Os seis trabalhos de um náufrago, saiba quais são

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Os seis trabalhos de um náufrago, saiba quais são

Alain Bombard sempre foi aficionado pelas histórias de vítimas de desastres marítimos. Antes de mais nada, histórias em que o desfecho é muitas vezes o suicídio para evitar a agonia de esperar por socorro. Por isso decidiu testar os  seis trabalhos de um náufrago. Então, no dia 22 de outubro de 1952 o médico francês partiu das ilhas Canárias para passar quantos dias fossem necessários no mar.

62 dias à deriva no mar

Depois de 62 dias à deriva, Bombard desembarcou nas ilhas Barbados, Caribe. Durante a jornada, alimentou-se dos peixes  e do plâncton que coletava. Contudo, emagreceu 24 quilos. Além disso, teve problemas de visão e, às vezes, delírios. No fim, concluiu que resistir havia sido bem mais difícil do que imaginava:

Quando se está à deriva, a metade do tempo se passa temendo a morte. A outra metade, a desejando.

Os seis trabalhos de um náufrago,
Os seis trabalhos de um náufrago

Antes de mais nada, os sobreviventes de naufrágios costumam escrever testemunhos detalhados do que viveram. A Super reuniu os seis trabalhos de um náufrago, experiências mais impressionantes desses heróis da resistência.

1. Conseguir alimentos, os seis trabalhos de um náufrago

Matar a sede e a fome são tarefas árduas para náufragos. A água do mar não é adequada para o consumo humano. O sal altera a composição do sangue em consequência leva a uma série de problemas físicos.

Alain Bombard, entretanto, conseguiu driblar a dificuldade. Então, usou um expediente comum aos pescadores polinésios: espremer água dos peixes. Embora pouco atrativa, a água retirada da carne tem uma concentração de sal baixíssima. Semelhante à que está em nosso corpo.

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2. Enfrentar um dos maiores tabus da humanidade: canibalismo

Situações extremas requerem igualmente medidas extremas. “Resistem os que estão dispostos a fazer qualquer coisa para sobreviver”, diz o jornalista Laurence Gonzales, autor de Deep Survival: Who Lives, Who Dies and Why (“Sobrevivência Profunda: Quem Vive, Quem Morre e Por Quê”, sem versão para português).

Os sobreviventes do naufrágio do baleeiro Essex, episódio que inspirou Herman Melville a escrever Moby Dick, passaram pela mesmíssima situação em 1820. Sua história é uma das mais aterradoras. Além do mais, tem surpreendentes componentes de ironia. Primeiro, porque o navio, que caçava baleias naufragou tombado justamente por uma delas.

Assim, depois de quase três meses vagando em pequenos barcos pelo Pacífico, prestes a morrer de inanição, os marinheiros perceberam que não havia outro jeito de escapar da morte: teriam que comer um dos companheiros. Desta forma o primeiro premiado  foi Owen Coffin, de 18 anos. Pouco depois acabou assassinado pelo melhor amigo, Charles Ramsdell, de 16.

Quando foram encontrados, 93 dias depois, os oito sobreviventes lambiam os ossos dos companheiros. Eles temiam que seus salvadores lhes roubassem a pouca reserva de carne humana de que ainda dispunham. Saiba mais sobre o livro que conta a história do Essex e seus sobreviventes.

3. Acreditar na divina providência, um dos seis trabalhos de um náufrago

Pesquisador de uma área chamada psicologia da sobrevivência, o britânico John Leach afirma que situações extremas empurram os protagonistas a descobrir dentro de si forças que jamais imaginaram.

Isso vale para a disposição de comer carne humana, mas também para a vontade de sobreviver mesmo, e especialmente, diante de situações que parecem lhes dizer que não há saída.

4. Apreciar as pequenas coisas

Asim para combater a loucura provocada pela solidão, o pescador taitiano Tavae Raioaoa aproveitou seu naufrágio em 2002, no Pacífico, como um momento de pausa na vida para fazer reflexões existenciais.

Dessa forma durante os 118 dias que passou à deriva, Tavae fez um balanço de sua história pessoal. Ou seja, embarcou em uma espécie de retiro espiritual gratuito – prática pela qual muita gente paga as maiores fortunas hoje em dia.

5. Tirar proveito das companhias

Tubarões são companheiros tão indesejáveis quanto constantes nas viagens sem rumo dos náufragos. Além disso sua presença é quase sempre anúncio de tragédia.

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Em 1960, quando o navio americano Albatross foi a pique, no Caribe, o capitão e alguns membros da tripulação conseguiram se salvar em botes.

Contudo, o sangue dos feridos atraiu dezenas de tubarões que, excitados pelo cheiro, cercaram as embarcações e tentaram virá-las com seus focinhos.

6. Estabelecer rotinas

Em pleno século 20, o americano Steve Callahan cruzava sozinho o Atlântico, quando de repente uma onda gigante empurrou o barco em que estava para o fundo. Apesar de todo o preparo para situações de emergência, Callahan não teve tempo sequer de mandar um SOS.

Em 1982, ele se viu tão vulnerável quanto os homens que se perdiam nos mares na época dos descobrimentos. Passou 76 dias à deriva em um bote e, para manter-se firme, resolveu contar com a ajuda de um “capitão” imaginário.

Dessa forma, o “capitão” dava ordens como pescar, comer, arranjar o que beber, proteger-se do sol e do frio, cuidar da própria segurança e, especialmente, da manutenção do bote. Assim com este truque da própria cabeça, Callahan controlou-se e evitou a pior das agonias dos homens à deriva: a vontade de interromper o sofrimento afogando-se no mar.

Revista Superinteressante – Texto: Erica Montenegro

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