A Preparação

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    Foi meticulosa e longa. Desta vez eu tinha que me redimir da primeira tentativa, infeliz, feita em 2007.

    Naquele ano, logo em seguida a ter adquirido o barco, e sem conhecê-lo profundamente, tentei ir para a Antártica. Foi um erro grosseiro. O resultado? Tive que abortar a viagem. Percebemos vários pequenos problemas que poderiam se tornar terríveis dores de cabeça nas altas latitudes. Nesta região o “bicho” pega (leia-se meteorologia). E as consequências podem ser muito sérias.

    A primeira providência foi reparar os equipamentos que não funcionavam cem por cento.

    Em seguida, a partir de junho de 2008, parti para um longo teste, durante o qual fui conhecendo cada vez mais as características deste trawler.

    O Mar Sem Fim navegou, saiu de Santos, e subiu até São Luís, no Maranhão, onde fundeou em dezembro de 2008. Houve escalas em Vitória, ES, Abrolhos, Porto Seguro, Salvador, Maceió, Recife, Natal, Fortaleza, Camocim, e Luís Correia, no Piauí. Enquanto navegava por aqui, eu estudava as cartas náuticas, guias, roteiros e publicações, das marinhas chilena, e argentina, sobre a viagem que iria fazer.

    E ainda fiz uma pausa na navegação pelo Nordeste, e fui para a Antártica, a bordo do navio polar da Marinha do Brasil, o Ary Rongel. Eu queria conhecer “in loco” o que enfrentaria no futuro.

    Foi ótimo. Conheci alguns locais em que vou navegar com meu barco, fui introduzido aos humores do tempo naquelas paragens, etc. E ainda consegui o apoio da Marinha do Brasil para a viagem que agora iniciamos.

    Mas logo retornei ao Mar Sem Fim, e à costa brasileira. Eu queria estar com o barco cem por cento preparado, e pronto para a Antártica, em primeiro de outubro. Quanto antes melhor, sempre há atrasos…Haveria, assim, tempo de sobra para chegarmos na Península Antártica no verão de 2009/10.

    Para atingir a meta, no início de 2009 começamos a voltar: de São Luís para Fernando de Noronha, de lá para o Atol das Rocas, em seguida Natal, Maceió, Salvador, e Santos novamente.

    O Mar Sem Fim em Fernando de Noronha.

    Um ano depois, em junho de 2009, com quase cinco mil milhas navegadas, atracamos novamente na marina Pier 26, a “casa” do Mar Sem Fim.

    O barco passava brilhantemente pelo teste. Não tivemos um problema sequer, que pudesse ser considerado sério, ou grave. E ficamos conhecendo, Alonso especialmente (imediato de bordo), cada detalhe do novo barco.

    Entre julho e setembro deste ano comecou a preparação final: chamei Pedrão Camargo, um super- marinheiro profissional, para ser o skiper do barco, e novos equipamentos foram instalados. Revisamos motores e geradores. A parte elétrica e hidráulica foi mais uma vez checada, assim como os três sistemas de telefonia ( e computador) satelital (Mini M, Iridium, e Globalstar). Finalmente, colocamos o Mar Sem Fim no seco, para a pintura no casco, enquanto eu fazia um eixo de reserva (já tínhamos duas hélices e um leme para eventual troca).

    Exatamente no dia marcado, primeiro de outubro, para meu orgulho, o Mar Sem Fim estava pronto para partir. Incrível, foi na mosca! Conseguimos aprontar tudo para uma data imaginada quase um ano antes!

    É claro que houve atrasos para o início da viagem. Mas nunca por nossa parte. O que dependia do barco, e tripulação, foi feito a tempo.

    Acontece que uma viagem destas não depende só de nós, mas da TV, dos patrocinadores, dos fornecedores, um sem-número de pessoas e empresas. E sobre elas, não temos nenhum controle.