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Navegando no Felinto Perry. 17/1/2013.

 

Às 10 horas da manhã de ontem, pontualmente, o Felinto Perry  “suspendeu” de Punta Arenas.

O dia estava bonito, com sol, algumas nuvens e não muito frio. Iniciamos a descida pelo Estreito de Magalhães. Um par de milhas para baixo saímos do canal principal, que leva ao Pacífico, e entramos por outros, menores, adjacentes que, através de um labirinto de ilhas montanhosas, repletas de geleiras milenares, acabam por desembocar muitas milhas abaixo, no Canal de Beagle, porta de entrada e saída para a Antártica.

Ponte de comando do Felinto Perry.

Por volta das 22 horas de ontem deixamos os canais e navegamos “na beirada” no Pacífico. Nesta altura da viagem o navio faz uma volta, mar adentro, para depois retornar às águas protegidas. O vento era de 15 milhas, de Oeste, e o mar mostrou sua cara pela primeira vez. Vagas de 1.5, a 2 metros. Apesar de sua enorme estrutura o Felinto Perry sentiu e “jogou” , por alguns minutos, pendulando de um lado para o outro.

O Passadiço. Daqui se comanda o navio.

Foi gostoso para dormir, embalados pelo balanço vagaroso do navio.

Hoje acordamos cedo, às 07 horas o café da manhã é servido. Então botei a cara pra fora e percebi que estavamos no Braço Noroeste do Beagle, já relativamente próximos de Ushuaia.

Alexandre e Alessandro gravam imagens quando entramos nos canais mais estreitos, na tarde de ontem.

Avisei Alexandre e Alessandro para que preparessem as cameras: dentro em breve cruzaríamos com imensas geleiras, testemunhas da última era de glaciação,  12 a 15 mil anos atrás. Conheço bem esta área. Desde que o  Mar Sem Fim chegou aqui pela primeira vez, em janeiro de 2010, fiz diversas viagens por estas bandas trazendo grupos de turistas brasileiros.

Braço Noroeste do Beagle esta manhã.

Manoel, o simpático marinheiro do Mar Sem Fim, cansou de pescar centojas nestas baías. Assim que saíam dágua, eram preparadas pelo Alonso. Os turistas adoravam.

Esta foi a primeira geleira avistada.

Aproveitei para tirar algumas fotos e redigir este recado. Como disse na postagem anterior, só na Antártica voltaremos a ter conexão de internet. Acontece que em mais algumas horas vamos passar defronte a Ushuaia e, 23 milhas depois, Puerto Williams. Ao largo de ambas as cidades o sinal de telefone volta a pegar, ainda que por breves minutos. Vou aproveitar e tentar mandar mais este texto.

Ushuaia foi um porto importante para mim. Foi aqui que o Mar Sem Fim ficou abrigado nos dois anos que antecederam a derradeira viagem de meu barco.

Ushuaia atrás de mim.

Fiz muitos amigos. Um deles, Silvio, brasileiro casado com uma argentina, foi especial. Ele ajudou muito nos indicando contatos sempre que precisávamos fazer algum reparo no barco. Silvio é piloto de um trawler baseado no Iate Clube AFASYN, o mesmo em que ficou o Mar Sem Fim. Todos os dias ele sai de Ushuaia levando turistas até uma ilhota de pedra, defronte a cidade, que abriga um ninhal de cormorões e uma colônia de leões marinhos.

Estou ansioso para falar com ele. Um dos poucos equipamentos que tirei do Mar Sem Fim antes de abandoná-lo, além de meu computador e máquina fotográfica, foi um VHF portátil.

Já testei o rádio. Será muito bacana se eu conseguir fazer contato com o Silvio ao passar defronte a cidade. Ele sabe que estou a caminho da Antártica para o resgate do Mar Sem Fim, mas não faz ideia do navio em que estou, e muito menos que dentro de poucas horas o Felinto Perry passará defronte a Ushuaia.

Já, já, conto se consegui. E previno: depois desta postagem haverá um silêncio forçado de dois, a dois dias e  meio, tempo que levamos para atravessar as 500 milhas do estreito de Drake que nos separam das ilhas Shetland do Sul.

Então, quando ancorarmos na ilha Rei George, local do naufrágio do Mar Sem Fim, eu volto a contar nossa história.

Agora são 14hs15. Não consegui contato com Silvio ao passar por Ushuaia, em compensação conversei com o pessoal do trawler brasileiro Blue Dreams, que navegava em frente a cidade naquela hora.

O Blue Dreams esta manhã navegando defronte a Ushuaia.

Eles retornavam do Cabo Horn, onde estiveram ontem, e seguem agora para o “Circuito Ventiesqueiro”, repetindo a viagem que eu fazia no Mar Sem Fim, pelo Braço Nororeste do Beagle, levando turistas para ver as geleiras.

Acabo de saber que houve mudança de planos a bordo do Felinto Perry. O Comandante Luiz Filipe informou que há um centro de baixa pressão (tempo ruim) na área. Vamos fundear em Puerto Williams para aguardar sua passagem, ou dissipação, só depois retomamos nossa viagem.

Não vale a pena cruzar o Drake debaixo de mau tempo.

Melhor assim. Agora, fundeando, tenho certeza que consigo sinal para passar esta matéria.

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