Até quando vamos esperar a “água bater na bunda” para mudarmos de comportamento? Já está mais do que na hora de contermos o desperdício de nossa jóia cada vez mais rara, a água.
A seca que atinge o Sudeste há dois anos é histórica, sendo a maior dos últimos 84 anos. Podemos dizer que o agravante é uma massa de ar quente que estacionou na região, mas isso justifica apenas parte do problema. A verdade é que precisamos usar água com consciência, sem desperdícios.
Brasil tem a maior reserva de água doce do planeta. Concentram-se aqui 12% de todos os recursos hídricos globais.
O Brasil é exemplo de descaso na administração de seus recursos hídricos. Em todo o país, desperdiça-se 40% da água captada, que vaza por encanamentos precários, de manutenção quase inexistente.
Em São Paulo, a perda é de 31,2%. Quem nunca viu um hidrante vazando água durante vários dias sem a Sabesp ou qualquer outra empresa responsável tomar alguma providência?
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Água é essencial à vida humana. Sem ela não sobreviveríamos e não há alternativas para sua substituição.
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Atualmente estima-se o valor do atual mercado global de água doce em 425 bilhões de dólares.
De acordo com o Datafolha, na capital paulista, 60% dos moradores ficaram sem água nos últimos trinta dias. No interior, o cenário se agrava. Alguns municípios chegam a multar quem desperdiça água. Em Itu, há protestos de rua, e caminhões-pipa precisam de escolta para não ser atacados. Ao prejudicar a economia e o abastecimento, a seca dá início a perigosos conflitos.
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Porém, a resposta para a crise hídrica parece simples: temos de consumir menos e diminuir drasticamente o desperdício. Mas são atitudes difíceis de serem implantadas, já que dependem de uma mudança radical de costumes.
Nos últimos 60 anos, a população mundial duplicou. No mesmo período, o consumo de água pelas diferentes atividades humanas aumentou em sete vezes, enquanto a quantidade de água existente permaneceu igual ou menor com as mudanças climáticas.
A ONU recomenda um consumo per capito de 100 litros diários. São Paulo, Rio de Janeiro e Vitória apresentam os maiores consumos do Brasil: mais de 220 litros/habitante/dia.
A demanda de água per capita nos Estados Unidos ultrapassa os 500 litros. Enquanto isso, áreas pobres quase não têm acesso ao recurso. Em Moçambique há apenas 4 litros de água limpa por morador.
Para controlar o gasto é necessária uma rápida e urgente mudança de hábito por parte do cidadão. Enquanto pensarmos em nosso conforto pessoal, quem vai padecer por nossas próprias atitudes, ou falta de atitudes, será nós mesmos. E depois não vai adiantar cobrar dos governos políticas públicas que reprendam o desperdício pois essa consciência devemos ter por iniciativa própria e não apenas por pressão governamental.
O brasileiro tem a mania de tomar atitudes apenas quando a “água bate na bunda” ou no caso, quando nem mais sente a água bater…
São Paulo vê secar seu principal reservatório, o da Cantareira, cujo nível está em 3%. Seu primeiro estoque de volume morto deve desaparecer no próximo mês.
A segunda parcela segurará o abastecimento por poucos meses. Enquanto isso, o governo promete entregar obras que aumentarão a captação de água, e já se cogitou importar recursos hídricos de outros estados. Mas são apenas paliativos, resolve o momento, mas não o futuro.