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Burocracia, tédio. E frio durante resgate do mar sem fim

Burocracia, tédio. E frio durante resgate do mar sem fim

De importante, nestes últimos dias, tivemos a descoberta de como o barco afundou em abril do ano passado.

Tudo pronto pra viagem de volta.
Tudo pronto pra viagem de volta.

Havia algumas possibilidades: a destruição parcial do casco, era uma, depois do Mar Sem Fim ficar aprisionado no gelo por vários dias enquanto a força do vento atingia até 15O quilômetros por hora.

Nunca acreditei nesta possibilidade. E ela acabou descartada antes de virmos para cá, quando os mergulhadores de don Francisco filmaram o naufrágio. As imagens mostraram: o casco estava intacto.

Marcelo Juan Villegas, do Chile, e Oleg, da Russia.
O chefe da estacao chinesa, de laranja, ao lado do chefe uruguaio, de colete.

 

O grupo de ontem em Fildes.

Eu sabia que o barco fora muito bem construído. Sólido, poderia agüentar, como de fato agüentou, aquela pressão.

O mais provável é que a água entrara pelos canos de escapamento. Parte da tubulação, dentro da casa de máquinas, é de material plástico. Com o congelamento a água no interior desta porção se expande, arrebenta os tubos, e provoca a inundação. Esta era minha tese.

Plinio, Alejo, vikings; e “Pato”, nosso amigo, cozinheiro de Fildes.

Mas, ao  secarmos o interior, descobrimos que a tubulação dos escapamentos estava em perfeito estado. Em compensação, o encanamento de dois, dos três banheiros, havia estourado. Foi este o caminho da água.

Bastou tapar os furos de saída dos banheiros para ela parar de entrar.

Desde então o Mar Sem Fim flutua normalmente sempre que a maré sobe. Sua posição é normal, sem pender para qualquer dos lados.

Ele está pronto para o reboque. As janelas frontais foram vedadas com placas de ferro.

As vigias do casco estão intactas, assim como sua proteção feita de placas de aço inoxidável, conhecidas como “portas de combate”, fechadas e travadas, que impedem a água entrar mesmo que o vidro se quebre.

Carne e vinho, esta tarde, no conteiner.
Bis.

 

Infelizmente o mais importante, a vinda do rebocador, é a única coisa que está “encalhada” em Punta Arenas.

Burocracia. Em outras palavras, nossa luta agora é contra este tedioso fenômeno que faz com que certas ações demorem bem mais que o necessário. E o frio. Hoje estava gelado. Um dos dias mais duros desde que chegamos.

De repente abriu sol.

Tudo está pronto há dias. Ma o rebocador não se mexe. Ligo para a companhia responsável e descubro que falta o “ok” da autoridade marítima de Punta Arenas pra ele  navegar até aqui.

Quando isto vai acontecer?

Quando o plano de reboque, já entregue, for analisado e aprovado.

E quando será?

Não se sabe. O responsável está fora da cidade…

Uma tarde gelada e, ao final, colorida.

Caramba! Depois de tudo que passamos, há 35 dias nesta peleja, vamos ter que engolir mais este sapo?!

É duro. Não há o que fazer. Funcionários de don Francisco andam de um lado pro outro cabisbaixos. Alguns dormem. Outros “chutam latas”. E o tempo? Ah, o tempo não passa.

Já esgotei meu estoque de livros. Foram quatro desde o começo da viagem.

Saindo para o aeroporto.

Quando o clima permite ainda vá lá, dá pra dar um volta, distrair. Mas quando chove, neva e venta como hoje, não tem remédio pra amenizar o tédio.

A quebra da monotonia tem sido as festas, como a chinesa dias atrás, ou a despedida do chefe da estação russa, Oleg, ontem de noite.

Mas, e durante o dia?

Esta manhã falei com o Comandante  Villegas. Pedi sua intervenção. Ele prometeu ligar a seus pares, agilizar. Estamos na mão de funcionários públicos…

Agora há pouco entrou na sala por um dos oficiais de Fildes: “ Jô – áo, o comandante te chama”.

Voei ao seu encontro.

“Falei com eles”, disse Marcelo Villegas, “estão analisando o plano.”

E…? Perguntei.

“Não sei. Está na mão deles. É tudo que posso fazer”.

Quero minha casa! Meus filhos ao lado. Um banheiro só para mim – aqui divido um com doze pessoas…

Preciso virar esta página.

Mas…

Tem sempre um “mas” na história.

O nosso é este: ter paciência, esperar.

Vista da torre.

Terminei este texto às 18hs. Estava prestes a passa-lo quando tivemos novidades.

O Presidente do Peru, em visita a base de seu país, ao lado de Ferraz, desembarcou do navio que está ao largo.

Marcelo Villegas foi recebe-lo e o trouxe para um café.

Por um breve momento saímos da letargia. Foi agitação rápida. Cinco minutos depois os peruanos se foram.

Quando a modorrenta rotina parecia voltar, nova e brusca mudança, desta vez climática. O céu abriu. Veio sol. Cores vibrantes pintaram o horizonte.

Marcelo Villegas, sempre simpático, nos convidou para um passeio até o aeroporto.

“A vista da torre é linda”, disse.

Lá fomos nós, curtir o fim de tarde.

A torre por dentro.

Na volta uma boa notícia: às 21horas desta noite o rebocador finalmente deixou Punta Arenas.

Agora é questão de dias. Quatro ou cinco, para virarmos a última página deste capítulo.

Até lá é preciso segurar a ansiedade.

That’s all.

Valeu o passeio.
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