❯❯ Acessar versão original

Resgate do Mar Sem Fim: voltando para São Paulo.

Voltando para São Paulo,28/2/2013

Faltava dividir a derradeira parte de nossa viagem. Vamos lá? É texto curto com algumas fotos. Ainda estou bem cansado, meio zonzo pela mudança…Mas em casa, em São Paulo, onde cheguei dia 20 de fevereiro à meia – noite.

aviao--
Nosso avião.

Dia 17/2:

Por  volta das 17 hs, meu amigo Ruslan Eliseev, da base russa, estacionou seu pequeno Lada, com bandeirinhas da Rússia no capô, em frente a sede da Capitania Puerto Bahia Fildes, onde eu aguardava com Plínio e Alex para irmos ao aeroporto.Ele fez questão de me levar em seu carro. Plínio e Alex seguiram atrás, numa perua dos chilenos dirigida pelo oficial Patrício, ou Pato, para os amigos.

Pato.

Cinco minutos depois estávamos na pista, ao lado do avião que nos levaria embora. Frio de rachar. Muito vento. Céu nublado. Cinza escuro, feio.Bastou descermos e a Antártica sorriu. As nuvens, movimentadas pelo vento, abriram uma pequena brecha por onde raios do sol eram filtrados. O cenário mudou. Pedaços do mar do Drake se iluminaram. Tons de amarelo, vermelho, e branco, dos raios de sol misturaram-se ao verde do mar. Ficamos atônitos. Foi muito rápido. E muito bonito.

O cinegrafista Alex, desnorteado, saiu correndo. Abriu os braços em direção ao céu agradecendo aquela pintura que ficaria gravada pra sempre.

Alex no resgate do Mar Sem Fim: voltando para São Paulo.

Acostumado com a rapidez das mudanças eu estava preparado, com a máquina na mão. Registrei.

Bis.

Depois, já contei. O Comandante Marcelo, de Fildes, fez questão de nos encontrar na pista para o último abraço. Mais que o cumprimento ele, ao se despedir, arrancou da farda vários distintivos e nos deu de presente. Um para cada um. O meu era uma pequena bandeira do Chile, bordada e colada na farda com velcro, pouco abaixo do ombro esquerdo.Antes de eu subir os primeiras degraus da escada que me levaria ao avião Marcelo tirou seu boné e colocou na minha cabeça.

Marcelo (cabelo escuro) e os distintivos da farda.

Os distintivos do Plínio, e Alex, eram da campanha antártica deste ano. Bordados na parte frontal da farda, e no braço direito. Foi emocionante. Querido Marcelo, você quase nos mata com este gesto. Gracias, amigo!

Duas horas depois pousamos em Punta Arenas. Escolhi o melhor hotel da cidade, Dreams, a beira-mar, um cinco estrelas fantástico. Duas suítes: uma pra mim, outra para meus amigos. E corremos pro restaurante a tempo para um lauto banquete.

Delicioso. Cama em seguida.

18 e 19 de fevereiro foram iguais. O dia inteiro dormindo. Saíamos do quarto para o café da manhã, almoço e jantar.  E sono em seguida. Exaustão braba!

Dia 20/2:

De madrugada, aeroporto de Punta Arenas. Destino, Santiago. Chegamos às 9 horas da manhã. Aluguei um carro e tocamos para Vina del Mar, distante cerca de 100 quilômetros. Eu não podia deixar de entrevistar nosso grande amigo, o chefe da base Fildes quando naufragamos, o “imprescindível” Eduardo Rubilar Mancilla. O depoimento dele é fundamental para os documentários.

Desde que voltou da Antártica, no final do ano passado, Rubillar mora nesta simpática cidade, numa vila militar localizada no topo de uma colina com  vista para o mar. Conheci sua família finalmente, esposa e duas filhas.

E mais uma surpresa de arrepiar.

Eduardo vestiu a farda para a entrevista filmada. Recapitulou, em seguida, os dias trágicos em que o Mar Sem Fim lutou por sobrevivência defronte a Capitania, em abril do ano passado.

Ao final, virou-se para mim e disse: “João, guardo um regalo para você desde que estive vistoriando os destroços do barco antes de afundar.”

Enfiou a mão por dentro do paletó, sacou do bolso a pequena bandeira do Chile que estava no mastro do Mar Sem Fim e entregou-a, ainda suja, rasgada, e com cheiro de mar.

Eduardo Rubilar Mancilla entrega a bandeira( minha camiseta tem o logotipo do Felinto Perry, e o boné era do Marcelo Villegas).

Foi de arrepiar. Não desabei por pouco. Plínio, emotivo, não conseguiu… Eduardo guardara aquela bandeira por nove meses para que eu a pudesse levar.Almoçamos e nos despedimos. Em breve vamos nos reencontrar aqui no Brasil. Este grande amigo, daqueles que só aparecem em momentos especiais, será homenageado pela Marinha do Brasil, não só pela ajuda que nos deu, mas também por ter sido o primeiro a chegar à Base Ferraz, para ajudar, no fatídico dia do incêndio que destruiu nossa estação matando duas pessoas, em fevereiro de 2012.De lá para o aeroporto de Santiago. Em seguida, São Paulo.

Precisa legenda?Minha gratidão à Marinha do Brasil, em especial, aos tripulantes do Felinto Perry.

Faz uma semana que estou em casa. Descanso rodeado por meus filhos. Amigos, irmãos e pais, por perto. E o velho e bom “Baunzer”, meu labrador maluquinho, que não desgruda de mim.Sinto saudades dos momentos na Antártica. Tenho surtos de emoção constantes. Quando lembro o que passamos, ao lado das pessoas que nos ajudaram, os olhos marejam. Foi forte demais.Mas a melhor coisa de uma viagem é voltar pra casa.

Boa noite. Obrigado por tudo!

PS

(Ainda tenho muitas histórias, vídeos e fotos. Aos poucos volto ao assunto)

Sair da versão mobile