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Sábado: uma tarde inesquecível no Shackleton’s bar.13/1/2013.

Ontem saímos cedo para rodar por Punta Arenas e captar algumas boas imagens para os documentários que estamos fazendo. A cidade é interessante. Nasceu às margens do Estreito de Magalhães quando esta passagem marítima era a única ligação entra Atlântico e Pacífico antes, portando, da abertura do Canal do Panamá no início do século XX.
Há alguns prédios antigos impressionantes atestando a importância geográfica que este pedaço de chão já teve.

Gravando cenas de Punta Arenas.
Gravando cenas de Punta Arenas.

 

Palácio Sara Brawn, hoje Hotel José Nogueira.

Desde a primeira vez que estive aqui, quando Vilfredo Schurmann me convidou para atravessar o estreito a bordo do Aysso, um deles, em especial, chamava minha atenção. Sua arquitetura rebuscada com jardins envidraçados, e outros detalhes pitorescos, aguçava minha curiosidade. Mas nunca tive tempo para investigá-lo.

A porta de entrada do bar mais bacana em que já estive.

Quando o Mar Sem Fim esteve aqui, chegando do porto de Rio Grande, antes da primeira viagem à Antártica em 2010, mais uma vez ele me impressionou.
Mas, como sempre, a pressa não me deu opcão.

O interior do Shackleton’s bar.

Desta vez foi diferente.

Os quadros que mostram a saga de Shackleton

Desta vez é diferente. Só vamos sair de Punta Arenas depois que eu assinar todos os contratos com as empresas envolvidas na remoção do Mar Sem Fim. Ordens do Comandante do Felinto Perry, Luiz Felipe. E com razão. Não adianta sair sem tudo estar cem por cento resolvido.

O Endurance.

 

Mar Sem fim

 

Preso no Gelo

 

Mar Sem Fim naufragado

Os contratos serão entregues na segunda cedo. O que fazer no entre ato? Passear, com muita calma, pela cidade.

SOBREVIVENDO

 

TRAVESSIA DO DRAKE

 

CHEGANDO EM PUNTA ARENAS

 

O PORTO HOJE- COM O MESMO, E LINDO, RELÓGIO DA GRAVURA ANTERIOR.

Aproveitamos para passear. Ao passar em frente ao prédio que aguçava minha imaginação estiquei o pescoço olhando lá pra dentro. Seria um clube? Um hotel? Ele lembra um pouco a arquitetura da antiga mansão dos Prado, na avenida Higienópolis, em São Paulo, atual sede do Iate Clube de Santos.
Havia uma placa no alto da parede que deu pra ler mesmo da rua: Shackleton’s bar. Não acreditei.
Se era um bar, deveria estar aberto. Xeretei. Descobri que a tal mansão é o Palácio Sara Brawn, construído em estilo neoclássico francês, no século XIX, e hoje transformado no hotel José Nogueira, o mais chique de Punta Arenas.
Entramos. Seguimos direto pra o bar. Quase caí de costas quando entrei. Ele homenageia Sir Ernest Shackleton, fantástico navegador do período heróico da conquista da Antártica que esteve aqui, neste mesmo edifício, ao voltar da ilha Georgia do Sul.
Pra quem não conhece a história de Shackleton e o Endurance, seu barco, recomendo vivamente que o faça. Há uma penca de livros, deliciosos, que contam a saga, uma das mais lindas e trágicas histórias náuticas de todos os tempos.
E tem tudo a ver comigo. Meu acidente, no verão passado, foi uma repetição do dele.
Shackleton saiu da Inglaterra em 1914 a bordo do “Endurance”, com a intenção de chegar até a Antártica, e atravessar o continente a pé.
Antes disto, porém, seu barco foi aprisionado pelo gelo, tal qual o Mar Sem Fim. Depois de algum tempo Shackleton percebeu que, se não saíssem em busca de socorro, morreriam ali.
Com coragem e determinação ele guiou sua tripulação pela banquisa de gelo, arrastando atrás de si os escaleres do Endurance. Depois, quando não foi mais possível andar, navegaram. Colocaram os barquinhos nágua e seguiram até a ilha Elephant que, curiosamente, fica ao lado da ilha Rei George, e é parte do mesmo arquipélago onde o Mar Sem Fim naufragou.
Shackleton percebeu que não poderia ficar eternamente a espera de socorro em Elephant, uma ilhota erma, de pedras, fora das rotas marítimas da época.
Então resolveu fazer o impossível: com um escaler do Endurance reforçado, o James Caird, ele navegou 800 milhas desde Elephant, até a Geórgia do Sul, onde havia uma estação baleeira com navios que poderiam ajudá-lo.
Desde então este é considerado o maior feito náutico já experimentado pelo ser humano.
Da Georgia do Sul, resumindo, Shackleton veio para Punta Arenas. Esteve no mesmo prédio onde passamos a tarde, e aqui pediu socorro. Conseguiu o empréstimo do rebocador Yelcho, baseado em Punta Arenas. Com ele, quase dois anos depois do início de sua aventura, navegou até a ilha Elephant e resgatou toda sua tripulação.
O bar em que passamos a tarde de sábado homenageia esta figura singular, não só adotando seu nome mas, especialmente, tendo em suas paredes lindas aquarelas que relembram cada detalhe da epopéia de nosso herói.
Senti um frio na espinha quando vi o interior daquela sala. E me senti pequeno ante ante a grandeza de Shackleton. Mas tomei coragem. Sentei numa das belas poltronas de couro daquele bar, pedi um gim tônica, bebida preferida dos ingleses e, em silêncio, reverenciei a memória do mestre.

Ernest Shackleton.

Plinio, ao meu lado, olhava aqueles quadros com lágrimas nos olhos.
Nós quase não nos falamos nas mais de duas horas que passamos naquele bar. Mas sentimos a tremenda força de cada segundo que ali ficamos.
Foi mais que bonito. Foi uma tarde emocionante.

Assista o vídeo.

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