Zheng He: o almirante que transformou a China na maior potência naval do século XV
No século XV, o almirante Zheng He liderou a maior frota marítima da história, composta por juncos de nove mastros e cerca de 27 mil marinheiros. Suas expedições transformaram a China na principal potência naval da época.

Ascensão de Zheng He: de eunuco a almirante imperial
Zheng He nasceu em 1371, na província de Yunnan, durante a dinastia Ming. Seu nome de nascimento era Ma He, e ele descendia de uma família muçulmana. Ainda criança, foi capturado por tropas do futuro imperador Yongle e castrado, como era comum com os meninos destinados ao serviço palaciano.
Mesmo eunuco, Zheng He demonstrou inteligência, habilidade militar e lealdade. Ganhou a confiança do imperador, que o nomeou almirante e o encarregou de liderar expedições marítimas sem precedentes, com o objetivo de projetar o poder da China além de suas fronteiras.
As sete grandes expedições (1405–1433)
Entre 1405 e 1433, Zheng He comandou sete grandes viagens que percorreram o Sudeste Asiático, a costa da Índia, a Península Arábica e o litoral da África Oriental. Os navios chineses chegaram a lugares como Calicute, Ormuz, Meca, e até ao atual Quênia. O objetivo era diplomático e comercial: estabelecer relações, coletar tributos e exibir a supremacia da dinastia Ming.
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Ilhabela em último lugar no ranking de turismo 2025Garopaba destrói vegetação de restinga na cara duraCores do Lagamar, um espectro de esperançaEssas expedições não buscavam conquista territorial, mas prestígio político e expansão das redes de comércio. Zheng He levou presentes luxuosos aos governantes estrangeiros e trouxe de volta à China animais exóticos, como girafas e zebras, além de especiarias e metais preciosos.
A frota do tesouro: engenharia naval e poderio marítimo
A chamada “frota do tesouro” reunia centenas de embarcações, entre elas os lendários juncos com mais de 100 metros de comprimento e nove mastros — muito maiores que as caravelas europeias da época. Estima-se que a frota reunisse cerca de 300 navios e 27 mil tripulantes, incluindo soldados, diplomatas, artesãos, médicos e intérpretes.
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Esses navios simbolizavam o apogeu da engenharia naval chinesa. Eram equipados com compartimentos estanques, velas de bambu e sistemas de navegação sofisticados, como a bússola magnética. Nenhum outro império marítimo do século XV rivalizava com esse poder.
Legado e declínio: o fim das expedições marítimas
Após a morte de Zheng He, por volta de 1433, as autoridades da corte Ming mudaram a política externa. Influenciados por burocratas conservadores e ameaças internas, os imperadores encerraram as expedições, destruíram registros náuticos e proibiram novas viagens longas. A China, que havia dominado os mares, se voltou para dentro.
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Guaraqueçaba e Cananéia: o desafio da sustentabilidadeRobô subaquático autônomo parte na primeira circum-navegaçãoCiganos do mar, os Moken estão ameaçados pelo turismoO legado de Zheng He sobreviveu em lendas, monumentos e registros históricos. Ainda hoje, muitos países asiáticos o reverenciam como símbolo de diplomacia, coragem e habilidade náutica.
Influências dos chineses na arte da construção naval
Quando se fala nos ‘navios do tesouro’ sempre fica a dúvida: de onde os artesãos navais tiraram suas ideias? Achamos a explicação no World History Commons:
Os juncos englobam uma série de navios diferentes. Eles foram essenciais para o comércio marítimo no Leste Asiático, no Sudeste Asiático e no Oceano Índico durante séculos. Os juncos originais construídos na China provavelmente foram inspirados no design dos navios que visitavam os portos chineses vindos da Austronésia e dos arquipélagos do Sudeste Asiático.
De acordo com estudiosos e engenheiros chineses atuais, esses tamanhos provavelmente são imprecisos, pois 91,44 metros (300 pés) é o tamanho máximo que um navio totalmente de madeira pode ter antes de deixar de ser estruturalmente seguro, especialmente para os rigores das viagens oceânicas.
Cartas náuticas de Zeng He
O almirante Zheng He queria criar um mapa-múndi com cartas cuidadosamente desenhadas. Originalmente, diz o especialista ZHU JIANQIU, as cartas náuticas de Zheng He foram publicadas em Wu Bei Zhi (uma coleção de livros militares, 1621), Vol. 240, compiladas por Mao Yuanyi da dinastia Ming. Especialistas datam estas cartas do início do século XV. Há mais de cem anos, estudiosos de todo o mundo vêm pesquisando as cartas náuticas de Zheng He e publicaram muitos livros e teses.
As invenções dos chineses no século 15
Segundo a Khan Academy, ‘no início da dinastia Ming (1368-1644), a China era líder mundial no uso de armas à base de pólvora, na construção e navegação de navios e na produção de porcelana e vários outros materiais que exigiam conhecimento tecnológico. Muitos desses desenvolvimentos não continuaram durante o governo Ming.
O confucionismo não incentivava o comércio, e isso, combinado com uma forte crença na superioridade de sua própria cultura, levou os imperadores Ming a fechar as portas do país para ideias e pessoas estrangeiras, limitando o acesso a algumas cidades portuárias no sul. Após o reinado do imperador Yongle (1403-1424), houve pouca exploração geográfica’.
Crucial para a navegação foi outra invenção chinesa do primeiro século, o leme da popa, preso à parte traseira de um navio que podia ser elevado e abaixado de acordo com a profundidade da água. Além disso, era propícia para navegar perto da costa, em portos lotados e canais estreitos e rasos. Ambas as invenções eram comuns na China mil anos antes de sua introdução na Europa.
E por que pararam no Cabo da Boa Esperança?
Bem, para isso é preciso conhecer mais a fundo a história da China e suas várias dinastias. Uma breve explicação da Khan Academy:
No início da dinastia Ming (1368–1644), a China liderava o mundo em armas de pólvora, construção naval, navegação, porcelana e outras tecnologias avançadas. Com o tempo, porém, os chineses deixaram de desenvolver muitos desses avanços ao longo do período Ming.
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O confucionismo
O confucionismo não encorajou o comércio, e isso – combinado com uma forte crença na superioridade de sua própria cultura – levou os imperadores Ming a fecharem as portas do país para ideias e pessoas estrangeiras, limitando o acesso a algumas cidades portuárias no sul.
Após o reinado do imperador Yongle (1403–1424), houve pouca exploração geográfica. A investigação científica também se atrasou e, no final da dinastia, a China estava importando armas da Europa onde a construção naval e as habilidades de navegação haviam se tornado mais avançadas.”
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Ilustração de abertura: Frota do Tesouro Ming Chegando ao Porto de Mogadíscio, na Costa Suaíli (www.behance.net/).