Praia dos Ingleses (SC) destruída depois da engorda conforme previsto
Praia dos Ingleses não é a única a desmoronar
Hoje, ficou evidente até para os especialistas da UFSC que o poder público, em vez de (propor) ‘solução que trate da mitigação e adaptação às mudanças em curso’ (leia-se aumento do nível do mar e dos eventos extremos), ‘estimula economicamente o mercado imobiliário’.
Entretanto, o cinismo é tão grande que a Câmara de Vereadores de Florianópolis cedeu à tentação da especulação imobiliária. Assim, surgiu uma proposta para eliminar as 11 unidades de conservação da ilha, o pouco que resta da integridade ambiental da capital.
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Porque as soluções baseadas na natureza são importantes
As soluções baseadas na natureza nada mais são do que um reconhecimento de nossa arrogância ao alterar o meio ambiente da forma que vimos fazendo.
Em nível planetário, alteramos o clima promovendo o aumento da frequência e intensidade de ressacas e alagamentos, assim como a elevação do nível do mar. Em nível regional, estamos por anos a fio aprisionando as areias que dão origem e estabilidade dinâmica para as praias (Trecho da Nota Técnica).
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A construção de casas, edifícios, restaurantes e estradas sobre o supralitoral (vide desenho abaixo) causa a destruição e a fragmentação de hábitats, a poluição e a alteração física do sistema praial.
Em geral, a ocupação do supralitoral é tão intensa e agressiva ambientalmente que impossibilita o processo de circulação local dos sedimentos entre o supralitoral e o restante da praia, o que gera um déficit no balanço de sedimentos no entremarés e no sublitoral, intensificando a erosão costeira sobre o próprio supralitoral.
Os professores frisam que…Em nível regional, estamos por anos a fio aprisionando as areias que dão origem e estabilidade dinâmica para as praias.
Os especialistas da UFSC mostram que não basta jogar areia de qualquer jeito sobre as praias como tem acontecido. É preciso, de maneira idêntica, restaurar o que nós alteramos.
A importância da restinga e das dunas
Os especialistas explicaram que a restinga funciona como uma barreira natural contra a erosão. Ela ajuda a fixar a areia, protege a linha da costa e mantém a faixa de praia mais larga. Também permite que a água da chuva penetre no solo e recarregue o lençol freático. Por isso, restaurar e preservar a restinga é essencial para reduzir os efeitos da erosão costeira e garantir o equilíbrio ambiental das praias.
Em março e junho de 2023, os professores visitaram trechos da praia e observaram que a parte superior do aterro havia recebido uma camada extra de areia, com cerca de 6 a 7 metros de largura e 2 metros de altura — uma tentativa de formar artificialmente uma duna frontal.
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No entanto, durante uma nova visita, em 19 de setembro de 2023, eles percorreram os cerca de 3 quilômetros de extensão do aterro e constataram que boa parte dessa areia já havia se dispersado. O que restou da duna aparece apenas como uma elevação suave no terreno.
Os técnicos também notaram a ausência de medidas básicas de recuperação: não havia cercamento, demarcação ou placas informando que se tratava de uma área em restauração. Além disso, não encontraram indícios de viveiro, coleta de sementes, mudas ou plantio de vegetação nativa — ações essenciais para fixar a areia e garantir a estabilidade das dunas ao longo do tempo.
Fica evidente que o poder público desperdiça recursos ao despejar areia nas praias sem seguir os critérios técnicos disponíveis. Pior ainda, ignora uma etapa essencial das obras: restaurar o que foi destruído — as restingas e as dunas, elementos fundamentais para proteger a costa da erosão.
É lamentável assistir a destruição por que passa o litoral catarinense por ignorância e/ou safadeza de seus gestores políticos.
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