Vasili Arkhipov, o oficial de um submarino russo que salvou o mundo
Antes de mais nada, transporte-se para 1962. Agora, estamos no auge da Guerra Fria. Seu início coincidiu com o final da Segunda Grande Guerra. A situação estava crítica. Um ano antes, os Estados Unidos, incomodados com a Cuba de Fidel Castro exportando a revolução comunista, e a apenas 531 quilômetros de Miami, planeja uma invasão para derrubar o ditador. A consequência foi terrível. Além do fracasso, Nikita Khrushchev, em acordo com Fidel, decide colocar mísseis nucleares de médio alcance em Cuba para deter qualquer nova tentativa. A escalada sobe. O mundo está à beira de uma hecatombe nuclear. Entretanto, um personagem até há pouco desconhecido, o oficial russo Vasili Arkhipov, teve papel fundamental. Ele ficou conhecido como ‘o homem que salvou o mundo’.
A Guerra Fria
Logo depois do fim da Segunda Guerra Mundial as tensões entre os Estados Unidos e União Soviética levaram a um período conhecido como Guerra Fria. Durante este tempo a dissuasão se baseou nas armas nucleares, especialmente as levadas por submarinos. Definitivamente, submarinos são as armas mais temidas e poderosas de qualquer marinha.
O conceito ‘MAD’ – ou ‘mutually assured destruction’
Segundo o www.the.past.com, em matéria de John D. Lock, o conceito de ‘MAD’ – ou ‘destruição mutuamente assegurada’ – era a doutrina em voga que desencorajou um ataque nuclear preventivo porque as consequências seriam cataclísmicas para ambos os lados.
A estratégia MAD, diz o www.thoughtco.com, foi desenvolvida durante a Guerra Fria, quando os EUA, a URSS e seus respectivos aliados tinham armas nucleares em tal quantidade e força que eram capazes de destruir completamente o outro lado. E ameaçavam fazê-lo se atacados.
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A crise de Cuba
Ao mesmo tempo em que instalam mísseis nucleares na ilha, Khrushchev determinou a ida de uma flotilha de quatro submarinos movidos a diesel, classe Foxtrot, para ficarem estacionados na baía Mariel, em Cuba.
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Nosso personagem, aos 34 anos, era o segundo em comando de um dos quatro, o B-59 e, ao mesmo tempo, comandante da flotilha. À esta altura, Kennedy havia determinado uma linha de quarentena ao redor da ilha. Nenhum navio podia ultrapassá-la, sob pena de iniciar uma guerra. Para garantir a exclusão, Cuba foi cercada por nada menos que 11 destróieres, além do porta-aviões USS Randolph.
Contudo, sem o conhecimento dos americanos, cada um dos submarinos infiltrados carregava um único torpedo com armas nucleares que o capitão estava autorizado a empregar caso acreditasse estar sob ataque.
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Conheça o navio de guerra mais antigo do mundo ainda em serviçoNaufrágio com 3.300 anos muda compreensão da navegação no mundo antigoO último navio de Shackleton, o Quest, é encontradoSegundo o the.past.com, Felizmente para o mundo, enquanto os outros três barcos exigiam a aprovação apenas dos dois oficiais mais graduados para empregar suas armas, o B-59 tinha três oficiais que precisavam concordar.
E conclui: Para qualquer sobrevivente, 27 de outubro teria sido o aniversário da Terceira Guerra Mundial se não fosse por um homem: o Comodoro Arkhipov.
1962, submarinos russos detectados no Atlântico Norte
O alto comando da Marinha temia que os submarinos, já detectados no Atlântico Norte, colocassem em risco o cumprimento do bloqueio. Portanto, diz National Security Archive dos EUA, com ordens do Pentágono as forças navais dos EUA realizaram esforços sistemáticos para rastreá-los, em conjunto com os planos de bloquear e possivelmente invadir Cuba.
Ainda, segundo a mesma e confiável fonte, embora ordenada a não atacar, a Marinha recebeu instruções em 23 de outubro do Secretário de Defesa McNamara para sinalizar aos soviéticos a fim de induzi-los a emergir e se identificar.
Ameaça submarina e os perigos de um incidente
Na manhã seguinte, em 24 de outubro, o presidente Kennedy e o Comitê Executivo do Conselho de Segurança Nacional discutiram a ameaça e os perigos de um incidente.
De acordo com o procurador-geral Robert Kennedy, quando o secretário de Defesa Robert McNamara revisou a prática de uso de cargas de profundidade para o tamanho de granadas de mão com o objetivo de sinalizar os submarinos, aqueles poucos minutos foram o momento de maior preocupação para o presidente, sua mão subiu ao rosto e ele fechou o punho.
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O B-59 mergulha nas profundezas
Assim, diz o National Security Archive, oficiais superiores em vários dos submarinos, notavelmente B-59 e B-130, ficaram chocados. O suficiente para começarem a discutir sobre o disparo de torpedos nucleares, cujos 15 quilotons os aproximavam da bomba que devastou Hiroshima.
Para fugir da frota norte-americana, o B-59 afunda nas profundezas. Segundo relatos posteriores, as condições a bordo eram excepcionalmente duras. A temperatura ultrapassou os 50ºC e os purificadores de ar não funcionavam. Enquanto isso, os tripulantes estavam na iminência de ficar inconscientes. Para piorar, as baterias estavam quase esgotadas.
Desse modo, teve início o que por muito pouco não se tornou uma hecatombe. Os navios lançaram cargas de profundidade, para forçar o submarino a vir à superfície. Vamos lembrar que os norte-americanos não sabiam que as quatro belonaves estavam armadas com armas nucleares.
Para fugir, o B-59 desce a profundidades entre 60 a 100 metros – mas sem camadas isotérmicas (diferentes camadas de temperatura subaquática, que podem confundir a detecção) para desviar o sonar americano e se esconder. Da mesma forma, era impossível qualquer comunicação com Moscou, ou com outra belonave.
E lá ficou, em meio à escuridão, sozinho.
Situação tensa e estressante em 27 de outubro
Em um relato posterior, Orlov (oficial graduado) relatou a situação tensa e estressante em 27 de outubro, quando os destróieres dos EUA lançaram cargas no B-59. De acordo com Orlov, um capitão “totalmente exausto” Valentin Savitsky, incapaz de estabelecer comunicações com Moscou, “ficou furioso” e ordenou que o torpedo nuclear fosse montado para prontidão para a batalha.
Savitsky rugiu “Nós vamos explodi-los agora! Vamos morrer, mas vamos afundar todos eles.” O vice-comandante da brigada, segundo capitão Vasili Archipov, acalmou Savitsky e eles tomaram a decisão de trazer o submarino à superfície.
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Ao mesmo tempo, diz o the.past.com, Um membro da tripulação escreveria mais tarde: ‘Pensamos – é isso – o fim. A impressão era a de estar sentado em um barril de metal que estava sendo constantemente agredido com uma marreta.
A guerra nuclear iminente
Enquanto a tensão atingia pontos insuportáveis, diz o National Security Archive, outro submarino, B-88, deixou uma base na península de Kamchatka, em 28 de outubro, com ordens de navegar para Pearl Harbor e atacar a base se a crise sobre Cuba se transformasse em guerra entre EUA e União Soviética.
Capitão do B-59 decide: é agora!
Voltando às cargas explosivas sobre o B-59, informa o www.the.past.com, Capitão Valentin Savitsky decidiu que não tinha escolha a não ser lançar o torpedo nuclear contra os navios americanos atacantes. “Talvez a guerra já tenha começado lá em cima. Nós vamos explodi-los agora! O oficial político a bordo, Ivan Semonovich Maslennikov, concordou. O alvo seria o porta-aviões USS Randolph com uma tripulação de mais de 3.000.
Com apenas 34 anos, diz a mesma fonte, a reputação de Arkhipov dentro da frota de submarinos já era a de um herói soviético. Em julho de 1961, ele havia sido o vice-comandante do novo submarino de mísseis balísticos da classe Hotel K-19, o orgulho da Marinha soviética.
Apesar do aumento da temperatura e discussão no interior sufocante da sala de controle do submarino, Arkhipov permaneceu calmo, frio, controlado. E trabalhou para convencer Savitsky a deixar de lado estereótipos forjados pelo Estado, observando que os americanos não estavam lançando as cargas diretamente sobre eles. Em vez disso, estavam apenas tentando sinalizar para que o submarino viesse à superfície.
Finalmente, o capitão sucumbiu à lógica do comodoro e ordenou que o B-59 emergisse no meio da frota americana. Uma vez na superfície, onde foram recebidos por um destróier americano, Savitsky percebeu que Arkhipov estava certo. As duas nações não estavam em guerra.
Os norte-americanos só saberiam 50 anos depois…
Por último, diz o the.past.com, Não seria até quase meio século depois, quando os antigos beligerantes se encontraram em uma reunião de 50 anos em 2002, que os americanos saberiam dos torpedos nucleares que foram carregados pelos quatro submarinos soviéticos que a Marinha dos EUA enfrentou em águas internacionais.
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Depois de 13 duros dias, o mundo finalmente estava se afastando da beira do armageddon nuclear.
John D. Lock, autor da matéria do the.past.com, é tenente-coronel do Exército dos EUA (aposentado), é graduado e ex-professor assistente da Academia Militar dos Estados Unidos, West Point. Serviu como engenheiro-chefe da OTAN SFOR nos Balcãs durante a Campanha do Kosovo.
Em 10 de outubro de 2022 estreou nos EUA, pela PBS, a série O Homem Que Salvou O Mundo. Muito provavelmente será exibida no Brasil. Assim esperamos.
O telefone vermelho que não era um telefone, muito menos vermelho
Uma vez superada a crise foi instalada uma linha direta entre Washington e Moscou. Segundo a super.abril.com, O ‘telefone vermelho’, também conhecido em inglês como Moscow – Washington Hotline. Mas, em vez de ser de fato uma linha telefônica, era simplesmente um teletipo…e não era vermelho.