COP 25, Madri, mais um fracasso da atual administração
O mundo foi para Madri discutir as emissões de gases de efeito estufa (aumentaram 0,6% em 2019). E como diminui-las antes do planeta pegar fogo. Exceção ao Brasil. Ricardo Salles foi para a COP 25 cobrar dos países ricos financiamento para compensar ‘a redução das emissões de gases de efeito estufa alcançada pelo país nos últimos anos’. A busca por recursos é a posição oficial do País. O mesmo Brasil que chocou o mundo em razão do aumento do desmatamento, 29,54% em relação a taxa apurada pelo PRODES 2018 (em outubro aumentou ainda mais, 212%; em novembro, 104%, Inpe).
Mas, na COP 25, o Brasil foi cobrado por ‘matar o Fundo Amazônia’
Por negligência do atual ministro, milhares de dólares do Fundo estão bloqueados. Agência Fapesp: “Tasso Azevedo, coordenador geral do projeto Mapbiomas, voltado a mapear o uso do solo no Brasil deu o troco. Para ele, o Brasil foi à COP para dizer que não tem recursos quando matou o maior instrumento de financiamento do clima, que é o Fundo Amazônia. A opinião foi compartilhada por Thelma Krug. Ela é pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).”
Antecedendo a COP 25, os sustos da atual administração
Não é demais lembrar que um notável cientista foi exonerado por alertar que o desmatamento iria crescer em 2019. Ricardo Galvão fez o alerta depois do discurso de Bolsonaro contra as multas do Ibama. E o afrouxamento delas por parte de Ricardo Salles. Foi demonizado, covardemente. E exonerado em agosto de 2019 (Este ano Galvão foi escolhido pela revista Nature como um dos Nature’s 10). Houve forte repercussão internacional. Não era a primeira, nem a segunda vez, que tal desmanche na imagem do País acontecia. Antes de ser eleito, Bolsonaro prometera transformar o Ministério do Meio Ambiente em apêndice do Ministério da Agricultura. E ameaçou retirar o Brasil do Acordo de Paris. Depois das bravatas, é de estranhar que o Brasil vá para a COP 25, que se recusou a sediar, para ‘pedir financiamento para compensar a redução das emissões de gases’.
Mais lidos
Declínio do berçário da baleia-franca e alerta aos atuais locais de avistagemPirataria moderna, conheça alguns fatos e estatísticasMunicípio de São Sebastião e o crescimento desordenadoFrota de pesca de atum derruba economia de MoçambiqueEmbate com Greta Thunber
Sobre os ataques a Greta, disse O Estado de S. Paulo em editorial: “Ao entrar num embate com a ativista sueca Greta Thunberg, a propósito de índios assassinados, o presidente Jair Bolsonaro mais uma vez se expôs como adversário do ambientalismo, ajudando, por tabela, quem acusa de devastação o agronegócio brasileiro”.
Parece ópera bufa, mas não é.
PUBLICIDADE
Mais de US$ 1,2 bilhão do Fundo Amazônia
A matéria da FAPESP lembra que “um dos fatores que contribuiu para o Brasil receber, entre 2008 e 2018, mais de US$ 1,2 bilhão do Fundo Amazônia foi o fato de ter alcançado nesse período a maior redução das emissões no mundo. E de ter mantido no mesmo patamar desde 2010. Dessa forma, o país pôde chegar às últimas negociações climáticas em uma posição mais privilegiada.”
Perdemos o apoio de Alemanha e Noruega. Além do aumento do desmatamento, os representantes de 200 países da COP 25 sabem que a legislação ambiental brasileira esta sendo desmantelada. Uma das últimas medidas do governo, antes da COP 25, foi a decisão de rever o zoneamento da cana, permitindo o cultivo na Amazônia e Pantanal. E durante o evento, em cujos palcos ecoou o nome de Greta Thunberg, Bolsonaro a chamou de ‘pirralha’.
Leia também
COP29, no Azerbaijão, ‘cheira à gasolina’Caiçaras do Lagamar emitem nota aos Governos de SP e PRLula agora determina quem tem biodiversidade marinha: GuarapariMeta brasileira no Acordo de Paris
O Acordo de Paris foi assinado por 194 países em 2015. Cada um propôs suas próprias metas. Elas entram em vigor em 2020 (Saiba quais as metas dos principais protagonistas). O Brasil se comprometeu a reduzir suas emissões de gás carbônico em 37% em relação a 2005, e em 43% em 2030, em relação ao mesmo ano. Lembrando que no mundo, desmatamento e agropecuária respondem por mais de 20% das emissões de gases de efeito estufa. Por isso, e por nossos muitos concorrentes no agronegócio, os olhos do mundo estão sobre as florestas tropicais (Saiba quais as maiores florestas tropicais do mundo). E a maior de todas, é a Amazônica.
Importante: ao propor suas metas no Acordo de Paris, o Brasil não as condicionou à disponibilidade de recursos, como outros países fizeram. Portanto, o que mesmo Ricardo Salles foi fazer em Madri?
Salles diz na COP 25 que ‘o Brasil está comprometido contra a mudança climática’
O Estado de S. Paulo: ópera bufa ato 2: “O ministro do Meio Ambiente reafirmou na Conferência do Clima, posicionamentos do governo Bolsonaro desde o começo do ano para tentar mostrar que o Brasil é um país comprometido. Ele não mencionou a alta de quase 30% na taxa de desmate na Amazônia. Nem a alta das queimadas em agosto.” Mas o discurso não ficou nisso: “Salles disse que o Brasil preserva 60% da vegetação nativa. E que 80% da Amazônia está intacta – números já foram rebatidos por cientistas. Os números oficiais de desmate da Amazônia de fato apontam para uma perda de 20% da floresta original. Mas boa parte do que restou é alvo de degradação florestal. Hoje não muito bem contabilizada no País e causada pelo corte seletivo ilegal de madeira e por queimadas que deixam a floresta longe de uma característica intacta.”
Aquecimento global
Salles, que é negacionista, fato também sabido no exterior, disse que “ o Brasil está fortemente comprometido com a luta contra as mudanças climáticas. E que as emissões de gases de efeito estufa do Brasil representam menos de 3% das emissões globais. Disse ainda que o Brasil sempre se engajou em iniciativas para proteger o planeta e nosso futuro”. O Estado prossegue: “Salles passou os últimos dias antes da conferência e a primeira semana dela dizendo que queria recursos de países ricos para reduzir a degradação da floresta e cumprir as metas de redução de desmatamento. No discurso em que se dirigiu aos outros países, não adotou o mesmo tom de cobrança. Mas ainda defendeu sua tese.”
Enquanto isso…
Colômbia deve receber US$ 360 milhões até 2025 para o financiamento de projetos de proteção da floresta Amazônica
O Globo: “Sobre o acordo fechado com a Colômbia, o ministro norueguês do Meio Ambiente, Ola Elvestuen, destacou em um comunicado a “ambição e compromisso” do país em reduzir o desmatamento. A Colômbia reduziu em 10% o desmatamento da Amazônia entre 2017 e 2018. Para esse ano a tendência também é de redução. Em nove meses de 2019, os alertas de desmatamento foram 12% menores que no mesmo período do ano anterior.”
COP 25: ruralistas não conseguem reuniões com países europeus
https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br: Ópera bufa, gran finale: “‘Constrangimento’ é o termo mais usado nos bastidores para se referir às surpresas negativas que parlamentares e representantes de associações de produtores do agronegócio receberam durante as conversas na COP 25. Queremos mostrar a verdadeira atuação da agricultura brasileira, disse à Folha o deputado Zé Silva (Solidariedade-MG). Questionado sobre as reuniões com os europeus, o deputado informou que a bancada não conseguiu realizar nenhuma reunião bilateral. Outros representantes do setor confirmaram a informação. E também relataram constrangimento ao saber que o Brasil não tinha um estande oficial no pavilhão da conferência em que os países promovem suas ações e eventos. Segundo um empresário do agronegócio, a imagem do país ‘encolheu’ na COP.”
PUBLICIDADE
Brasil ganha prêmio Fóssil do Ano
O mundo foi à Madri discutir como diminuir suas emissões antes que o planeta seja devastado. Apesar da conferência ter fracassado, Ricardo Salles em nome do Brasil, foi atrás de recursos, mesmo sem ter feito a lição de casa em 2019. A Colômbia, que fez a sua, saiu satisfeita. O Brasil, com a imagem manchada. Ganhou o prêmio Fóssil do Ano, entregue pela ONG Climate Action Network (CAN) desde 1999 para os países que “fazem o ‘melhor’ para bloquear o progresso nas negociações nos últimos dias de conversas”. Como disse O Estado de S. Paulo, em editorial, “A principal ameaça ao agronegócio brasileiro, depois dos desastres naturais, tem sido o governo federal, principal fornecedor de argumentos ao protecionismo europeu.
É insustentável continuar o desmonte do MMA. Corrigir defeitos, é bem-vindo e necessário. Destruir, sem propor nada em troca, não é.
Fontes: https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/12/11/colombia-fecha-acordo-na-cop-25-para-receber-us-360-milhoes-da-alemanha-noruega-e-reino-unido-para-preservacao-da-amazonia.ghtml?fbclid=IwAR2g8wb6PA_2hOh__d6j9AExM61oHyfkIZKxqqIOcmTky-xJJvvchHNU2iA; https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,sem-citar-alta-de-desmate-salles-diz-na-cop-que-brasil-esta-comprometido-contra-mudanca-climatica,70003121158?fbclid=IwAR0lecitFkKQ8BH_wiarRN1DXqVSSxYgaG-gLmlUH4aqXGUzPkSXiUYmqn8; https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2019/12/12/constrangidos-ruralistas-nao-conseguem-reunioes-com-paises-europeus-na-cop-25/?fbclid=IwAR3mrCmctRyRc3f3f0Kc0LSVEvte89xYQAR06ujmb4HUuPFWzdKG4Q1eUF4; http://agencia.fapesp.br/cientistas-analisam-as-perspectivas-da-participacao-brasileira-na-conferencia-do-clima-da-onu/32088/; https://opiniao.estadao.com.br/noticias/notas-e-informacoes,os-dolares-e-a-imagem-do-agro,70003125361.