Desmanche de navios: conheça os maiores do mundo

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Desmanche de navios em Alang, Índia, e Chittagong, Bangladesh; maiores cemitérios de navios do mundo

Se você está planejando suas próximas férias, provavelmente não encontrará as cidade de Alang, ou  Chittagong em nenhum guia de viagem. Você pode nem encontrá-las no mapa. A faixa desolada de areia em Alang, de seis milhas, já foi uma das mais pobres da Índia. Mas, nos últimos anos, esse pedaço do litoral  no estado de Gurajat se tornou o maior pátio de desmanche de navios do mundo. Nós ainda podemos escolher entre cemitérios, ou crematórios. Navios não têm escolha…

Desmanche de navios
Imagem, You Tube.

Buraco do inferno

O site www.jazjaz.net diz que “esses buracos do inferno (Alan, e  Chittagong; Bangladesh) não são apenas locais de matança para embarcações antigas.”

Desmanche de navios com trabalhador
Imagem, You Tube.

Milhares de jovens desafortunados, mas capazes, perderam a vida fazendo um trabalho de última hora em uma das condições de trabalho mais perigosas do mundo.”

Para o dailymail.co.uk, “este é o maior cemitério de navios do mundo – onde enormes petroleiros e navios de cruzeiro são desmantelados à beira-mar por equipes de trabalhadores que usam pouco mais que ferramentas manuais. O trabalho é considerado um dos mais perigosos, com trabalhadores ganhando uma ninharia de apenas 2,25 libras por dia. Mas, surpreendentemente, não há escassez de recrutas dispostos.”

Desmanche de navios
Imagem, You Tube.

Provavelmente este será o local de desmanche do segundo porta-aviões da Marinha do Brasil, o NAe São Paulo que acaba de ser vendido em leilão.

Alang no passado recente…

A forbesindia.com, diz que “Alang, situada a 50 km da cidade de Bhavnagar, fica de frente ao Golfo de Khambhat. É pontilhada de navios  de todos os tamanhos, agredidos de todas as formas. Petroleiros, navios de contêiner e até navios de cruzeiro aguardam para serem reduzidos a sucata.

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O estaleiro tornou-se operacional em 1983, quando o governo do estado o concebeu para criar empregos em massa para trabalhadores pouco qualificados. Em matéria de 2012, Erik Azevedo escreveu no site navalunivali.wordpress.com: “Uma reportagem investigativa, feita por uma equipe da TV portuguesa, viajou até a Índia e Paquistão, e mostra toda a verdade que tentam esconder.

Aqui é proibido fotografar ou filmar – diz um agente de segurança numa praia tomada de cascos e restos de navios em Alang, Índia. A equipe é convidada a se retirar do local, visitantes não são bem vindos nestes locais.”

A vergonha era grande…

450 navios desmanchados por ano

Os pátios da Alang têm capacidade para destroçar 450 navios por ano. E, acrescenta o forbesindia.com: “Mas as demandas globais por práticas de negócios sustentáveis ​​nos setores ganham volume.”

“Alguns proprietários de navios e recicladores estão determinados a consertar a imagem notória da Alang e posicioná-la como um centro global para a reciclagem responsável de navios.”

…e Alang hoje…

Parece que o esforço trouxe resultados. Matéria do site businesstoday.in, de abril de 2017, informa como as coisas mudaram: “Trabalhadores e seus supervisores no maior estaleiro naval do mundo, em Alang,  estão ocupados.

Desmanche de navios
Imagem, You Tube.

Para quem já viu este cemitério de navios uma década atrás com sua infraestrutura precária, imundície, trabalhadores não qualificados usando cortadores de gás, praias negras contaminadas por petróleo e montes de sucata e aço, a nova Alang certamente será uma surpresa.

Inspeção de certificação de qualidade

“Quase todos os trabalhadores usam capacetes, jaquetas de segurança e botas. A maioria dos pátios tem plataformas limpas e cimentadas. Aços quebrados, computadores e enormes peças de motor são armazenados adequadamente em instalações limpas de armazenamento temporário.”

Mesmo metade dos navios abandonados exibem sinais de aviso, com fitas vermelhas para os trabalhadores em serviço. “Amanhã uma equipe do Japão está vindo para a inspeção de certificação de qualidade do nosso quintal”, explica um supervisor em um dos estaleiros.”

Até o nosso Minas Gerais acabou em Alang

O fim de um navio é sempre algo mórbido e triste. Navios têm alma, passaram suas vidas prestando serviços. Não é uma decisão fácil decretar a morte de um deles. Mas, todos os anos, milhares têm que ter um fim. Onde e como? Eis a questão.

Como outras atividades, a mineração por exemplo, elas são importantes; mas sempre causam enorme impacto ambiental, sem falar na questão do fim em si. Assim aconteceu com nosso Minas Gerais, o porta- aviões que, primeiro de uma Marinha latino-americana, um dia foi nossa garbosa nau capitânia.

Frota mundial de navios

Se você achou de mau gosto a comparação entre cemitérios, ou crematórios, é porque se esquece de que somos hoje quase oito bilhões de pessoas no mundo. Onde achar um lugar para cada corpo no futuro? Nossa sociedade mudou, não nos resta opção, a não ser mudarmos também.

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O mesmo acontece com navios, cuja frota mundial é estimada em cem mil embarcações. Oxalá todos os cemitérios de navios passem pela transformação de Alang, já que a vida útil de um navio de carga é de cerca de 25 a 30 anos. Por ano cerca de 600 a 700 navios são eliminados.

Grandes armadores

“Os grandes armadores (donos dos navios) utilizam o sul da Ásia porque para eles é muito lucrativo  pela mão de obra ser barata e fragilizada pelas frouxas leis trabalhistas”, diz o site http://www.portosmercados.com.br. O próximo da lista deveria ser o de Chittagong, Bangladesh que, segundo o  http://www.planobrazil.com, “suplantou o de Alang ano passado. Eles cortaram nada menos que 225 navios (média de 0,61 navio ao dia), produzindo 2,3 milhões de toneladas de sucata.” O site http://www.portosmercados.com.br ainda acrescenta: “É uma indústria euro multimilionária, que emprega cerca de 200 mil trabalhadores no país.”

Assista ao vídeo e saiba mais

Where Ships Go to Die, Workers Risk Everything | National Geographic

Fontes: http://www.dailymail.co.uk/news/article-2324339/Worlds-biggest-ship-graveyard–huge-tankers-cruise-liners-scrapped-shorefront-workers-toil-2-day.html; http://www.planobrazil.com/chittagong-a-nova-alang-bangladesh-toma-da-india-o-triste-titulo-de-maior-cemiterio-de-navios-do-planeta/; https://science.howstuffworks.com/environmental/green-science/alang-shipyard.htm; https://navalunivali.wordpress.com/2012/05/14/cemiterio-de-navio-toda-verdade-em-um-filme-sobre-alang/; https://www.jazjaz.net/2008/06/hell-on-earth-the-ship-breaking-yards-of-alang-and-chittagong.html; http://www.forbesindia.com/article/work-in-progress/alang-looking-at-a-healthier-future/48151/1; http://www.portosmercados.com.br/adulto-e-trabalhadores-menores-de-idade-arriscam-suas-vidas-na-crescente-industria-de-demolicao-de-navios/.

Mergulhadores, Povo de Bajau, grupo semi-anfíbio

Comentários

17 COMENTÁRIOS

  1. A história do porta aviões São Paulo já é triste por si só. Mas o pior, são as condições envolvendo sua compra junto ao governo da França durante a administração do PT. Esse navio já era uma sucata e pagamos muito caro por ele. Se não o comprássemos, na época, o destino dele já seria o corte. Que ‘mistérios’ rondaram essa negociação. Isso precisa ser discutido. Quem foram os responsáveis de nos enfiar goela a baixo esse lixo.

    • Concordo com você em gênero, número e grau. Apenas uma das várias compras absurdas do desgoverno do PT em pleno ano 2000 quando o presidente ainda era FHC. Uma googlada e aquela mensagem do ZAP que te fez acreditar no que vc está espalhando seria desmentida

  2. Isso já esta mudando muito. Os donos de embarcações já estão exigindo o selo verde dos estaleiros e já existe a CONVENÇÃO INTERNACIONAL DE HONG KONG PARA A RECICLAGEM SEGURA E AMBIENTALMENTE ADEQUADA DE NAVIOS, 2009

  3. João Lara Mesquita você é pródigo em escrever matérias criticando os “outros”. Só uma perguntinha: o Brasil é perfeito e sem defeitos???

    • Ah,bom..então quem tem defeitos está impedido de achar defeito no outros, assim todo mundo fica calado sem reclamar de nada e tudo segue na mesma….

    • O João Lara Mesquita tinha um programa na TV Cultura, chamado “Mar sem Fim”, em que fazia diversas críticas ao descaso com que tratamos o ambiente costeiro, falta de fiscalização, desmatamento e invasões em áreas de proteção ambiental, pesca predatória, desvalorização da nossa história naval, ausência de delimitação de áreas de proteção marítima. Só pra citar “alguns defeitos nossos”.

      Sei que o autor de 2019 não vai voltar para se retratar, mas fica o registro para os novos leitores.

    • que pergunta sem sentido. O Brasil tem muitos defeitos e o Mar sem fim mostrou ja o Brasil e suas mazelas varias vezes. Será que vc formulou bem tua pergunta ?

  4. O que mais nos preocupa é que se usa da ão de obra barata e desqualificada para fazer o serviço “sujo”. Não há qualquer responsabilidade com os trabalhadores e o meio ambiente. Por isso é um negócios tão lucrativo. Infelizmente isso ocorre em várias partes do mundo. Trabalhadores mutilados, mutas vezes mortos, meio ambiente degradado, poluição do solo e das águas. E quem ganha? Os donos desses navios, as empresas que aproveitam dessa situação para ganhar muito dinheiro. Ganham em todas as etapas do processo. E a população que depende desse setor é a que mais sofre. Triste a realidade do nosso mundo. Sendo que tudo poderia ser diferente.

  5. Amigo Goytá, o desmanche não seria uma má ideia, pois o aço retirado vai se transformar em novos navios, poupando recursos naturais das jazidas. No entanto, a uma, a “conta” dos resíduos vai para o oceano, a duas, e mais grave, essa atividade deixa atrás de si uma legião de mortos e mutilados, pela ruinosa condição de trabalho, por um salário aproximado de USD 6 por dia. É uma das mais repugnantes formas de exploração humana. Bastam as imagens para se ter ideia, porém, quem me contou os detalhes foi indiano que mora na Califórnia e atua como broker na compra de venda de sucatas para indústria do aço naval, inclusive aqui no Brasil. Abraço!

  6. João sou seu leitor desde a época de suas grandes jornadas, a lugares mais inóspitos de nossos mares a bordo do Mar Sem Fim.
    Tenho algo para relatar (corroborando com essa reportagem) que será mais uma triste notícia para os amantes dos navios de Nossa Esquadra, e que certamente será abordada nesta sua coluna em breve.
    O Porta Aviões São Paulo NAe A-12 foi descomissionado, e tristemente terá o mesmo destino do Porta Aviões Minas Gerais. Só não sabemos (a essa altura do campeonato), para onde será enviado para o corte. Já não bastaram as fortes imagens do Minas Gerais sendo cortado aos pedaços, depois de anos servindo a Marinha do nosso pais, agora assistiremos esse mesmo filme ? Não seria o caso de transformar o NAe São Paulo em um Navio Aeródromo Museu ? Poderia ser uma alternativa a ir para o corte. O que acha ?

  7. Uma vez viajei em um navio chamado Princess Danae e vi os marinheiros jogando vários sacos de lixo ao mar em águas brasileiras. Denunciei para a Capitania dos Portos, mas, não sei se alguma providencia foi tomada.

  8. Uma vez viajei em um navio chamado Princess Danae e vi os marinheiros jogando vários sacos de lixo ao mar em águas brasileiras. Denuncei para a Capitania dos Portos, mas, não sei se alguma providencia foi tomada.

  9. Alang é mesmo uma cidadezinha difícil de achar no mapa, mas Chittagong acha-se facilmente: é a segunda maior cidade de Bangladesh (depois da capital, Dhaka) e tem mais de 5 milhões de habitantes. É o porto mais movimentado do país (não para desmanches, mas para o comércio de mercadorias) e tem indústrias variadas. Não precisa, nem vive só do desmanche de navios. Isso provavelmente dificulta que as coisas passem a ser bem feitas, porque se o desmanche ficar menos lucrativo, numa cidade grande como Chittagong é fácil para os investidores e donos de estaleiros mudarem de atividade.

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