Atum e consumo responsável: está na hora de você parar de comer

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Atum e consumo responsável: está na hora de você parar de comer

O peixe mais procurado, e valorizado  para fazer sushi, está a um passo da extinção. Com a globalização a comida japonesa difundiu-se ainda mais no mundo ocidental. A conseqüência foi a sobrepesca do  Atum Azul, e de várias outras espécies deste peixe.

A indústria da pesca e sua força

A indústria da pesca é extremamente forte. Apesar dos apelos dos cientistas, não há força no mundo capaz de brecá-la. Hoje, é consenso entre cientistas, mais de 80% dos cardumes desta espécie já se foram. No Pacífico é ainda pior: 95% dos estoques  já eram…O Brasil também pesca o atum, e a atividade igualmente é controversa.

atum, imagem de sushi de atum
Sushi ? Nunca mais.

Ou o consumidor faz sua parte, ou acabam os Atum azuis, e várias outras espécies do peixe

Até mesmo o Japão, o maior consumidor mundial  está preocupado. Pela primeira vez, em 2014, o país aceitou diminuir em 50% a pesca da espécie numa tentativa de salvá-la da extinção. O atum não é o único da família de peixes Scombridae ameaçado. O bonito, e a cavala, também escasseiam nos mares.

Japão vai cortar 50% da pesca de atum

Pesca de atum no mundo

O trailer de um documentário- The end of the line–  mexeu com as estruturas da indústria da pesca mundial ao denunciar o extermínio do atum azul. A prestigiosa revista inglesa The Economist, assim se referiu ao trabalho: “The Inconvenient Truth about the oceans”, fazendo um trocadilho com o nome do documentário de All Gore, ex- vice presidente dos USA. Apesar de todos os alertas, o peixe continua a despertar o apetite mundial. Em 2019,  no primeiro leilão do ano novo no mercado de Tóquio, um atum azul com 278 Kg, foi comprado pela bagatela de US$ 3,1 milhões de dólares pelo dono de uma cadeia de restaurantes. O exemplar foi pescado na costa da província de Aomori, ao norte do Japão. Com mais este lance, foi batido o recorde de preço anterior (US$ 1,16), datado de 2013.

imagem de atum sendo cortado no merca do tókio
O presidente da Kiyomura Co, Kiyoshi Kimura, controlador da rede de restaurantes japonesa Sushi Zanmai, prepara-se para cortar o atum de 278 quilos.

A indecente pesca do Atum Azul

Neste trailer, o foco central é a pesca do atum azul peixe que está à beira da extinção e mesmo assim continua a ser pescado apesar do alerta de cientistas, pesquisadores, e ambientalistas. Por que? Porque há muita corrupção no mundo da pesca mundial como já foi denunciado.

Atum azul, o escolhido para o sushi

Mas o atum azul não teve muita sorte. Foi escolhido pelos japoneses como a melhor carne para fazer sushi. Atualmente o país consome 80% de toda a espécie pescada no planeta.

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Ministros europeus se reúnem anualmente para decidir cota de pesca

O documentário mostra cenas de uma reunião dos ministros da Europa, em Luxemburgo, o EU Fisheries meeting, quando foram decidir pelas cotas anuais. A pesca do atum azul é supostamente controlada através de cotas anuais para cada país, decididas neste encontro.

Quem ganha e quem perde com o extermínio

O que estaria por trás desta insistência? O medo do desemprego, e o interesse de grandes empresas. O filme mostra que a ilha de Malta é o centro da pesca no Mediterrâneo. O produtor informa que em vez de ficar nas 29.5 mil toneladas, a indústria usa aviões para encontrar os cardumes, o que é “proibido” em determinadas épocas do ano, especialmente quando o peixe está na fase de acasalamento, e captura ao redor de 61 mil toneladas/ano.

Mitsubishi quer dominar o mercado

A maior empresa envolvida com o atum é a conhecida Mitsubishi. No Brasil, relacionamos a empresa com automóveis,  mas produzir carros é apenas um dos muitos braços da gigante japonesa. No caso do atum ela não atua na pesca, mas na compra do pescado mundo afora.

O filme diz que a Mitsubishi, que anualmente compra 60% de toda a produção do Atlântico e do Mediterrâneo, quer o dominar o mercado de venda do produto.  Já a revista The Economist sugere que a empresa congela os peixes a menos de 60 graus celsius, esperando vendê-lo por preços astronômicos quando for considerado extinto para a pesca comercial. Parece filme de ficção, mas não é. The Economist é uma das mais respeitadas revistas do mundo.

Atum e mercúrio

Além do mais, The Economist, em outra matéria publicada em 2010, informa que pesquisadores do Instituto Americano de História Natural (ANHM, Sackler Institute for Comparative Genomics e Rutgers University), descobriram que o atum fresco tem mais mercúrio do que atum enlatado. Segundo a publicação,

O estudo analisou o teor de mercúrio em 100 amostras de sushi de atum (atum patudo, atum albacora e espécies de atum rabilho) de 54 restaurantes e 15 supermercados em Nova York, Nova Jersey e Colorado durante 2007-9. Joanna Burger, professora da Universidade de Rutgers, explicou que embora os níveis sejam mais elevados nos peixes predadores de nível superior, alguns peixes que são mais baixos na cadeia alimentar têm níveis elevados. Os níveis de mercúrio em alguns atuns são suficientemente elevados para fornecer um risco para a saúde.

A contaminação por mercúrio é um problema serio que já causou uma tragédia mundial em Minamata, Japão.

Mulheres que querem engravidar não devem comer atum

A reportagem alerta especialmente as mulheres:

As mulheres que estão pensando em engravidar não devem comer sushi de atum

Personalidades deixam de comer o peixe, não pela taxa de mercúrio, mas pelo risco de extinção

Por iniciativa do Príncipe Albert, de Monaco, não há mais atuns azuis nas prateleiras de supermercados do Principado de Monaco, muito menos em menus de restaurantes. Sua Alteza, que é ecologista,  sabe que a única forma de brecar a extinção é a drástica opção dos consumidores. Não há outra forma.

Príncipe Albert no Brasil dá aula ecológica ‘aos bacanas’ …

Na última vez que esteve no Brasil, em 2014, havia na programação um jantar de gala. No dia marcado funcionários do protocolo foram ao local verificar a segurança, os lugares marcados, e o menu. Ao saberem que haveria atum, foram categóricos:

Ou muda-se o menu, ou sua Alteza Real não comparecerá. O Príncipe Albert não se senta numa mesa onde serve-se atum…

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Foi um corre- corre danado, mas mudaram o cardápio.

Sylvia Earle aboliu qualquer alimento vindo do mar

Outra personalidade mundial que aboliu não só os atuns, mas qualquer espécie de alimento vindo do mar, é a cientista, e maior referência mundial nas questão do mar, Sylvia Earle. Ela sabe que a vida marinha está por um fio. Numa decisão quixotesca, quiçá patética, aboliu de sua dieta qualquer organismo marinho. Ela explica os motivos num livro que já recomendamos: o estupendo The World is Blue (O livro foi traduzido e lançado no Brasil).

Assista o trailer de ‘The end of the line’, sobre a sobrepesca.

The End of the Line - The Vulnerable Bluefin Tuna

Fonte: http://www.independent.co.uk/life-style/health-and-families/is-it-time-to-stop-eating-tuna-5541014.html; https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/01/05/atum-de-278-quilos-e-vendido-us-31-milhoes-em-leilao-em-toquio-e-supera-recorde-de-2013-veja-fotos.ghtml.

Copie estes exemplos antes que seja tarde demais

Comentários

20 COMENTÁRIOS

  1. Tenho a impressão que ja passamos do ponto de retorno…acabamos com varias cadeias alimentares que ate mesmo o atum faz parte…super triste mas acho que teremos que trazer os atuns pra laboratorios em terra para tentar recuperar a polução do atum

  2. A matéria não tem relevancia para o mercado nacional. Digo isso porque o Atum Rabilho ou Atum Azul praticamente não existe nas aguas brasileiras. O que se encontra para comer é importado e uma dupla de sushi dessa especia quanto chega aqui vale perto de R$80,00. Fica a dica para que se faça uma matéria ou melhor até uma reportagem para investigar a Máfia que domina a pesca de atum no sul do Brasil, mais precisamente na região do Porto de Rio Grande (RS). Navios pesqueiros Japoneses operam com licenças concedidas a empresas nacionais de ex funcionarios do ministerio da pesca. As embarcações tem capaciades de abater e processar centenas de toneladas, devastando nossos cardumes e levando para serem consumidos no Exterior.

  3. João Lara Mesquita.
    Em referência ´´a Ilha de Malta, eu vi um documentário no qual se mostra a criação do atum azul em grandes cercados colocados no mar e que, após o atum atingir o peso ideal, é que é pescado dessa ” fazenda de criação”.
    Realmente mostram que os peixes, uma vez pescados, são leiloados ainda no navio e enviados ao Japão por via aérea.
    Será que há um erro no documentário que eu vi e naquele que vc. viu ?

    • Não vi, Michael, mas tudo que publiquei no site sobre criação de peixes em cativeiro mostra que o processo está longe de ser sustentável. Além da poluição causada por excessos de antibióticos e outros produtos químicos, normalmente a comida é farinha de peixe. Para cada quilo de farinha, é preciso três quilos de peixes. Logo, a conta não fecha. Pesquise no site que vc verá. É um desastre. abs

      • É preciso ter responsabilidade ao divulgar certas coisas. No Brasil, a Aquicultura não utiliza qualquer tipo de antibiótico. Precisa de licença ambiental para funcionar, toda a água utilizada passa por bacias de decantação para ser devolvida à natureza e segundo a tese de doutorado do dr. Raul Madrid, analista do IBAMA, a água descartada pela carcinicultura é de melhor qualidade que a captada.
        A indústria pesqueira é tão forte no mundo que consegue manter,no Brasil, uma constante campanha contra os que aqui produzem pescado com o objetivo de esmagar a concorrência nacional.
        Sérgio Pinho – engenheiro de pesca

        • Sérgio, vc deve estar brincando comigo. O que vc teria a dizer sobre os dados da ANVISA, de que “28% das substâncias usadas por aqui não são autorizadas”? E quanto aos da Abrasco, que afirma que ‘70% dos alimentos in natura consumidos no País estão “contaminados” por agrotóxicos? E sobre a Embrapa: “aumento no consumo de agrotóxicos de 700% nos últimos 40 anos, enquanto a área agrícola aumentou 78% nesse período?” Todos que criticaram a matéria (agrotóxicos: a população precisa saber) evitaram falar nestes três órgãos, basta ler os comentários. Qual o motivo? Agora, vc dizer que ‘dr. Raul Madrid, analista do IBAMA, a água descartada pela carcinicultura é de melhor qualidade que a captada’é a maior piada de todas! Francamente, Sérgio, sua ignorância é abissal. Eu visitei pelo menos 80% das fazendas de camarão do Nordeste. O mangue extirpado, a contaminação do lençol freático, as doações deste espaço público, os mangues, aos poderosos de plantão que, ao contrário dos fazendeiros, sequer têm que comprar sua área, porque, repito, mangues, estes importantes berçários de vida marinha, são doados aos prefeitos, deputados, senadores e seus amigos. Sim, mais da metade das fazendas de camarões do Nordeste são de políticos! E paro por aqui. Sugiro, entretanto, que vc assista este documentário que fiz sobre a famigerada carcinicultura: https://marsemfim.com.br/costa-brasileira-programa-26-a-carcinicultura-criacao-de-camaroes-em-cativeiro-no-ceara/

  4. resumo da ópera: eu que adoro atum vou é comer mais pq daqui pra frente será cada vez mais caro….

    com crianças morrendo de fome o príncipe não se preocupa, mas com um peixe???!!!!

    • Os animais são sempre importantes, ja os seres humanos nem todos. Voce por exemplo se tivesse morrido de fome na infancia, não estaria agora falando besteiras e dizendo pro principe o que ele deve ou nao fazer!

  5. Os chineses consomem barbatana de tubarão acreditando no poder afrodisíaco da carne! O problema é que a indústria que pesca os tubarões para retirar as barbatanas descarta todo o resto do animal! E, francamente, com 1,5bilhões de habitantes, os chineses precisam de afrodisíacos?

  6. O que não foi dito na reportagem é qual a situação do atum que se come no Brasil, que são peixes de espécies diferente, menores, mas com sabor muito semelhante. Me parece que a lista da Portatia 445/2014 prorrogada para 2018 só inclui o atum azul. Falta a opinião de um especialista brasileiro.

    • Olá Claire, o”atum” pescado e comercializado no Brasil é na verdade o “bonito listrado” (Katsuwonus pelamis) e não o atum azul. Via de regra é pescado com anzol sem fisga, usando-se geralmente como isca juvenis de sardinha. O defeso ( ou proibição da pesca) ocorre de maio a julho. Ainda existem poucas embarcações para pesca com rede e congelamento no país. Est espėcie não encontra-se em extinção. Atenciosamente.

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