petróleo e gás a partir de projetos que acabariam entregando 192 bilhões de barris, isso significa o equivalente a uma década das emissões atuais da China.
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Além disso, um terço dos planos de expansão de curto prazo de petróleo e gás viria de fontes “não convencionais” e mais arriscadas. Isso inclui o fracking e a perfuração offshore ultraprofunda, inerentemente, mais perigosas – à medida que as empresas de petróleo e gás perfuram mais profundamente, o número de derramamentos, acidentes e explosões, aumenta.
Metade da expansão projetada da Gazprom fica no frágil Ártico
Hoje, as empresas petrolíferas estatais lideram a lista de expansão de curto prazo, com a Qatar Energy, a russa Gazprom e a Saudita, Aramco entre as primeiras. Metade da expansão projetada da Gazprom está no frágil Ártico (link do MSF).
Além isso, as principais empresas petrolíferas listadas, ExxonMobil, Total, Chevron, Shell e BP, estão todas no top 10. A produção de petróleo e gás não convencional é arriscada, responde por cerca de 70% do total das principais empresas americanas, enquanto, a proporção de fracking e em águas ultraprofundas, é de 30% a 60% para as empresas europeias.
Incoerência dos líderes mundiais
O estudo, liderado por Kjell Kühne da Universidade de Leeds, publicado na revista Energy Policy, descobriu que poucos meses depois que muitos políticos atuaram como líderes climáticos durante a Cop26, deram luz verde para a expansão maciça da produção que, entretanto, os cientistas alertam que levaria a civilização ao limite.
“Somente a mentalidade colonial dos líderes políticos dos países ricos pode fazer o cálculo brutal de que o interesse dos gigantes dos combustíveis fósseis e seus bilhões em lucro é mais importante do que a vida das pessoas que são predominantemente negras, pardas e pobres.”
Juntos, esses projetos produziriam 646 bilhões de toneladas de emissões de CO 2, engolindo todo o orçamento mundial de carbono. E mais de 60% já estão operando.
Onde estão as maiores Bombas de Carbono
De acordo com a pesquisa, os EUA, a principal fonte de emissões potenciais, e suas 22 bombas de carbono incluem perfuração e fraturamento convencionais, abrangendo águas profundas do Golfo do México até o sopé da Cordilheira Frontal, Colorado; e daí, à bacia do Permiano.
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Juntos, têm o potencial de emitir 140 bilhões de toneladas de CO 2, quase quatro vezes mais do que o mundo inteiro emite a cada ano.
A Arábia Saudita é o segundo maior emissor potencial, com 107 bilhões de toneladas, seguida por Rússia, Catar, Iraque, Canadá, China e Brasil.
Indústria do petróleo inundada de dinheiro
A indústria do petróleo está inundada de dinheiro. Mas, o capital das empresas pertence aos acionistas, incluindo fundos de pensão ou, no caso das petrolíferas nacionais, aos governos e, pelo menos em teoria, aos cidadãos.
Mas, os planos de investimento das maiores companhias estão, fortemente, em desacordo com o objetivo de deter a crise climática.
Da mesma forma, a mudança da queima de petróleo e gás não pode acontecer da noite para o dia. Em consequência, uma quantidade decrescente ainda precisará ser queimada durante a transição para uma economia líquida de emissões zero em 2050.
Contudo, a questão é se as empresas e governos estão se movendo rápido o suficiente.
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A Petrobras
O jornal mandou perguntas para dezenas das maiores companhias de petróleo, e publicou as respostas. Mas, o Mar Sem Fim segue direto para as da Petrobras.
“A Petrobras planeja seus investimentos considerando que o acordo de Paris será bem-sucedido. Enquanto a temperatura global será mantida abaixo de 2°C”, disse um porta-voz da empresa. “O petróleo continuará importante nas próximas décadas, mesmo em cenários de transição acelerada.”
“Estamos planejando ativos altamente resilientes e competitivos em cenários alinhados com Paris devido ao seu baixo custo de produção e baixas emissões. A Petrobras segue sua estratégia de maximizar o valor de seu portfólio, [com 99% do investimento em exploração] com foco em ativos em águas profundas e ultraprofundas.”
Corrida contra o tempo
A investigação deu uma resposta à questão de quão grande perigo os planos das empresas de petróleo e gás representam para o aquecimento.
Será que uma ação forte e imediata levaria a um colapso financeiro? Questão pertinente já que bilhões de dólares seriam varridos do valor de algumas das maiores empresas do mundo.
Ou, talvez, ações mais firmes nos afastarão rapidamente dos combustíveis fósseis. E fecharão o caixa eletrônico das companhias de petróleo ao nos levar a um futuro de energia limpa com clima habitável?
Só o tempo dirá. Mas, ao contrário do petróleo e do gás, é muito escasso.
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Hora de acabar com os subsídios
“O mundo está em uma corrida contra o tempo”, disse Guterres. “É hora de acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis e parar a expansão da exploração de petróleo e gás.”
Refletindo sobre a guerra na Ucrânia, disse, “Os países podem se tornar tão consumidos pela lacuna imediata no fornecimento de combustível fóssil. Por isso negligenciam ou reprimem políticas para cortar seu uso. Isso é loucura. O vício em combustíveis fósseis é uma destruição mutuamente assegurada.”
Reportagem adicional de Jillian Ambrose, Adam Morton, Nina Lakhani, Oliver Milman e Chris McGreal.
Para ler a matéria completa clique neste link.
Imagem de abertura: The Guardian.
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