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Recifes de corais de águas quentes atingem ponto de inflexão

Recifes de corais de águas quentes atingem ponto de inflexão

“Não podemos mais falar sobre pontos de inflexão como um risco futuro”, disse o professor Tim Lenton, do Instituto de Sistemas Globais da Universidade de Exeter. “A primeira inflexão do declínio generalizado dos recifes de corais de águas quentes já está em andamento.” A informação explodiu como uma bomba nesta segunda-feira, 13 de outubro. Ela é fruto do Relatório Global de Pontos de Inflexão 2025, liderado pela Universidade de Exeter. O trabalho teve financiamento do fundo do proprietário da Amazon, Jeff Bezos, e inclui contribuições de 160 cientistas de 87 instituições em 23 países.

Evento global de branqueamento desde janeiro de 2023

O jornal The Guardian repercutiu o relatório. Os recifes de coral estão passando por um evento global de branqueamento desde janeiro de 2023 – o quarto e pior já registrado. Mais de 80% dos recifes em mais de 80 países sentiram os efeitos das temperaturas oceânicas extremas. Os cientistas afirmam que o evento levou os recifes a um “território desconhecido”.

O relatório estima que os recifes de corais de águas quentes atingirão um ponto de inflexão quando as temperaturas globais atingirem entre 1 °C e 1,5 °C acima do que eram na segunda metade do século XIX, com uma estimativa central de 1,2 °C. O aquecimento global está agora em cerca de 1,4 °C.

Sem cortes rápidos e improváveis nas emissões de gases de efeito estufa, o limite superior de 1,5 °C seria atingido nos próximos 10 anos, afirma o relatório. Este será, sem dúvida, um dos temas centrais da COP30, em Belém.

Por falar em COP30, o grande desafio desta reunião mundial é unir o clima e o oceano.

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O  mundo está “à beira” de alcançar outros pontos de inflexão

O relatório adverte que o mundo também está “à beira” de alcançar outros pontos de inflexão. E inclui o declínio inexorável da Amazônia, o colapso das principais correntes oceânicas e a perda de camadas de gelo. Sobre a perda de gelo, leia o post que mostra a desestabilização da Antártica Ocidental  recém publicado. O continente, que até agora resistia mais que o Ártico/Groenlândia, parece ter entrado numa perigosa espiral assim como os corais.

Sem os recifes de corais de águas rasas a biodiversidade dos oceanos também entra numa ruptura sem volta, já que um quarto de toda a vida marinha depende deles, além de quase um bilhão de pessoas. Segundo a ONU essa mudança pode alimentar-se a si própria e o sistema só encontra estabilidade décadas ou séculos depois. É o que parece estar acontecendo no Ártico já faz alguns anos, e que parece ter começado também na Antártica.

‘O mundo enfrenta uma nova realidade’

Em comunicado, a universidade diz que o mundo enfrenta agora uma “nova realidade”, após atingir “um dos muitos pontos de inflexão” que causarão danos catastróficos, a menos que a humanidade tome medidas urgentes.

A Oceanographic Magazine publicou uma declaração de Mike Barrett, conselheiro chefe da WWF-UK e coautor do relatório: “Os recifes de coral suportam um quarto de toda a vida marinha”, disse. “O declínio deles é uma tragédia que se desenrola em tempo real. É  um golpe devastador para a biodiversidade marinha e as comunidades costeiras.”

Segundo a mesma fonte, relatório pede aos negociadores da COP30 que se concentrem em “pontos de super-alavancagem”. Em outras palavras, áreas onde as mudanças políticas podem desencadear mudanças em cascata em sistemas interconectados, de energia e transporte para agricultura e cidades.

“Mutirão Global” – um apelo à mobilização coletiva

De acordo com a Oceanographic Magazine, a Presidência da COP30 lançou agora o “Mutirão Global” – um apelo à mobilização coletiva inspirado nas tradições de ação comunitária do Brasil. O embaixador André Corrêa do Lago, Presidente da COP30, elogiou a contribuição do relatório para esta visão.

“Este não é apenas um relatório científico”, disse ele. “É um grito de guerra para a humanidade escolher a mudança – e construir um futuro seguro, justo e próspero.”

Sugestões para evitar o colapso generalizado

O relatório também traz sugestões para evitar o pior cenário. “Nos dois anos desde o primeiro Relatório Global de Pontos de Inflexão, houve uma aceleração global radical em algumas áreas, incluindo a adoção de energia solar e veículos elétricos. Mas precisamos fazer mais. Avançar mais para aproveitar oportunidades positivas. Ao fazer isso, podemos reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa e afastar o mundo de pontos de inflexão catastróficos e de um futuro próspero e sustentável.

“À medida que nos dirigimos para as negociações climáticas da COP30, é vital que todas as partes compreendam a gravidade da situação, bem como a extensão do que todos nós podemos perder se as crises climática e da natureza não forem abordadas. As soluções estão ao nosso alcance. Os países devem mostrar a bravura política e a liderança para trabalhar juntos e alcançá-las.”

A nação anfitriã da COP30, Brasil, tem um grande potencial para produzir aço verde, hidrogênio verde e amônia verde (referindo-se ao fato de o País ter uma matriz elétrica majoritariamente renovável) ajudando a impulsionar essas tecnologias cruciais em todo o mundo. Pontos de inflexão positivos podem restaurar rapidamente a natureza e a biodiversidade. A restauração de ecossistemas pode levar sistemas degradados de volta à saúde. Isso significa mudanças para padrões mais sustentáveis de consumo e produção que podem levar a pontos de inflexão em cadeias de suprimentos de alimentos  que acabam com o desmatamento e a conversão de ecossistemas.

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