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Bofetada na cara. 27/1/13.

27/1/13

A noite de ontem foi pura poesia. Um fechamento à altura do belo dia que tivemos.
Lua cheia nascendo de um lado, imensa, com uma tonalidade que nunca tinha visto enquanto, do outro, o sol se punha.
Caramba, pra onde olhar? Os dois deram show. Diferentes, misteriosos, parece que brincavam de disputar nossa atenção. O jogo era este, só pode ser. De propósito.
Entre eles estava o Felinto Perry, seus tripulantes, e este escriba privilegiado.
A Antártica é múltipla. Assusta, impõe barreiras e é hostil. Cobra um preço alto de quem a desafia. Mas também pode ser o lugar mais espetacular da Terra. Seu espectro de cores não tem rival. E os contornos dramáticos, exagerados em perfeição, nos transformam em espectadores atônitos, apalermados, sem saber escolher as palavras para descrever a sensação que tivemos.
Plinio, enlouquecido, olhava o horizonte e gritava: “Obrigado meu Deus!” “Obrigado meu Deus!”.
Os dois cinegrafistas, cada um com sua câmera, registravam os opostos e suas particularidades.
Fotografei até ficar gelado. Entrava, esquentava um pouquinho, saía de novo. Uma porção de vezes.
Já hoje a coisa mudou. O dia amanheceu enfezado, com cara de bravo. Cinza. Vento forte. Sensação de navalha na carne ao sair.
Assim é a Antártica. Ela dá as cartas. Manda e desmanda. E você tem que obedecer, e ainda agradecer.
São 13 horas. O imenso Felinto Perry treme ao bater de encontro às ondas. O vento zune na escotilha de minha cabine. Dá medo.
O porto está fechado. A Capitania de Baía Fildes fecha o porto, como se fosse aeroporto, proibindo qualquer atividade náutica sempre que o vento supera os 3O nós.
Não foi possível fazer muita coisa esta manhã. Don Francisco acaba de voltar, ensopado, cansado e resignado. Temos que esperar até o “Senhor clima” –tem que falar com respeito, baixinho, pra ele não se irritar – nos deixar trabalhar.
Se, e quando, isto vai acontecer, só ele sabe.
E não me contou.
Acredito que eu não possa descer em terra hoje. É muito pouco provável que melhore.
Por isto, direto de bordo, com uma internet lerda que dá raiva, mando este texto pra explicar pra você, que torceu por nós, e mandou votos de sucesso, o que está rolando.
Colocar texto nesta situação demora. Mas vai. Fotos nem pensar. Quando “a coisa” melhorar, e eu puder descer, ilustro estas linhas com as fotos que fiz.
Fico por aqui, constrangido. Quieto. Aguardando acabar, que é só o que se pode fazer.
Até mais.

(foto do destaque:inflitradosnomundo.com.br)

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