Fernando de Noronha, aspectos históricos, e atuais

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    Fernando de Noronha, aspectos históricos, e atuais, e regata até Cabedelo

    Chegamos em Fernando de Noronha ontem de tarde, de avião, depois de fazer uma escala em Recife.

    Sexta- feira 23- 09- 2005.

    O Mar Sem Fim nos aguardava desde quarta- feira, dia 21. Nosso veleiro veio de Natal, pilotado pelo Alonso, que mais uma vez teve a companhia de Dedé, o mesmo pescador que o havia ajudado no trajeto de Fortaleza para Natal.  Assim que terminou o trabalho em São Paulo viemos encontrá-lo. A repórter Paulina Chamorro, e o cinegrafista Cardozo estão comigo.

    Pretendemos gravar mais dois programas. Em seguida  Paulina volta para São Paulo levando as fitas e inicia a edição. Eu, Cardozo, Alonso, Dedé, e mais um amigo, Plínio Romeiro, fazemos a regata Fernando de Noronha- Cabedelo, de modo a gravarmos um terceiro programa, ao mesmo tempo em que voltamos para a costa, desta vez para a Paraíba.

    Navegando em volta da ilha principal

    O roteiro de ontem foi navegar em volta de Fernando de Noronha para fazer imagens de todos os ângulos. Demoramos cerca de três horas para percorrer dezoito milhas em torno da ilha principal.

    imagem do veleiro Mar Sem Fm em Fernando de Noronha
    O Mar Sem Fim navegando em Fernando de Noronha

    À primeira vista não há grandes modificações que pudéssemos ver do barco. A primeira vez que vim para cá foi em 1986, quando aconteceu a segunda regata Recife-Fernando de Noronha que, na ocasião, contou com apenas seis barcos: quatro brasileiros e dois sul- africanos, inclusive o Kalahari no qual eu havia me engajado.

    De lá para cá voltei muitas vezes. A única modificação visível é o molhe de pedras para proteger um pequeno cais. O resto permanece mais ou menos como antes.

    A regata Recife-Noronha

    A ilha está agitada. Ela sempre fica assim nesta época do ano em razão da chegada da flotilha da regata Recife-Noronha. São esperados mais de cem barcos com, talvez, algo como 500 a 700 tripulantes.

    Isto, mais os turistas que vêm de avião e navio,   movimenta a economia e os serviços. Quase todo mundo aqui vive em função do turismo. Não há muitas opções de trabalho.

    Amanhã programamos gravações submarinas. Há muito que os telespectadores do Mar Sem Fim pedem isto.

    Primeiros mergulhos da equipe do Mar Sem Fim

    Sábado, 24- 09- 2005.

    Logo cedinho saímos para os primeiros mergulhos. Fomos para a Ponta da Sapata,  na extremidade oeste de Noronha, com uma profundidade  de 25 metros. Felizmente o mar estava calmo e os ventos fracos, o que garantiu um mergulho com água cristalina, com direito até a entrada em cavernas. Em seguida, a equipe fez ainda mais um mergulho pela manhã. Decidi abortar porque senti algumas dores de ouvido.

    Não é bom forçar quando não se consegue fazer a descompressão perfeitamente. Tive uma gripe recente e provavelmente por causa dela não estou em plena forma. Como mergulho é um esporte que exige muito, é bom não exagerar. Preferi ficar a bordo.

    Depois dos mergulhos da tarde, Paulina e Cardozo voltaram para bordo. Comemos aqui mesmo. Em seguida cama. Estão todos pregados.

    Fernando de Noronha e a Vila dos Remédios

    Domingo, 25- 09- 2005.

    Gravamos a vila dos Remédios e alguns prédios históricos. Queremos mostrar nestes programas que Fernando de Noronha não é apenas um “paraíso tropical”. É um lugar onde moram quase três mil pessoas. Um distrito de Pernambuco. A grande diferença é sua exótica e charmosa localização: Oceano Atlântico, aos 032 graus e 24 minutos de longitude Oeste, e 03 graus e 50 minutos de latitude Sul.

    imagem da Vila dos Remédios, Fernando de Noronha
    Vila dos Remédios

    Ilha da Quaresma, um pouco de história

    A ilha já foi chamada de ilha da Quaresma, depois São Lourenço, até que finalmente foi rebatizada com o nome de seu dono (Fernão de Loronha). Um cristão novo que, em 1502, arrendou toda a terra a que chamamos Brasil.

    Pois é, poucos sabem que nossa pátria foi arrendada para um consórcio liderado pelo armador, comerciante e investidor que acabou imortalizado ao ter seu nome batizando um dos mais belos arquipélagos de mundo, também conhecido como Esmeralda do Atlântico.

    Falamos de Fernando de Noronha, oficialmente descoberta em 1503, na segunda viagem de Gonçalo Coelho e Américo Vespúcio ao Brasil.

    ilustração de Américo Vespúcio
    Américo Vespúcio foi um dos muitos famosos que esteve em Noronha, em 1503.

    O primeiro naufrágio que Fernando de Noronha registrou

    Uma navegação difícil, como todas da época, e, nos Espigões, espécie de escolho no extremo leste da ilha, houve o primeiro naufrágio que Noronha registrou. Aconteceu em 10 de Agosto, dia de São Lourenço, por isto o segundo nome da ilha.

    Ali foi a pique a nau de Gonçalo Coelho embora este acidente não tenha causado mortes. A tripulação se salvou e foi transferida para outra das cinco embarcações da frota.

    Américo Vespúcio ficou uma semana em Fernando de Noronha

    Vespúcio, o homem que por um acaso fortuito da história, acabou dando seu nome ao continente descoberto por Colombo, ficou uma semana por aqui. Em uma carta famosa de sua autoria ele diz: “A ilha era totalmente desabitada e desocupada, farta de água fresca e doce, com infinitas árvores e inúmeros pássaros marinhos e terrestres que eram tão dóceis que se deixavam sem medo apanhar com a mão, motivo pelo qual pegamos tantos que com eles abarrotamos uma barca”.

    A primeira viagem de um europeu para Fernando de Noronha

    Foi esta a primeira viagem de um europeu para Noronha. Em seguida começou a devastação. Naquele tempo era assim: tão logo um pedaço de terra era descoberto os portugueses desciam para pegar água, lenha e comida.

    É obvio que no século 16 não poderia mesmo haver muita preocupação quanto ao meio ambiente, o contexto era outro. De qualquer modo pode-se dizer que o desmatamento, no Brasil, começou no minuto seguinte ao da descoberta. Por isto é até surpreendente que nossas matas tenham ainda resistido tanto tempo.

    O período das grandes navegações

    Durante todo o período das grandes navegações foi assim. E já nas viagens seguintes eles faziam muito pior: deixavam em cada nova ilha um número considerável de bodes. Isto mesmo, justamente este animal que come de tudo: raízes, árvores, sementes, pedras, areia, qualquer coisa. Era uma alternativa aos pássaros, servindo como alimento de futuras viagens justamente por que resistem e se proliferam em qualquer condição.

    Até pouco tempo  ainda era possível encontrar os descendentes destes animais em Abrolhos, Noronha e Trindade, por exemplo. Eu mesmo cansei de ver, e de me desesperar (por que deixá-los vivos destruindo o que sobrou da vegetação?), em minhas primeiras navegadas pela costa brasileira.

    Fernando de Noronha quase pelada…

    Fernando de Noronha, que agora é quase “pelada”, tinha até o século 19, uma pujante floresta. Quem nos conta é ninguém menos que Charles Darwin que esteve aqui com o Beagle, em sua famosa viagem que começou em 1832 e durou até 1836.

    Em seu diário ele escreveu ao desembarcar: “ passei um dia delicioso, caminhando pelas florestas”. FitzRoy, o comandante do Beagle arrematou informando “ a lenha catada na ilha pela tripulação estava cheia de centopeias e outros insetos nocivos”. Como se vê, perdurou até o século 19 o hábito de desmatar praticado pelos marinheiros.

    Esmeralda do Atlântico

    Por estes motivos, hoje, apenas em lugares determinados e pequenos resta algo da antiga e exuberante cobertura vegetal que até justificava o apelido de Esmeralda do Atlântico.

    O golpe de misericórdia para a parte da mata que sobrou foi dado depois que a ilha foi transformada em presídio no final do século 19. Muitos anos depois, já no século 20, quando ela se transformou em presídio político, um dos chefes não queria bosques onde os presos poderiam se esconder. Por isto mandou derrubar todas as árvores que sobravam. Foi uma pena.

    Hoje quem vem para cá não as vê mais. Há apenas poucos exemplares, e uma espécie de capim, na verdade uma praga, a jetirana, que praticamente cobriu a ilha toda. E quando chove forte o desbarrancamento é inevitável, com a terra que despenca ameaçando cobrir os recifes de coral que ficam no sopé dos morros, na beira do mar, matando- os por asfixia…

    Imagem de ilhota em Fernando de Noronha
    Na época das chuvas a ilha fica com um tom verde brilhante que lhe valeu o epíteto ‘Esmeralda do Atlântico

    Ilhas, extremamente frágeis

    Ilhas ou arquipélagos são assim: extremamente frágeis, locais que já não têm força para, sozinhos, se regenerar. Depois de muitos anos de mau trato e uma ocupação que não se preocupava com os danos que poderia causar, elas pedem nossa ajuda para conseguirem manter parte de suas características originais.

    Ao menos isto parece que está sendo feito. Uma parte do bosque da região da praia dos Golfinhos está sendo refeito com mudas de mulungus, gameleiras e ipês.

    Perambulando pela Vila

    Hoje andamos um pouco pela vila prestando atenção nos preços dos gêneros vendidos, porque tudo que vem para cá enfrenta uma viagem por mar, e paga um sobrepreço. Noronha é um dos mais caros padrões de vida do Brasil. Qualquer coisa comprada no supermercado tem um preço duas ou três vezes maior que no continente.

    imagem do pronto de Fernando de Noronha
    Os suprimentos da ilha chegando de barco

    Os Fortes de Fernando de Noronha

    Também visitando as ruínas do Forte dos Remédios, imponente construção do século 18, que domina a vista para o mar, numa tentativa dos portugueses de manter a posse da terra que já foi de franceses, holandeses, e reivindicada pelos ingleses.

    Foi triste perceber o estado de abandono. Apesar de cada turista que vem para cá pagar algo como 30 reais de diária, e chegarem quase 500 deles por dia, aparentemente esta verba não tem sido empregada na manutenção do Patrimônio.

    Além do Forte, caindo aos pedaços, pudemos ver as ruínas da antiga cadeia feminina onde Miguel Arraes esteve preso depois de 64. Seu estado é lastimável. Se não fizerem nada em pouco tempo desaba. Felizmente a igreja, do período colonial, estava em bom estado.

    imagem de prédio história em Fernando de Noronha
    Prédio histórico caindo aos pedaços. Foi aqui que Arraes esteve preso

    Amanhã vamos conversar com o administrador da ilha. Quem sabe ele nos explique onde é aplicado este dinheiro, e quais as maiores virtudes e problemas de Fernando de Noronha.

    A baía dos Golfinhos

    Segunda- feira, 26- 09- 2005.

    Hoje mais uma vez acordamos bem cedo, antes de o sol nascer. Fomos para a baía dos Golfinhos acompanhar a vigília dos funcionários do Projeto Golfinho Rotador. Eles passam boa parte do dia observando a entrada e saída de grupos destes animais, formados por cinco, até 1200 indivíduos, que usam esta enseada para descansarem, comerem, copularem.

    O pessoal do Ibama monitora estes grupos diariamente. Eles contam quantos membros fazem parte de cada um, além de perceberem anomalias que podem desgastá-los. Parece ser um trabalho bem feito, por isto marcamos uma entrevista com Fabiana Cava, coordenadora do projeto.

    Reflorestamento em Noronha

    No caminho até lá notamos os esforços da equipe do Ibama na tarefa de reflorestar as áreas desmatadas. A biodiversidade de Noronha sofreu muito com a presença humana desde o século 16.

    imagem da praia dos Leões, Fernando de Noronha
    Praia dos Leões

    As especies exóticas: ratos e Tejus

    Um caso emblemático é o dos ratos que, em algum período dos anos 60, foram introduzidos com a chegada de navios.

    Para acabar com eles um soldado do destacamento sediado na ilha deu a brilhante sugestão de se introduzir lagartos, os Tejus. A ideia era que o Teju seria um bom predador para os ratos.

    Acontece que estes têm hábitos diurnos e, os lagartos, noturnos. Os dois animais não se encontram. O resultado foi uma incrível proliferação dos Tejus que descobriram nos ovos de tartaruga um excelente alimento. Hoje eles são um problema ambiental talvez maior que os ratos.

    De volta ao Mar Sem Fim

    Depois do programa de observação dos golfinhos voltamos para o Mar Sem Fim, fundeado na baía de Santo Antônio, para aguardarmos uma visita do pessoal do Tamar.

    Minutos depois eles vieram a bordo trazendo um imenso animal para o convés de nosso veleiro. Eles pesam e medem a tartaruga, recolhem amostras de seu DNA, e, em seguida, aplicam marcas em seu couro de modo que quando forem pegas novamente, há milhares de milhas de distância, possam saber qual a sua rota de migração.

    Imagem de tartaruga marinha no convés do mar sem fim
    O Tamar esteve a bordo do Mar Sem Fim

    Entrevistas

    Mais uma vez entrevistamos a responsável, Alice Grossman, e assim completamos mais um dia de trabalho. De noite ainda fomos em terra passear e ver como anda o Bar do Cachorro, famoso boteco onde rola o forró todas as noites.

    Mas não tivemos pique para esperar a festa começar. Antes das onze já estávamos de volta, exaustos por mais um dia cansativo, sempre debaixo de muito sol, e de um vento fortíssimo que sopra sem parar.

    É impressionante como cansa passar um dia ao ar livre, sob a ação do sol e do vento. De noite é preciso muita energia para ainda ter gás para sair e dançar. Não era nosso caso.

    Entrevista com o administrador geral de Fernando de Noronha

    Terça- feira, 27- 09- 2005.

    Hoje cedo tínhamos uma entrevista marcada com o administrador geral de Fernando de Noronha, Edrise Aires Fragoso. Noronha, por ser um distrito, não um município de Pernambuco, tem esta figura como sendo o primeiro mandatário.

    Ele é um homem de confiança do governador, por ele é escolhido, e fica no cargo pelo mesmo período. Edrise nos falou do maior problema desta comunidade: a falta d’água.

    Este ano foi fraco de chuvas e o açude da ilha, Xaréu, está vazio. Fomos lá gravar e constatamos: zero de água. O que salva a ilha é o grupo de geradores com capacidade para produzir oito mil litros de água por hora. Como são dois geradores, o volume chega a 16 mil litros/hora, o que é suficiente, respeitado um rodízio, para abastecer os moradores.

    A taxa para entrar em Noronha

    Quem chega a Noronha paga uma taxa de 30 reais, a título de preservação ambiental. Esta taxa, mais o recolhimento de ISS, gerou para o distrito algo como seis a sete milhões de reais no ano passado.

    Perguntei ao senhor Edrise se era com este dinheiro que se pretendia cuidar do Patrimônio Histórico do local, especialmente os fortes, e outros prédios coloniais em estado precário de conservação. Não, não é.

    Imagem de navio de passageiros em Fernando de Noronha
    Noronha recebe turistas demais. A ilha não suporta tanta gente. É preciso cuidado. Turismo desordenado pode ser a ruína do Parque Nacional

    O uso do dinheiro arrecadado

    Este dinheiro é usado para prover recursos para serviços, como a coleta do lixo, por exemplo. E ao menos neste caso temos uma referência: 99% dos domicílios têm coleta, e 59% têm seus esgotos tratados.

    Ufa, nós, que temos feito marcação cerrada nestes quesitos desde o município do Oiapoque, ficamos aliviados em saber que um deles tem índices aceitáveis de percentual de coleta de lixo, ainda que o tratamento de esgoto esteja longe de ser suficiente.

    A população de Fernando de Noronha

    São cerca de 2.300 moradores permanentes, e 800 temporários, grupo formado por profissionais que vêm prestar algum tipo de serviço, além dos turistas. Fora os empregos gerados pela atividade turística, há apenas 180 servidores públicos.

    O resto vive em função dos serviços e postos de trabalho abertos pela visitação pública. O maior limitador para um incremento é a falta de água. Segundo o administrador, há pressão para Noronha receber ainda mais turistas, e aumentar sua população para até dez mil habitantes quando poderia se tornar um município.

    Mas, felizmente, o governo do Estado não abre as portas para mais gente porque não há infraestrutura para tanto.

    Fila de moradores para conseguirem uma casa

    Fora a questão da água Edrise explicou que há uma fila constante de moradores para terem casas na ilha. Os terrenos pertencem a União e são “emprestados” para quem os utiliza, ainda assim falta espaço para abrigar todos.

    Por isto há uma lista com 180 nomes de pessoas que já estão por aqui e que, por um motivo ou outro, ainda não têm a moradia que desejam. Sobre os recursos para o Patrimônio, Edrise informa que entrou com um projeto no Prodetur para conseguir financiamentos.

    Ele nos disse que o turismo cresce de ano para ano, especialmente o internacional. E dá cifras: em 2002 Noronha teve 5% de turistas estrangeiros. Em 2003 eles foram 15% ! Já em Agosto deste ano, 47% dos turistas eram de fora. Como se vê os gringos parece que já conhecem, e se encantaram, com Fernando de Noronha.

    Mais gravações de praias ainda não visitadas

    Voltamos tarde para o Mar Sem Fim. Descemos em terra apenas para um banho no chuveiro que há no porto e uma macarronada no restaurante que fica próximo. Em seguida voltamos para bordo.

    Paulina foi pra cabine. Cardozo ronca lá fora. Eu encerro por aqui meu diário de hoje.

    Mais um dia de entrevistas…

    Quarta- feira, 28- 09- 2005.

    Mais um dia de entrevistas com as autoridades, especialmente o administrador Edrise, e o chefe do Parque Nacional, Marco Aurélio da Silva.

    Fernando de Noronha foi transformada em Parque Nacional Marinho em 1988. Sua área total é de 112,7 quilômetros quadrados, sendo que 85% ficam em área marinha. Estamos a poucas milhas do equador, por isto o fuso horário é de mais uma hora em relação à Brasília. E, desde a Constituição de 1988, voltou a fazer parte do Estado de Pernambuco.

    A história do arquipélago gira em torno de guerras

    No século 18 os portugueses ergueram dez fortes para sua proteção. Entre estes o único que está de pé é o Forte Nossa Senhora dos Remédios. Mais recentemente, durante o conflito mundial de 1939 até 1945, Fernando de Noronha recebeu grande contingente do exército sendo na ocasião transformada em Território Federal.

    A ilha principal abrigou nesta época um posto avançado, na verdade uma base dos americanos que assim podiam monitorar o Atlântico Sul. Até hoje existem canhões deste tempo espalhados pelos cantos, assim como alguns antigos alojamentos, espécies de barracões feitos de placas de alumínio, em formato oval, daqueles que se vê nos filmes sobre a guerra no Pacífico.

    Aves migratórias

    O arquipélago é ponto de parada de aves migratórias que fazem a rota norte- sul e também habitat de fragatas, Alcatrazes, Trinta-réis. E ainda tem outras, endêmicas, entre elas o sebito e a cucuruta.

    Riqueza submarina

    Mas a maior riqueza está debaixo d’água. Corais e peixes de diversos tipos, tartarugas marinhas, tubarões, golfinhos, e por vezes a visita de baleias jubarte.

    Tudo isto no entorno de vulcões submarinos que explodiram há 12 milhões de anos criando em seguida um arquipélago com 21 ilhas. Ao redor dele, um pouco afastado, o fundo do oceano está a quatro mil metros.

    imagem de praia em Fernando de Noronha
    A beleza de Noronha

    A água cristalina em Fernando de Noronha, entenda por quê

    A cor da água denuncia a profundidade atingindo um tom entre o azul e o roxo, límpido e cristalino. E estas cores mais o bege, e várias tonalidades claras das praias em contraste com o negro dos costões e o verde da vegetação, fazem Noronha parecer uma paleta de pintor.

    Uma beleza natural impressionante. Mas apesar disto é bom não esquecer a fragilidade do espaço insular.

    Um pequeno pedaço de terra brigando para sobreviver entre elementos fortíssimos: o vento que sopra despudoradamente, o sol e o calor que fustigam calcinando a terra porosa, a falta de água na maior parte do ano.

    Os danos da ocupação

    Não é fácil ocupar um espaço assim sem causar algum dano. Felizmente o resultado me parece, no mínimo, razoável. De uma forma ou de outra, muitos ilhéus estão empregados.

    O turismo gira a roda da economia com energia, as pousadas não desfiguram a paisagem porque estão no interior da ilha. Assim, de todos os pontos turísticos que visitamos nesta viagem, como a costa do Maranhão, do Piauí, do Ceará, e do Rio Grande do Norte, os dois lugares que saltaram à vista porque fizeram do turismo o motor da economia sem desfigurar totalmente o sítio onde estão inseridos foram o Delta do Parnaíba, e Fernando de Noronha.

    Um precisa fazer a ocupação crescer a ponto de ser autossustentável, caso do Delta do Parnaíba. Já o outro tem que continuar a regular a entrada de visitantes, rigorosamente, para não permitir que o acúmulo deles destrua o próprio objeto do desejo: a deslumbrante paisagem. Ambos são desafios interessantes e possíveis. E seu eventual sucesso pode servir de exemplo para as outras partes da zona costeira do país ainda não ocupadas.

    Prêmios da Recife- Noronha

    Quinta- feira, 29- 09- 2005.

    Ontem de noite houve a festa de entrega de prêmios da Recife- Noronha. Mais uma vez o catamarã Adrenalina Pura foi o fita azul (barco que cruza em primeiro lugar a linha de chegada independente da classe). Como sempre a festa foi até de madrugada, e este ano teve até a presença do governador do Estado de Pernambuco.

    Aproveitamos o dia para abastecer o Mar Sem Fim para a regata de amanhã. Pegamos água e gelo.

    O Cisne Branco

    De manhã ainda fizemos uma visita ao navio escola da Marinha do Brasil, Cisne Branco, que sempre participa da prova. Ele é cópia de um clipper (navio mercante rápido e com boa capacidade de carga que surgiu na primeira metade do século 19), de 76 metros, mil toneladas de deslocamento, e que leva 56 tripulantes.

    Uma beleza de barco onde é aprimorada a técnica dos marinheiros brasileiros. O navio foi construído na Holanda e incorporado à Marinha no ano de 2000, como parte das comemorações dos 500 anos da descoberta.

    O Navio escola da Marinha do Brasil

    Desde então tem servido como navio escola e de representação do país no exterior. São três mastros: o de vante, o principal ou grande, com 46 metros de altura, e o terceiro, de popa. Todos eles com inúmeras vergas transversais por onde se abrem as velas redondas do navio.

    Na frente um enorme gurupés, espécie de mastro colocado no bico de proa que avança para vante, de onde saem mais três ou quatro velas triangulares, as bujas.

    Fomos recebidos pelo comandante Vinícius, extremamente simpático, que nos mostrou o barco e explicou cada detalhe. No final ele nos deu uma bela entrevista, reforçando a necessidade dos marinheiros profissionais de hoje, que vão comandar máquinas extremamente modernas, sejam adestrados em navios a vela iguais aos que navegavam no século 19.

    Na opinião do comandante não inventaram nada melhor que um barco a vela para treinar um bom marinheiro.

    Largada da regata Noronha- Cabedelo

    Sexta- feira, 30- 09- 2005.

    Hoje, ao meio dia e vinte minutos, foi dada a largada para a regata Noronha- Cabedelo, para a qual nos inscrevemos. Participam cerca de 50 veleiros dos mais de cem que vieram para a Refeno. Barcos de todos os tipos: grandes e pequenos, monocascos e catamarãs, modernos e mais antigos, enfim, tem de tudo até dois belos veleiros franceses e um espanhol.

    Vento forte e quebra de mastro

    Logo no começo, com três horas de prova, um barco teve seu mastro quebrado e retornou no motor para Fernando de Noronha. Fiquei com pena do comandante e da tripulação.

    Este é o tipo do acidente chato que ninguém quer que aconteça consigo. O vento foi sempre contínuo, na casa dos 22 nós, com rajadas de até 26, 27 nós. Nas primeiras horas o mar estava grosso, com ondas de seus três metros. Foi este choque de forças, e a fatiga de material, que derrubaram o mastro do concorrente.

    A largada do Mar Sem Fim

    Nossa largada não foi boa nem ruim. Estávamos mais para dentro da linha, orçando mais o vento. Com meio dia de prova já tínhamos ultrapassado uns 20 barcos. De noite o vento apertou para 26, 27 nós, com rajadas de 30 nós.

    A maioria da flotilha arribou, “desceu”, abriu mais o ângulo da proa em relação ao vento, mas nós fizemos o contrário: diminuímos o que foi possível o ângulo do Mar Sem Fim. Em linguagem náutica, orçamos.

    O resultado, esta manhã (me refiro ao dia primeiro de Outubro), é que ganhamos muitas outras posições. Chegamos a contar mais de 30 barcos atrás de nós. Mas durante o dia quase não vimos ninguém, a flotilha se dispersou.

    De qualquer modo a regata é apenas um pretexto para voltarmos ao continente e podermos continuar nossa reportagem que procura, sobretudo, mapear como está sendo feita a ocupação do litoral brasileiro.

    Cruzando a linha de chegada

    Sábado, 02- 10- 2005.

    Cruzamos a linha de chegada quando o relógio marcava meia noite e vinte minutos. Estávamos já, dentro do porto de Cabedelo, em pleno rio Paraíba, e no contravento, o que não é comum para uma regata. Foi um grande prazer ter participado.

    Foi uma forma bem mais divertida de voltarmos ao continente. Nesta etapa ainda tivemos a companhia de dois amigos, Plínio, e Dedé Delfino, um faz tudo a bordo, cearense, que desde a etapa Fortaleza- Natal vem ajudando o Alonso nas travessias.

    Com cinco pessoas a bordo, sendo duas delas verdadeiros craques, Alonso e Plínio, a navegada fica muito mais tranqüila. Fizemos um excelente passeio e nos divertimos como há muito não acontecia.

    Mas agora voltamos à rotina de sempre: São Paulo, para editarmos o material. E em seguida faremos nova viagem. Vamos conhecer a costa da Paraíba em nossa próxima etapa.