Tratado Mundial do Plástico não sai outra vez
Talvez o objetivo do Tratado Mundial do Plástico seja ambicioso demais. O plano quer frear o crescimento da produção global de plásticos e impor controles jurídicos sobre os produtos químicos tóxicos usados na fabricação.
Essas são as metas do clube da ONU que, há cinco anos, tenta criar um “Acordo de Paris do Plástico”. Mas só coleciona fracassos. A última cúpula, em Genebra, foi mais um. Quem esperava um avanço se frustrou.
Para este site, o resultado não surpreende. Ao contrário. Neste mundo distópico, nem o óbvio gera consenso. Vivemos uma nova Torre de Babel. Cada um fala sua língua. Ninguém se entende.
Os interesses dos estados petrolíferos
Segundo a BBC, ‘as negociações da ONU, a sexta rodada em pouco menos de três anos, deveriam terminar em 7 de agosto, mas os países continuaram a negociar durante a noite, na esperança de romper um impasse. Permaneceu uma divisão entre um grupo de cerca de 100 nações pedindo restrições à produção de plástico, e os estados petrolíferos pressionando por um foco na reciclagem’.
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Mas o plástico é subproduto do petróleo. E quem manda é o cartel dos produtores: a OPEP, ou os Estados petrolíferos. Tanto faz. Muda só a forma de dizer.
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O Dr. Sam Harrison, modelador ambiental do Centro de Ecologia e Hidrologia do Reino Unido, confirmou mais uma vez, de forma elegante, a intransigência dos países produtores para o Science Media Centre.
“Embora não tenhamos o tratado global sobre plásticos que esperávamos, é reconfortante que os Estados-Membros tenham expressado unanimemente o seu apoio à continuação das negociações numa data posterior. Existem diferenças fundamentais entre os países, e conciliá-las será o maior desafio. Embora a grande maioria apoie um tratado ambicioso com limites para a produção de plásticos e proibições dos produtos plásticos e químicos mais problemáticos, vários países continuam a bloquear a redução da produção. No entanto, a ciência é clara: a produção de plástico é o principal fator da poluição por plástico, e o combate à poluição por plástico não pode ser eficaz sem a redução da produção’.
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Há vários depoimentos de cientistas e ativistas ambientais lamentando o fracasso das negociações. Mas, se um deles pudesse representar o tom geral nós diríamos que seria o da Dra. Nina Wootton, pesquisadora marinha da Universidade de Adelaide:
O colapso das negociações de Genebra sobre um tratado global de plásticos é uma oportunidade devastadora de evitar essa crise em sua origem. Depois de quase três anos, as nações se afastaram sem acordo, com poderosos países produtores de plástico, incluindo os EUA, bloqueando os limites da produção de plástico virgem e proibindo produtos químicos nocivos
Segundo o site Politico.Eu, o ministro do Meio Ambiente da Dinamarca, Magnus Heunicke, falou em nome da União Europeia durante a sessão plenária. Ele afirmou que o texto proposto é “inaceitável” e “não atende ao mínimo necessário para responder à urgência dos desafios que enfrentamos nem à responsabilidade por uma economia moderna e pela saúde pública”.
A mesma fonte informou que o representante da Colômbia, Haendel Sebastian Rodriguez, também rejeitou o texto. “Lamentamos informar que, para a Colômbia, o texto é totalmente inaceitável. Não podemos usá-lo como base para negociações”, declarou.
Ele falou sob aplausos estrondosos. Abriu caminho para críticas semelhantes de vários países, como Reino Unido, Canadá, Chile, Panamá, Quênia e Fiji.
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Em resumo, nada de muito novo. Vamos lembrar que depois da COP29, no Azerbaijão, os 170 países do clube da ONU foram para a Coreia do Sul, para a quinta rodada de negociações para um tratado do plástico.
Havia delegados de mais de 170 países e representantes de quase 450 organizações. Contudo, os delegados da Arábia Saudita, Rússia e Estados Unidos, todos grandes produtores de petróleo, não permitiram o acordo.
O mundo não se entende nem nas questões mais básicas. Sobra pobreza de espírito na cúpula, e falta liderança entre os favoráveis ao controle da produção. Quem vai pagar a conta, como sempre, são as futuras gerações.
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