Aumento da acidificação dos oceanos ameaça a vida marinha
A acidificação dos oceanos aumentou além do nível seguro para a vida marinha, e os ecossistemas já sentem os efeitos. Corais de água fria, recifes de corais tropicais bem como a vida marinha no Ártico estão especialmente em risco. À medida que a acidificação continua a se espalhar e se intensificar, o perigo cresce. Em sua última avaliação anual, o Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático disse que a acidez dos oceanos ultrapassou um limiar crítico para a vida marinha.
Desde o início da era industrial, o pH da superfície do oceano caiu em cerca de 0,1 unidades. Isso significa um aumento de 30 a 40% na acidez, empurrando os ecossistemas marinhos além dos limites de segurança. Os cientistas estão preocupados que isso também possa enfraquecer o papel do oceano como o absorvedor de calor mais importante do planeta e sua capacidade de reduzir 25 a 30% do dióxido de carbono na atmosfera
Outra revelação é que, com isso, a lista de limites planetários agora considerados violados sobe para sete em nove. A culpa é atribuída à queima de combustíveis fósseis, agravada pelo desmatamento e pela mudança no uso da terra.
‘Aumento de pressão sobre um sistema vital para estabilizar as condições no planeta Terra’
Levke Caesar, codiretora do Laboratório de Ciência de Limites Planetários e uma das principais autoras do relatório alertou que “o movimento que estamos vendo está absolutamente indo na direção errada. O oceano está se tornando mais ácido, os níveis de oxigênio estão caindo e as ondas de calor marinhas estão aumentando. Isso aumenta a pressão sobre um sistema vital para estabilizar as condições no planeta Terra”.
“Essa acidificação intensificada decorre principalmente das emissões de combustíveis fósseis e, juntamente com o aquecimento e a desoxigenação, afeta tudo, desde a pesca costeira até o oceano aberto. As consequências se espalham, afetando a segurança alimentar, a estabilidade climática global e o bem-estar humano.”
A NOAA explicou que o aumento da acidificação comprometeu significativamente 40% da superfície global do oceano e 60% do oceano subterrâneo a uma profundidade de 200 metros.
Deterioração acelerada e risco crescente de mudanças irreversíveis
Como uma esponja, os oceanos absorvem quantidades crescentes de dióxido de carbono da atmosfera. Essa troca ajuda a regular as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono do planeta, mas tem um custo para os oceanos e a vida marinha.
Segundo a Oceanographic Magazine, as conclusões apontam para uma deterioração acelerada e um risco crescente de mudanças irreversíveis, incluindo o perigo maior mais de pontos de inflexão.
Para a Dra. Sylvia Earle (Em 2018 trouxemos Sylvia Earle ao Brasil para o lançamento de seu livro A Terra é Azul), oceanógrafa e uma das maiores referências mundiais na ciência do mar, “o oceano é o sistema de suporte de vida do nosso planeta. Sem mares saudáveis, não há planeta saudável. Durante milhares de milhões de anos, o oceano tem sido o grande estabilizador da Terra: gerando oxigênio, moldando o clima e sustentando a diversidade da vida. Hoje, a acidificação é uma luz vermelha piscando no painel de controle da estabilidade da Terra. Se a ignorarmos, corremos o risco de destruir os alicerces do nosso mundo vivo. Protegendo o oceano, protegemos a nós mesmos.”
Aumento da acidificação dos oceanos, entenda o perigo
A acidificação dos oceanos é causada quando o dióxido de carbono é rapidamente absorvido pelo oceano, onde reage com moléculas de água, levando a uma queda no nível de pH da água do mar. Ela danifica todas as espécies calcificantes como recifes de corais, e outros habitats oceânicos. São espécies economicamente e ecologicamente importantes que incluem caranguejos, ostras, mexilhões e outros bivalves, corais e pequenos caracóis essenciais do mar conhecidos como pterópodes que formam a base das cadeias alimentares.
Já há sinais de pequenos caracóis e mexilhões com cascas mais fracas devido à acidificação. Eles são uma importante fonte de alimento para muitas espécies, por isso, quando enfraquecem, afeta cadeias alimentares inteiras.
Segundo o jornal The Guardian, os autores sublinharam que a redução das emissões de CO2 é a única forma de lidar com a acidificação a nível global. Entretanto, as medidas de conservação podem e devem concentrar-se nas regiões e espécies mais vulneráveis.
Quais os locais mais atingidos?
A NOAA explica que a maior mudança nas águas superficiais ocorre nas regiões polares como o Alasca, o Ártico e a Antártica. Enquanto isso, a maior mudança em águas mais profundas acontece nas regiões subpolares e ao longo da costa oeste da América do Norte, do Canadá ao México.
A acidificação dos oceanos é particularmente prejudicial para as regiões polares porque a água mais fria absorve mais CO2. Além disso, a água derretida das geleiras e das camadas de gelo reduz a salinidade, o que acelera o processo.
Não à toa, uma nova pesquisa acaba de revelar evidências emergentes de mudanças abruptas no ambiente da Antártica. Em níveis de pH baixos o suficiente, corais e conchas podem até começar a se dissolver. Esses efeitos podem desestabilizar ecossistemas inteiros e devastar muitas espécies comercialmente valiosas, como as ostras.
Este site, acostumado às pesquisas sobre as questões que afetam os oceanos, percebe claramente uma mudança de postura em relação às recentes descobertas. A repercussão nunca foi tão ampla, e tão ‘preocupada’ com a descoberta. Ao menos isso.
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