Estropício ambiental do Congresso está nas mãos de Lula
A Câmara dos Deputados aprovou na madrugada de quinta-feira, 17/07, o projeto que flexibiliza o licenciamento ambiental. ‘Flexibiliza’ é o eufemismo usado pela mídia. Trata-se de um estropício ambiental. Para a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, ‘o projeto de lei representa o mais grave retrocesso ao sistema de proteção ambiental do país’. Paulo Artaxo, cientista do IPCC, qualificou o projeto como ‘uma ameaça ao desenvolvimento sustentável’. Ele destacou dois pontos como os mais graves: o autolicenciamento ambiental, que permitirá ao próprio empreendedor declarar que seu projeto não causará danos ao meio ambiente; e a flexibilização do uso da água — recurso valioso tanto para o agronegócio quanto para as cidades —, que enfraquecerá os controles existentes.

Resta apelarmos a Lula da Silva
Não resta alternativa senão apelar a Lula da Silva. Se o Brasil realmente lidera a agenda ambiental no cenário internacional, como ele afirma, então é imperativo que use seu poder e vete o pacote de retrocessos aprovado pelas ratazanas do Congresso.
Nada, além do escárnio, justifica o autolicenciamento ambiental, a revogação de trechos da Lei da Mata Atlântica que protegem as florestas primárias e secundárias — justamente as mais preservadas do bioma —, e a flexibilização do uso da água, o recurso natural mais valioso da atualidade.
Simultaneamente, a aprovação do estropício ambiental mostra como o Congresso está alheio à realidade que nos cerca. Realidade que mata centenas de milhares de brasileiros todos os anos, além de os desalojar provocando gravíssimos problemas sociais. Outra lição a ser tirada do lamentável episódio é o fisiologismo que impera no Senado e na Câmara só isso pode justificar atitude tão estúpida e mesquinha.
Considerações sobre os motivos alegados para a aprovação do estropício ambiental
O Congresso alega que a flexibilização do licenciamento ambiental é necessária para reduzir a burocracia, aumentar a segurança jurídica e promover o desenvolvimento econômico. Trata-se de um delírio sem amparo na realidade.
O projeto não reduz burocracia nenhuma. A demora que existe sempre teve um único motivo: falta de pessoal qualificado no Ibama. E ponto final. Sempre dissemos isso e, em 17 de julho, o Estadão provou ao publicar a matéria Processos de licenciamento ambiental triplicam desde 2015, mas equipe do Ibama é 1/3 menor’, de autoria de Juliana Domingos de Lima. O título diz tudo, não é preciso discutir. Sempre foi assim, ao menos desde que Marina Silva cismou de criar o ICMBio, desmembrando o Ibama, e sem maior aporte de recursos.
Sobre a Mata Atlântica, a Folha de S. Paulo foi feliz ao repercutir nota enviada ao relator do projeto, deputado Zé Vitor (PL-MG), por um grupo de empresários e ambientalistas. Sob o título ‘Projeto do licenciamento ameaça impulsionar desmatamento na mata atlântica, diz fundação’, seu autor João Gabriel sintetizou o risco num único parágrafo:
Hoje, nove de 17 estados que detém florestas de mata atlântica têm desmatamento zero, mas o projeto de lei do licenciamento ambiental, ao revogar a proteção das áreas primárias e secundárias, ameaça todas essas regiões, nas quais vivem atualmente mais de 120 milhões de pessoas
Paulo Artaxo e a flexibilização do uso da água embutido no projeto aprovado
Ele é considerado um dos mais notáveis cientistas brasileiros, e membro do IPCC. O professor de física da USP foi escolhido para palestrar no Palácio do Planalto, em setembro de 2024, sobre o estágio em que estamos do aquecimento global, muito mais próximos de uma ‘trajetória de aquecimento da ordem de 3 a 4 graus Celsius até o fim deste século’.
O Jornal da USP revela que ‘Artaxo foi o único cientista convidado a participar de uma reunião de emergência convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, para discutir o enfrentamento da crise climática no Brasil. Além de Lula, estavam presentes os presidentes das duas casas do Congresso Nacional (Rodrigo Pacheco e Arthur Lira) e do Supremo Tribunal Federal (Luís Roberto Barroso), além do procurador-geral da República (Paulo Gonet), vários ministros de Estado e outras autoridades do mais alto escalão da política nacional’.
O Brasil e o estropício ambiental do Congresso Nacional
Selecionamos alguns trechos dos alertas de Paulo Artaxo sobre o uso da água. Para nós, esse bem natural virou moeda de troca há séculos. Políticos sem vergonha o exploram desde o século 17. O exemplo mais grotesco são os carros-pipa do semiárido. Apenas os políticos decidem onde e quando eles vão. Essa aberração expõe o atraso da classe política. Gente medíocre, que tomou o Estado para servir a si mesma. Os mesmos que aprovaram o atual estorvo ambiental. Eis, agora, os alertas de Paulo Artaxo:
O Brasil, por estar em região tropical, será um dos países mais afetados pelas mudanças climáticas, e precisamos preparar nossa sociedade para isso.
A crise climática está intensificando a escassez de água em diversas regiões, com consequências para o abastecimento urbano e a produção agrícola.
Em algumas regiões, a intensificação das mudanças climáticas, como o aumento da temperatura e a redução das chuvas, pode tornar áreas produtoras de alimentos, como a soja e o gado, inviáveis.
A decisão está com Lula da Silva
Faltam quatro meses para a COP30, e a batata quente está nas mãos de Lula, anfitrião do evento. Não há espaço para ambiguidades. Ou veta o estropício aprovado pelo Congresso, ou se alinha aos que destroem o meio ambiente. Cabe a nós pressionar. A hora de agir é agora. Assine a petição:petição:
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Não existem redes de locadoras com carros novos. Os poucos que estão disponíveis têm mais de 60 mil quilômetros rodados. Sucata sobre rodas.
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Não sabia? Então leia: “Paraty e turismo, um casamento mórbido e insustentável”.